A morte do vice-presidente do Correio Braziliense, Evaristo de Oliveira, na última quarta-feira (22/11), foi recebida com pesar pelos moradores de Luziânia, cidade do Entorno onde ele nasceu. Parentes próximos e amigos de infância destacaram a grandeza da personalidade do executivo, que terá o corpo velado neste sábado (25), a partir das 8h, na capela 10 do cemitério Campo da Esperança, na Asa Sul. O cortejo para a Ala dos Pioneiros sairá às 12h30, com o sepultamento ocorrendo às 13h.
A prima Zulca de Jesus Soares Botelho, de 72 anos, lembrou da última visita que Evaristo fez a Luziânia. ;Foi em 7 de setembro passado, em um almoço de família. Fui para a cozinha fazer uma galinha caipira que ele adorava;, confidencia.
A conversa da tarde, segundo a prima, foi saboreada com uma marmelada de sobremesa. ;Ele gostava de dizer que tinha uma saúde de ferro, mas nesse almoço queixou-se de queimação no peito. Até comentou com todos que pensava que fosse refluxo. Por isso, estava fazendo exames para averiguar aquela complicação;.
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Para Zulca, a imagem mais forte de Evaristo é de um homem calmo, com tranquilidade e equilíbrio para resolver todas as questões. ;Ele não se exaltava com nada;, observou.
Ela também contou sobre o período em que Evaristo aprendeu o ofício de alfaiate. ;Isso aconteceu por conta do meu namorado à época, hoje marido, que era alfaiate e morou uns tempos na casa da família de Evaristo em Luziânia;, explica.
Caio Porto Botelho Filho, de 78, marido de Zulca, afirmou que Evaristo aprendeu rápido o ofício de costurar. Segundo Botelho, tudo era muito difícil àquela época. ;Tínhamos que ter uma profissão para poder vencer na vida. E ele tirou de letra essa tarefa e se tornou um exímio alfaiate. Gostava de transformar cortes de tecidos em calças e camisas;, diz.
Caio lembra com orgulho ter feito o terno do casamento de Evaristo. ;Ele sempre foi um homem elegante. Por isso, gostava de roupas com caimento perfeito;, esclarece o alfaiate que já vestiu Juscelino Kubitschek.
O primeiro filho do casal Caio e Zulca, Clayton Soares Botelho, de 53 anos, tornou-se afilhado de Evaristo. ;Ao trabalhar 12 anos com ele no Correio Braziliense, pude aprender com o seu profissionalismo. Uma pessoa com equilíbrio admirável somado a uma incrível competência no trabalho;, observa Clayton.
A professora aposentada Elme Esteves de Azevedo Roriz, de 70 anos, ainda reside próximo à casa onde a família de Evaristo de Oliveira morou, na rua José de Melo, número 584. A casa até hoje conserva as mesmas características do passado, com portas e janelas em madeira de aroeira.
Recordações
Evaristo morou lá dos 6 aos 19 anos. ;Fomos vizinhos e nos tornamos amigos. Também estudamos juntos na Escola Estadual Epaminondas Roriz. Ele era peralta na sala de aula;, afirma Elme, que ainda se recorda do tempo em que todas as crianças jogavam queimada. ;E quando chovia, a brincadeira era fazer uma represa com pneus para provocar uma enxurrada.;
Em toda a sua trajetória, Evaristo de Oliveira cultivou a amizade e se mostrou sempre íntegro aos seus deveres. ;O Brasil perde um grande homem que passou a vida acreditando no trabalho;, afirmou o conselheiro do Tribunal de Contas dos Municípios de Goiás, Valcenor Braz de Queiroz, de 63 anos.
Para o tio Milton Salomão, de 80 anos, trata-se de um grande homem que engrandece a todos os cidadãos de Luziânia, ;cujo projeto de vida incluía não só profunda dedicação às tarefas do trabalho, como também à vida familiar, espelhada em atitudes simples, como suas visitas que fazia aos parentes em sua cidade natal.;
Preocupação com a comunidade
A chegada de Evaristo de Oliveira ao Distrito Federal ocorreu em 1965, em uma Taguatinga muito diferente da cidade que hoje serve de moradia para mais de 200 mil pessoas. O cenário da rua QNB 5, onde Evaristo financiou um lote pelo Sistema Financeiro da Habitação, era tomado por poeira, em um loteamento onde poucas casas estavam erguidas. Na região fez amigos e era conhecido pela vizinhança como uma ponte com o governo, os ajudando a resolver os problemas urbanos da quadra.
Cinco décadas depois, o loteamento se tornou uma rua cheia de sobrados de luxo. Uma das poucas casas que não possuem dois andares é justamente a que Evaristo viveu por cerca de 20 anos. Hoje, o lote abriga duas residências que são alugadas para três famílias. Pregrado no portão pintado com uma tinta branca desgastada com o tempo está uma placa anunciando que uma das moradoras do local trabalha como costureira e também vende dindin.
Massaharu Sujuiura, de 76 anos, em princípio, teve dificuldades de lembrar de Evaristo, mas, ao ver uma foto dele na capa da edição do Correio de ontem, o reconheceu e lamentou a morte do contemporâneo. ;Ele ajudava todo mundo, levava nossas reclamações até a administração. Até depois mesmo de sair daqui. Manteve uma relação muito boa com todo mundo aqui;.
Chuvas
Massaharu relembra que, na época, por causa das chuvas constantes, a lama tomava conta do lcal. ;Muitos carros atolavam nos buracos daqui, e ele ficava bravo porque o governo não fazia nada para resolver isso;, conta. O reencontro de Massaharu e Evaristo ocorreu quase duas décadas depois que o vice-presidente do Correio deixou a QNB 5. Foi durante o Miss Distrito Federal.
;Eu trabalhava na produção das concorrentes, e como funcionário do Diários Associados, que tinha lugar garantido na cobertura e nos bastidores do evento, o Evaristo apareceu por lá um dia e nos reencontramos. Assim como quando éramos vizinhos, ele foi muito simpático e perguntou como estavam as coisas na nossa rua, que foi o primeiro lar dele aqui no DF;.