Renato Souza, Deborah Fortuna
postado em 25/11/2017 08:00
Familiares e amigos se despedem hoje de Evaristo de Oliveira, em cerimônia que terá início às 8h, no Cemitério Campo da Esperança, na Asa Sul. O enterro ocorrerá às 13h. O local do adeus, a Ala dos pioneiros, é uma forma de homenagear o homem que, por 72 anos, teve a própria história de vida entrelaçada com a cidade criada por Juscelino Kubitschek.
Nesse período de utopias e esperanças, Evaristo deu, ao lado do Correio, os primeiros passos rumo à modernização tecnológica do jornal. Ao longo da carreira, integrou a direção do maior jornal da capital federal e viu a cidade crescer como nenhum urbanista poderia imaginar.
Em 44 anos de amizade, o jornalista Raul de Assis, 71, dividiu momentos especiais ao lado de Evaristo. Durante 25 anos, Assis integrou a redação do Correio Braziliense e acompanhou a trajetória profissional do amigo, lado a lado. Mais do que colegas de trabalho, a amizade ultrapassou a pesada rotina do jornal. Tornaram-se amigos pessoais. Os dois ; ao lado de suas respectivas famílias ; foram companheiros de viagem. Ao longo de quatro décadas, eles conheceram dezenas de cidades brasileiras e rodaram o mundo, de Lisboa a Istambul. ;Organizado em tudo o que fazia, em todas as viagens, era o Evaristo quem se encarregava de achar qualquer coisa no mapa ; seja uma rua, uma estação de metrô, um restaurante, um monumento importante e por aí vai. E ele se concentrava no mapa como se estivesse focado numa planilha financeira da empresa que dirigia;, destaca Assis.
No Correio, Raul viu o jornal se reinventar junto à sociedade e acompanhar a evolução tecnológica. ;Quando cheguei à redação era tudo manual. Nem mesmo telefones eram acessíveis. Mas Evaristo se preocupava em sempre estar à frente, acompanhando as mudanças. A chegada do fax foi um mudança radical. Em seguida veio a informatização e os primeiros computadores mudaram a rotina de todos nós, graças a esforços dele;, completa Raul, destacando as ações do jornal, hoje, em plataformas digitais, sem perder o foco na credibilidade do jornal impresso.
Desenvolvimento
Quando Evaristo entrou na empresa, em 1965, Brasília ainda se descobria. Formava a própria gente e via nascer as primeiras regiões administrativas. Com isso, atraía pessoas do Brasil e do mundo, que ansiavam por conhecer a cidade que deveria levar 50 anos para ser construída, mas se levantou em apenas cinco. De datilógrafo a vice-presidente do Correio, ele viu a cidade chegar aos 3 milhões de habitantes e presenciou o desenvolvimento de regiões como Taguatinga, Ceilândia e Samambaia.
[SAIBAMAIS]Tendo gentileza, educação e cordialidade como características, ele levou para a vida amigos que fez no colegial, no Centro de Ensino Médio Ave Branca (Cemab), em Taguatinga, assim como durante sua graduação no Centro Universitário de Brasília (UniCeub), e na longa passagem pelos Diários Associados.
Na empresa, cada passo de Evaristo é lembrado, assim como a história de sucesso que inspirou colegas. O superintendente de administração e logística do Correio, Possidônio Meireles, 70 anos, lembra da dedicação de Lorde. ;Ele passava de 8 a 10 horas trabalhando. Eu me lembro que ele sofreu um infarto, e teve que ficar em casa de repouso. Acabou por desenvolver uma crise de ansiedade e, quando foi ao médico, descobriu que era por conta de estar longe do trabalho. Ele era um gestor que tratava a todos com educação, tanto que as pessoas se esforçavam para atender seus pedidos. Nunca o vi irritado dentro da empresa;, afirma.
Competência
O apelido de Lorde representava bem a personalidade de Evaristo, admirada por todos com quem ele convivia. O ex-diretor cultural da Fundação Assis Chateubriand Márcio Cotrim, 77, destaca que a morte do amigo é uma grande perda para a cidade. ;Ele deixou uma lembrança inesquecível. Que foi a conjugação de dois fatores incomuns, a doçura e a competência. Ele foi um mestre nisso tudo. Quem perde com isso é a cidade de Brasília. Recordo-me dos 25 saraus que fizemos e que marcaram a história da cidade;, ressalta.
Evaristo não foi apenas parte da história da empresa, como também da cidade como um todo. Cursou contabilidade no UniCeub e deixou a marca como uma das primeiras turmas da unidade de ensino. O atual reitor, Getúlio Lopes, o conheceu no campo profissional e elogia o trabalho como ativista no campo da modernização do Correio. ;Ele sempre estava em busca dessa nova era. Levou o Correio para a era a digital;, afirmou. Além disso, o reitor o considera uma pessoa inteligente e agradável. ;Ele foi muito ativo. Tivemos muitos momentos bons. Às vezes, encontrava com ele na padaria. Sempre batíamos um papo. Ele é um lorde mesmo;, concluiu.

Temer lamenta
O presidente da República, Michel Temer, enviou nota lamentando a morte do executivo. ;Manifesto os meus mais sinceros sentimentos pela dolorosa perda do nobre Evaristo de Oliveira, ao passo que solicito a extensão destas condolências à família Correio Braziliense;, disse.
O que eles disseram
Joaquim Domingos Roriz (ex-governador do DF)
;Evaristo, assim como eu, saiu de Luziânia e veio para Brasília, cidade que amou e trabalhou muito por ela. Que Deus conforte a todos os seus familiares e amigos e que cada brasiliense se lembre sempre de Evaristo com orgulho e como espelho de honradez e dedicação à nossa capital;
Desembargador federal Souza Prudente (presidente da 3; Seção do TRF/1; Região)
;Nossos sentidos pêsames a toda a família do Correio Braziliense, pela perda irreparável de seu vice-presidente, Evaristo de Oliveira, que continuará conduzindo os destinos dessa fonte respeitável de comunicação social, com as luzes do nosso Criador, que decidiu convidá-lo para seu ambiente de paz e de felicidade eterna;
José Natal (secretário de Governo da Presidência da República)
;Tive a honra e um privilégio de trabalhar e conviver com o nosso saudoso Evaristo durante quase 15 anos em que trabalhei com orgulho no Correio. Recebi com imensa dor e tristeza a notícia de sua morte. Um homem correto, um ser humano gentil, carinhoso, afetivo e um profissional exemplar;
Ari Cunha Filho (radialista)
;O Evaristo viveu a vida com absoluta ternura. Atencioso com os que o cercavam, ele sempre tinha uma opinião de estímulo e uma palavra de amigo. No trabalho e na convivência com sua família era impecável. Criou os filhos para o mundo, com a generosidade de sempre. O Correio Braziliense, para ele, era como uma religião. A missão profissional dele era gigantesca. Cuidava de todas as empresas do grupo e genialmente, conseguia mantê-las num altíssimo patamar. O Evaristo era a ;inteligência; por trás de cada projeto do grupo ;