Cidades

Um garoto que amava os números

Ana Dubeux
postado em 26/11/2017 09:03


Um jornal não se faz apenas com letras. São muitos os números dessa operação complexa. Era preciso alguém que os amasse tanto quanto amava as palavras. Um jornal não se faz apenas com sonhadores, idealizadores, contadores de histórias, investigadores dos fatos. Era preciso alguém para azeitar a máquina, controlar gastos, analisar planilhas, administrar. Evaristo de Oliveira, vice-presidente executivo do Correio, que nos deixou na última quarta-feira, aos 72 anos, dedicou uma vida aos bastidores da notícia, mais precisamente 52 anos. Este jornal era a sua segunda casa ; talvez a primeira se contarmos a quantidade de horas dedicadas ao ofício.

Chegou por aqui, aos 19 anos, vindo de Luziânia (GO), onde nasceu. Começou como datilógrafo no Correio, em 1965. Trabalhava de dia e estudava contabilidade à noite. Formou-se, mergulhou tão profundamente no trabalho que rapidamente foi reconhecido. Desde 1992, integrava o grupo de condôminos dos Diários Associados. Cresceu por mérito. E também por outros atributos que os companheiros de longa data não cansam de sublinhar: lealdade, fidelidade ao negócio, compromisso.

Tive com ele longas conversas. Adorava contar sobre o tempo de pioneirismo. Mostrava as fotos da época e os jornais antigos com o orgulho de quem fez parte. Foi testemunha e partícipe da história de crescimento da cidade e do jornal. E era absolutamente visível a sua satisfação pessoal por ter vivido e contribuído com toda essa trajetória. Também pude vivenciar, na convivência com ele, a característica que melhor lhe apresentava ao mundo: a gentileza.

Finíssimo no trato, elegante no figurino e no palavreado, cortês ao extremo com as pessoas, sensível às questões sociais, dedicado aos amigos. Assim era em qualquer situação, até nos momentos de crise. Não foi à toa que ganhou o apelido de lorde. Perfeito para quem não levantava a voz, não dizia palavrões, enaltecia os amigos e a família formada com a mulher, Regina. Com ela, dividia a vida há 40 anos. Deixou com saudades também dois filhos e quatro netos.

Havia algo mais em Evaristo que me encantava, inspirava, admirava: o respeito pela marca Correio. Comportava-se como um guardião, o que me provocava extrema alegria e entusiasmo. Posso dizer que, de certa forma, sou herdeira dele.

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