Cidades

Apesar da crise, presidente do Sindivarejista espera melhora no comércio

Depois de acompanhar o fechamento de 20 mil lojas, empresário vê luz no fim do túnel apontando que 2018 será um ano melhor

José Carlos Vieira, Flávia Maia
postado em 30/11/2017 06:00


Edson de Castro está à frente do Sindicato do Comércio Varejista do Distrito Federal há quase quatro anos ; o mandato encerra em abril do próximo ano. Neste período, Edson vem travando grandes lutas para defender o comércio, em especial, o de rua ; que é o que mais sofre com a crise política e financeira que o Brasil e o DF atravessam. Além de conviver com outros dilemas: como a falta de segurança e de estacionamento. Edson representa 50 mil associados e viu, desde o início da sua gestão, o forte baque que o varejo ; um dos setores mais tradicionais da economia local ; vem sofrendo. Entre as principais bandeiras estão a segurança pública, a zona azul, a diminuição dos altos preços de aluguéis em lojas e a busca pela concorrência leal.

Edson é empresário no DF há 30 anos e sempre atuou no ramo de roupas infantis. Era dono do Lojão do Bebê, rede vendida há seis anos. Agora, é proprietário da Mania de Kilo, que vende roupas infantis para 150 lojas em todo o país. Em entrevista ao Correio, Edson diz que a Black Friday pegou no Brasil, mas que a data precisa mudar, porque vem atrapalhando o Natal. Edson propõe também o aumento do pagamento do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) para as lojas vazias com o intuito de abaixar os aluguéis e evitar que áreas comerciais enfraqueçam, como vem ocorrendo com a W3 Sul.


BLACK FRIDAY
A Black Friday pegou, mas pegou errado. Hoje a data mata o Natal. A maioria das pessoas já foram ao comércio no fim de novembro, aproveitaram a liquidação e para quê? Para comprar os presentes de Natal. Ou seja, elas gastaram a primeira parcela do 13;. A Black Friday prejudica o comércio exatamente no Natal, uma data importante, mas que vem enfraquecendo desde o ano passado porque a Black Friday faz mais sucesso.

ADAPTAÇÃO NA DATA
Nós estamos tentando mudar para setembro ; que é um mês que não tem nada. Se conseguirmos envolver Rio, São Paulo, Belo Horizonte, vai ser bom para o comércio. Fica a Black Friday em setembro, outubro mês da criança e os meses de novembro e dezembro, para o Natal. A Black Friday é ligada a uma data americana, precisamos adaptar às nossas necessidades.

TEMPORÁRIOS
Em 2014, nós contratávamos 6 mil, 7 mil temporários. Em 2016, geramos só 800 empregos temporários e agora estamos com a tendência de chegar a 2 mil empregos temporários justamente por causa da mudança da lei, com os intermitentes. O trabalho intermitente já existia, mas não pagava os direitos e os impostos. O cara contratava, jogava no mercado e ninguém nem sabia o que estava acontecendo.

NATAL À VISTA
A gente acredita que vai ter crescimento. Seria melhor se não tivesse tido a Black Friday tão próxima.

CRISE ECONÔMICA
Em 2014, houve a quebradeira. Chegamos a ter 20 mil lojas fechadas no Distrito Federal. O comércio começou de mal a pior em termos de assalto. Os preços de aluguéis subiram. As demissões cresceram. Hoje, nós estamos com 17 mil lojas fechadas, diminuiu, mas ainda é um número alto. Tem também o fato de que muita gente pegou o dinheiro da demissão e abriu comércio. Muitas dessas pessoas quebraram. O mercado hoje não é mais para aventureiros, é para profissionais.

2018 PARA O COMÉRCIO
A tendência do país é crescer. Tem uma luz no fim do túnel apontando que vai melhorar, mas não acreditamos que seja neste governo. 2018 ainda tem duas coisas ruins para o segmento: Copa do Mundo e eleições. Além disso, serão muitos feriados. São 18 feriados mais a Copa, dos quais 12 podem ser emendados porque caem na terça ou na sexta-feira.

Depois de acompanhar o fechamento de 20 mil lojas, empresário vê luz no fim do túnel apontando que 2018 será um ano melhor

EMPREGOS
Nossa luta é pela geração de empregos, são essas ocupações que fortalecem o comércio. São 600 mil funcionários públicos ; contando aposentados e na ativa ; se você multiplicar por três, considerando a família de cada servidor, dá 1,8 milhão de pessoas, que dependem do governo federal e distrital. Nós temos 1,2 milhão que vivem de outras atividades como o comércio. A maior indústria que nós temos hoje é o funcionalismo público, que a gente vê que está há muito tempo sem aumento. O que tem levado a uma queda no poder aquisitivo. Os professores, por exemplo: antigamente, casar com uma professora era a melhor coisa do mundo. Hoje não é o melhor negócio.

NOVA LEI TRABALHISTA
Ela é muito favorável para o empresário. Vai ser bom para os dois lados. Existe uma quantidade de gente desempregada no DF e no Brasil inteiro. Pessoas que o empresário não tinha como contratar. Às vezes, o lojista precisa de funcionário apenas dois dias da semana porque tem movimento sábado e domingo. Veja o caso dos shoppings: o funcionário que não pode trabalhar de segunda a segunda. Quer dizer, com a nova lei, vai aumentar a quantidade de funcionários em dias de maior movimento. Esse funcionário intermitente poderá ser aproveitado não só em bares, restaurantes e hotéis, como também nos shoppings e outros lugares. Em farmácia, por exemplo, um funcionário trabalhando da 0h às 6h com salário combinado, sem adicionais, e ele aceita se quiser. Todo mundo vai ter o funcionário sem ter que pagar aquele absurdo que pagava.

SEGURANÇA
Na semana passada, em Taguatinga, 14 lojas foram arrombadas no centro. Um absurdo isso. O que vem fechando as lojas é a sequência de desemprego e os assaltos à mão armada. O Sindivarejista pediu ao governo a dupla Cosme e Damião, de policiamento. Todo fim de ano, a gente pede. Essa dupla de policiais funcionou, os cavalos na rua também e você não vê mais isso. Acabou. Nós estamos preocupados com as viaturas que estão paradas nas esquinas, elas não estão andando, não estão vendo as ocorrências. Elas esttão ali só estacionadas. Nós temos no sindicato muitas reclamações de assaltos e de arrombamentos. De cada 10 casos, somente de quatro é registrada a ocorrência porque o comerciante tem medo da represália.

ROUBOS EM SHOPPINGS
Nem as câmeras de filmagem estão adiantando. Eles roubam sem tampar o rosto. Hoje eu acho que o lojista pode entrar com uma ação contra o shopping em caso de assalto. A responsabilidade de lojas dentro de shopping é do empreendedor, e tem que indenizar qualquer tipo de roubo e ninguém fala disso.

COMÉRCIO W3 SUL
A W3 era um shopping horizontal que nós tínhamos na cidade. Por que a W3 acabou? Porque cada cidade fortaleceu o seu comércio. A loja Casas Bahia, por exemplo, tinha na W3, hoje tem em Sobradinho, na Ceilândia, então, o cliente não precisa vir para a W3. As cidades foram melhorando o comércio, as pessoas não precisam sair de perto das suas casas. E para a população que mora no Plano Piloto, foram criados vários shoppings nesse eixo. Essas lojas da W3 migraram.

REVITALIZAÇÃO
Os proprietários das lojas da W3 não são de Brasília, moram em Anápolis. Eles acham que os preços que eles cobram de aluguel são muito baixos. Todos os aluguéis estão fora da realidade. As únicas quadras que estão sobrevivendo sãoa 510 Sul e a 512 Sul. Por quê? 510 Sul é a dos bebês e da 512 Sul foi entregue um projeto, feito pela Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL-DF), à Novacap para a revitalização de uma quadra, com parceria dos empresários e do governo. Isso não foi para frente. A gente tem brigado, mas o governo diz que não tem dinheiro para fazer. São coisas como melhorar calçadas ; que estão quebradas ;, pintura, melhorar fachadas das lojas, a mobilidade. Era para fazer uma quadra-modelo para revitalizar todas as outras quadras. Foi uma ideia bacana da CDL que teve apoio de todas as entidades de comércio e até agora não saiu do papel.




ALUGUEL E IPTU ALTOS
Um problema para o comércio de Brasília são os aluguéis. E a W3 sofre muito com isso. Eu defendo que, se as lojas ficarem fechadas por um ano, o IPTU deveria dobrar. Isso já foi feito na parte antiga do Rio de Janeiro ; que revitalizou o centro ; e em São Paulo. Existe uma lei federal, cobramos do GDF que ela se aplique aqui e até agora não sai do papel. Não vai sair neste governo. Não sei o que eles pensam, porque o IPTU dobrando, dobrando, o dono vai baixar o aluguel. Aí a coisa vai funcionar. Se a loja não tiver prejuízo, o dono não aceita baixar o aluguel, prefere deixar a loja fechada. Isso de pagar a loja fechada tinha que acabar. Se tivesse um ônus, os aluguéis estariam mais em conta. Essa é a melhor maneira para resolver a W3.

ZONA AZUL
Eu não sei o que passa na cabeça do governador. Você tem lá as ruas com os carros amontoados um em cima do outro. Vai a uma cidade como Belo Horizonte, São Paulo, Rio ou Goiânia, os estacionamentos são pagos. É preciso uma zona azul urgente. Tem que mudar a cabeça. O cliente que não para não compra. No ano passado, fizemos uma campanha quem trabalha não para, mais ou menos isso. O cliente não vai parar lá atrás da quadra, vir andando debaixo de chuva ; ainda mais com a segurança de Brasília. Então, nós fizemos um triângulo para colocar dentro da loja para conscientizar os lojistas de deixarem as vagas para os clientes. Você passa na quadra no horário em que as lojas estão abrindo, não tem mais nenhuma vaga. Um funcionário me disse: o meu patrão para o carro de manhã, quando ele chega, e à tarde, quando vai ao banco, prefere ir de Uber para não tirar o carro da vaga. O que você faz?

ABERTO NO FERIADO
Há 57 anos o comércio não abre no domingo de carnaval. O comércio fecha sábado e só abre quarta-feira, depois de meio-dia, sendo que, nem no domingo, nem na segunda, nem na quarta é feriado. Em Brasília isso acontece porque a cidade começou há 50 e poucos anos e foi crescendo aos poucos, aí chegava o Carnaval, todo mundo viajava. Só que esse costume está mudando. Na última convenção coletiva, devido à situação que o país vem passando, o sindicato concordou em abrirmos os shoppings no domingo de carnaval. E as lojas de rua que não quiserem abrir no domingo, abrem na quarta-feira de cinzas o dia inteiro. Os empregados diziam que estavam trocando a segunda-feira pelo dia do comércio. Diga-me: qual categoria tem feriado no seu dia? Nenhuma. Isso não existe.

MAIS DIAS ABERTOS
O domingo é o dia que a pessoa está em casa, tranquila. Ou ela vai ver Faustão, como está tudo fechado, ou ela vai para o cinema, shopping, vai ver loja. Isso movimenta o comércio, além de gerar renda. Existem compras. Toda vez que você vai no shopping, diz: ;não vou comprar nada;. Minha mulher é assim. Chega e compra. Essa é a venda por impulso. Comércio tem que ficar aberto, comércio não pode fechar.

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