Jornal Correio Braziliense

Cidades

Delegacias do DF registram 12,5 mil casos de estelionatos em dez meses

Criminosos usam, principalmente, o telefone e a internet para convencer as vítimas a depositar dinheiro em contas bancárias

Jonatas José Silva, delegado da Divisão de Falsificação e Defraudação (Difraudes), da Polícia Civil do DF, explicou que os criminosos se aproveitam da ambição das vítimas e da necessidade de receberem a quantia oferecida. ;Eles exploram a ganância das pessoas e a vontade delas em ganhar alguma coisa. Em muitos casos, a situação é comum por envolver um momento de dificuldade;, ressaltou o investigador.

Tecnologia

O advogado Ronaldo Ferreira da Rocha atende vítimas desse tipo de golpe. Duas clientes aposentadas receberam a informação de que tinham direito a receber valores de ações judiciais. Contudo, elas precisariam fazer o pagamento das custas processuais, algo em torno de R$ 900, para receber o valor. Uma delas procurou o defensor após ter pago a quantia. ;Obviamente, ela não recebeu nada. Quando tentei contato por meio do telefone utilizado para falar com a vítima, uma pessoa se identificou como Paulo e disse que o número era de uma residência particular havia mais de 18 anos;, afirmou Ronaldo. Apesar disso, o advogado ouviu uma voz feminina ao fundo da conversa. Segundo ela, a mulher orientava alguém que parecia ser outra possível vítima do esquema.


O delegado Jonatas alertou que o fato de o telefone ter um número fixo ou o código do DF (61) não significaria, necessariamente, que a ligação seja originária daqui. ;Esses criminosos, geralmente, fazem o uso de Voip (tecnologia que permite fazer ligações pela internet) e compram números telefônicos de vários estados. Ele pode estar no Paraná com o DDD do DF, por exemplo. Por isso, os cidadãos devem ficar atentos ao atender ligações de números desconhecidos, sejam da própria cidade, sejam de fora;, esclareceu.
O investigador disse que essa modalidade de golpe é novidade para a divisão, porque costumava ser aplicado por meio de correspondência. O crime pode ser considerado estelionato, com pena prevista de 1 a 5 anos de reclusão; ou, se caracterizar furto qualificado mediante fraude, a previsão é de pena de 3 a 8 anos de prisão.

Fraude com moeda virtual

Recentemente, um esquema de pirâmide desarticulado no Distrito Federal fez cerca de 40 mil vítimas. Sob a promessa de retorno financeiro rápido, a Wall Street Corporate comercializou a moeda virtual Kriptacoin. Os responsáveis pelo golpe movimentaram aproximadamente R$ 250 milhões em um ano e nove meses.


Sem saber de que se tratava de uma fraude, um projetista de 30 anos contou que a persuasão dos responsáveis pelo negócio era a principal forma de atrair o interesse de novos clientes. Havia, por exemplo, promessas de lucro semelhante ao de moedas virtuais consolidadas, como a Bitcoin. ;Investi muito pouco, só R$ 1 mil. O valor era convertido na criptomoeda, de acordo com a cotação vigente. Consegui vender algumas na plataforma, mas também fiz trocas por sapatos, eletrodomésticos, suplementos;, relembrou. Segundo ele, as negociações aconteciam motivadas pela esperança de que a moeda valorizasse.


O professor do Departamento de Ciência da Computação da Universidade de Brasília (UnB) José Gondim afirmou que as criptomoedas ganham força por todo o mundo, mas ressaltou a importância de se entrar nesse tipo de investimento por meio de corretoras confiáveis. ;É sempre bom ter cuidado com investimentos em cima de criptomoedas. No caso da Bitcoin, ela conta com tecnologias públicas para sua execução, operação e auditoria. Por isso, ela não tem dono. Qualquer caso em que se aponte uma moeda como algo de implementação privada, vale desconfiar;, revela.


Outro prejudicado pelo negócio foi um empresário de 36 anos, que também preferiu não se identificar. Ele desembolsou R$ 21 mil para investir na Kriptacoin sem desconfiar do esquema. ;Quando entrei, cada conta rendia R$ 30 diários. Após 30 dias, R$ 900 ficavam acumulados no banco virtual. Como havia o desconto de algumas taxas, nós terminávamos o mês com cerca de R$ 680;, detalhou.


O empresário registrou ocorrência e entrará com uma ação judicial para tentar reaver o dinheiro perdido. ;Algumas pessoas entraram no início do ano; por isso, ainda estavam recebendo o dinheiro de volta. No meu caso, perdi todo o valor investido, porque, além de ter ingressado mais perto da desarticulação do esquema, eu não tinha sacado valor algum. Quando fui fazer isso, a polícia fechou a empresa;, explicou.

Veracidade

Para evitar problemas, a recomendação da especialista em segurança pública e professora da Universidade Católica de Brasília (UCB) Marcelle Figueira é se atentar às ofertas de lucros fáceis e rápidos. ;Não existe almoço grátis, como diz o ditado. Se você não tem nenhum ganho previsto, precisa duvidar da veracidade da proposta. Caso existam chances de ser verdade e você estiver aguardando algum ganho, procure um advogado antes de qualquer coisa. É importante checar a informação previamente e sempre desconfiar de facilidades como essas;, alertou.

* Estagiárias sob supervisão de Guilherme Goulart