Cidades

DF tenta reduzir, pela metade, número de vítimas fatais no trânsito

Série de reportagens abordará os desafios e os investimentos para alcançar o objetivo

Isa Stacciarini
postado em 03/12/2017 08:00
Congestionamento na Estrada Parque Taguatinga (EPTG): excesso de veículos leva à maior probabilidade de acidentes

Após duas décadas, o Distrito Federal tem a chance de, mais uma vez, se tornar exemplo nacional contra a violência no trânsito. Em 2020, a unidade federativa deverá ser uma das poucas a cumprir a meta da Organização das Nações Unidas (ONU) de reduzir, pela metade, o número de vítimas no asfalto no período de uma década: de 2011 a 2020. É o que garante o Departamento de Trânsito (Detran) após fazer projeções matemáticas. Os estudos apontam que, mantida a média de queda anual de 5% na quantidade de óbitos a partir de 2011, a capital do país poderá ter 223 mortos em 2020 enquanto a previsão da ONU é de 225 óbitos para o mesmo período. Isso representa 52,04% a menos do que as 465 vidas perdidas no DF em 2011 (veja Perigo na pista).

O Correio começa hoje série de reportagens nas quais traça um panorama do que o governo e a sociedade civil devem fazer para garantir o cumprimento da meta da década por um trânsito mais seguro. Além disso, faz um balanço das ações adotadas nos últimos 20 anos, como elas contribuíram para salvar vidas e quais foram os investimentos. Nos próximos cinco dias, a série ;Corrida para salvar vidas; revela que, apesar de os números apontarem que é possível chegar a 223 mortes no fim de 2020, a pretensão também se mostra um desafio. As causas mais letais no trânsito são: uso do celular, álcool e outras drogas ao volante e alta velocidade.

A expectativa da ONU é salvar 5 milhões de vidas no período de 2011 a 2020 em 10 países que assumiram o compromisso da década, ou seja, uma redução em 50% no número de mortes. O DF ainda pode superar a meta da ONU se conseguir reverter o comportamento de motoristas, pedestres e ciclistas para reduzir as principais causas de acidentes. Isso porque a estatística aponta para a diminuição nas mortes até 2020 mesmo que não seja feita nenhuma campanha educativa nem ação de conscientização.

Superar a meta

Entre 1995 e 2005, Brasília reduziu quase à metade os óbitos no asfalto, passando de 825, no primeiro ano, para 442 no último ano do período. À época, houve pelo menos seis ações que mudaram o comportamento dos brasilienses: campanha Paz no Trânsito liderada pelo Correio; promoção do uso da faixa de pedestre; cobrança do uso do cinto de segurança; instalação de redutores de velocidade; placar da vida que contabilizava as pessoas salvas no trânsito; e implementação do Código de Trânsito Brasileiro (CTB), em 1997.

Desde 2010, um ano antes da contagem da meta, entraram em vigor iniciativas que ajudaram a diminuir as estatísticas até 2016. Neste período, as 461 mortes registradas em 2010 caíram para 391 em 2016 ; uma queda de 15,18%. Atreladas a essas diminuições estão o surgimento e o endurecimento da lei seca; a implantação da Lei da Cadeirinha; o aumento dos valores das multas; a reclassificação das condutas de infração, de média para grave, por exemplo; e a conscientização.

O DF ainda faz a contagem do óbito de uma vítima de trânsito até 30 dias depois do acidente, ou seja, o estado de saúde da pessoa que se envolve em uma ocorrência é monitorado durante um mês, com apoio de órgãos como Polícia Civil, Secretaria de Saúde, Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e Corpo de Bombeiros. É um trabalho diferente de capitais como Belo Horizonte, que faz a contagem de mortos apenas no local do acidente.

Palavra de especialista

Educação é a base de tudo
;O trânsito é uma questão de educação. Se as pessoas fossem mais cordiais, menos impetuosas e tivessem mais conhecimento, certamente, diminuiriam os riscos de se envolverem e provocarem acidentes. Mas o problema é que alguns motoristas estão sempre ;armados; no trânsito e, quando entram em um veículo, se acham intocáveis, poderosos. Em uma análise conclusiva, transferem para a direção as suas emoções. Se as pessoas simplesmente dirigissem, o trânsito poderia estar melhor.

Além disso, há uma interligação entre os fatores causadores dos acidentes. O álcool, por exemplo, leva à velocidade. Uma pessoa que está embriagada excede os limites da via, não respeita as leis de trânsito e se acha autossuficiente. E ainda há quem corra pelo simples prazer de correr. Mas o trânsito se modificou com o advento do CTB e fez com que os motoristas dirigissem com mais cautela. Vieram os fiscalizadores de velocidade, os sinais semafóricos e o investimento.

Mas a realidade de Brasília poderia estar melhor. Praticamente, ainda morre gente todos os dias nas vias do DF. O trânsito seguro é aquele que flui sem acidentes ou incidentes. E esse cenário pode mudar, com o Estado fazendo mais. A educação é a base de tudo. E a presença do Estado inibe a ação delituosa e as infrações administrativas no trânsito;

Márcio de Andrade, professor,
especialista em trânsito e diretor do Instituto Nacional de Educação de Trânsito (Inetran)


O que diz a lei
Segundo o Código Brasileiro de Trânsito (CTB), Lei n; 9.503, de 1997, o dinheiro arrecadado com o pagamento das multas deve ser usado exclusivamente para sinalização de trânsito, engenharia de tráfego, policiamento, fiscalização, educação no trânsito e 5% destinado ao Fundo Nacional de Segurança e Educação no Trânsito (Funset).

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