Cidades

Pesquisador da UnB assassinado era reservado e estudioso, descrevem amigos

Arlon Fernando da Silva, assassinado a facadas em frente ao Buriti enquanto voltava para casa de bicicleta, tinha planos de trabalhar com educação e inovação industrial

Isa Stacciarini
postado em 08/12/2017 10:35
Arlon Silva sentado em escadaria colorida
Gentil, embora reservado, entusiasta da bicicleta e com planos de seguir carreira na área de educação e inovação industrial. É assim que amigos e conhecidos descrevem o aluno de doutorado em física Arlon Fernando da Silva, 29 anos, assassinado na noite de quinta-feira (7/12), na ciclovia do Eixo Monumental, em frente à Câmara Legislativa e a poucos metros do Palácio do Buriti, quando voltava de bicicleta para casa, no Sudoeste.

A amiga Luana Muniz, 21 anos, conta que Arlon havia se mudado para o Sudoeste em setembro. Antes, o jovem, nascido em Rio Branco do Sul (PR), morava na 912 Norte. Ia todos os dias à universidade de bicicleta, único meio de transporte que usava. Ele não tinha carro.
Luana ressalta ainda a dedicação do paranaense aos estudos. "Ele era muito estudioso e passava o dia na UnB. Quando ele terminou a graduação, podia fazer o mestrado em três universidades: em Brasília, São Paulo e Curitiba. Ele fez para cá e passou. Mas não era pretensão dele se mudar para Brasília", destacou Luana, que lembra do amigo como alguém reservado, que falava pouco, apesar de muito educado.

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Cheio de planos para o futuro


Formado na Universidade Federal do Paraná (UFPR), Arlon concluiu o mestrado na UnB e estava no doutorado, sempre em física. Durante dois períodos, ele foi professor substituto da UnB: no segundo semestre de 2016 e no período de verão deste ano.

"Ele dizia que queria terminar o doutorado logo e já estava com pesquisa muito adiantada. Ele tinha um projeto de montar uma escola de reforço com um amigo e estavam elaborando um projeto de educação", explicou Luana. Outra pretensão dele era montar uma empresa de espectro para indústria. "Ele dizia que não queria fazer concurso, porque não tinha estilo para fazer prova", complementou.
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Grande cientista e aluno

Um dos melhores amigos de Arlon, Ítalo Sanglard, 24 anos, contou que Arlon estava tentando terminar a tese de doutorado e defender a pesquisa. "Ele era um dos melhores cientistas e alunos. Conseguia fazer doutorado, era professor substituto e publicava artigos científicos. Passava o dia todo na UnB", ressaltou.
Reservado, Arlon não falava da família. Ítalo contou que, em três anos de amizade, ele não comentava da vida pessoal. "Ele era extrovertido entre amigos e extremamente inteligente. Ele não iria se arriscar e reagir ao assalto como estão dizendo por aí", esclareceu.

Arlon estudava sobre material genético e nanopartículas. Gostava de andar de bicicleta e não tinha carro nem habilitação. Era fã da banda alemã Rammstein e inclusive citou um trecho de música do grupo na dissertação de mestrado. "Ninguém conhecia mais de economia como ele", disse.

Ajuda para o traslado do corpo

Pessoas próximas a Arlon esperam que as autoridades públicas deem apoio para o traslado do corpo para o Paraná, onde mora a família da vítima. "Ele foi morto na rua, e o Estado devia dar esse apoio, porque a família não tem condições", afirma a professora Beatriz Dutra, que conviveu com o doutorando durante dois anos.

Filha da professora, Cilene Dutra Menezes, 32 anos, que namorou com Arlon e depois se tornou grande amiga dele, conta que o aluno chegou a passar uma temporada na casa da família e com frequência jantava com ela e a mãe. "Ele era muito respeitador, humilde, mas, ao mesmo tempo, calado e reservado. Era difícil se aproximar dele", diz.

Gentil e correto


Proprietário da quitinete que o doutorando alugava por R$ 800 no Sudoeste, o aposentado Carlos Roberto Gonçalves de Oliveira, 64 anos, diz que admirava o jovem. "Ele era muito correto com as coisas, gentil e educado", conta.
Segundo Carlos Roberto, a vítima era natural da cidade de Rio Branco do Sul, no estado do Paraná. "Na época do aluguel, fiz uma pesquisa dele na internet e não achei nada que pudesse desaboná-lo. Pelo contrário", ressaltou.

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