Jornal Correio Braziliense

Cidades

'UnB perde um talento': amigos prestam homenagem a cientista assassinado

Amigos e colegas do Departamento de Física da UnB rendem homenagens a Arlon, descrito como um acadêmico talentoso e diferenciado. Pesquisa elaborada por ele recebeu elogios de universidade britânica



Durante todo o dia, amigos e professores se mobilizaram na UnB. Colega de pós-graduação e amigo de Arlon havia quatro anos, Diego Veloso não acredita que o pesquisador tenha reagido à abordagem. ;Era um cara tranquilo, estudioso e batalhador. Por mais que seja forte, creio que ele tenha tentado fugir;, opinou. Emocionado, Diego lamentou a perda. ;Foi uma covardia. Perder a vida por causa de uma bicicleta? Não tem cabimento;, afirmou.

O professor Marcelo Parise também mostrou perplexidade. ;Nós perdemos um valor para a ciência inestimável, e, eu, um amigo.; Emocionado, Parise revelou que trabalhava nos últimos tempos com Arlon em um artigo científico sobre nanociência. ;Nós pretendíamos publicá-lo no ano que vem. Faltavam alguns ajustes;, disse. Questionado se levaria adiante o projeto, ele afirmou que é o correto a se fazer. ;É uma forma também de homenagear o Arlon. Ele tinha um talento fenomenal;, concluiu.


Paixões

Amigos e colegas do Departamento de Física da UnB depositaram um vaso com flores brancas na mesa em que Arlon passava de 12 horas a 14 horas por dia. ;Foi uma homenagem a um amigo que sempre nos ajudou. Não dá para acreditar;, disse o amigo e colega de pós-graduação Felipe Rodrigues, 28. O jovem trocou mensagens com Arlon, por meio do WhatsApp, na quarta-feira. Nelas, o estudante paranaense reforçou o desejo em consolidar um projeto voltado para alunos do ensino médio. ;Ele projetou quase tudo. Enviou-nos mensagens explicando como funcionaria;, revelou.

Amigo, vizinho e companheiro de pedal, Artur Castelo Branco tinha o costume de voltar com Arlon para casa. ;Passávamos sempre pelo mesmo trajeto no qual aconteceu a tragédia. Apesar de nunca termos sofrido nada, ali é um lugar perigoso e escuro;, queixou-se. Segundo ele, o amigo tinha a meta de chegar aos 5 mil quilômetros pedalados neste ano. ;Ele botou como objetivo e conseguiu. Infelizmente, a última marcação do aplicativo não foi concluída;, disse.

Uma das pessoas mais próximas do pesquisador, Ítalo Sanglard, 24, entrou no apartamento de Arlon, na tarde de ontem, acompanhado de policiais da 5; Delegacia de Polícia para resgatar os gatos do amigo. No entanto, os animais não foram encontrados. Ítalo, então, lembrou-se que o doutorando havia doado os felinos por causa de uma regra do condomínio que não permite animais de estimação. ;Ele era um dos melhores cientistas e alunos. Conseguia fazer doutorado, era professor substituto e publicava artigos científicos. Passava o dia todo na UnB;, ressaltou.

Reservado, o pesquisador ocupava o tempo com os estudos, os passeios de bicicleta e a paixão pela banda alemã Rammstein. Arlon, inclusive, mencionou o trecho de uma música do grupo na dissertação de mestrado, concluído há cerca de dois anos. ;Ninguém sabia mais de economia do que ele;, explicou Ítalo.

Nas redes sociais, muita gente lamentou a morte de Arlon. Maria Isabel Dranka escreveu: ;Infelizmente, seu tempo de aproveitar a vida foi tirado por algo tão irrelevante e de forma tão brutal;. E continuou: ;Vou sempre lembrar de você com amor, amizade e companheirismo. Juro que não vou te esquecer e cada vitória será com um pensamento em você;, acrescentou.


"Vou sempre lembrar de você com amor, amizade e companheirismo. Juro que não vou te esquecer e cada vitória será com um pensamento em você;
Maria Isabel Dranka, em comentário no Facebook

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Depoimento


;É uma perda para o Brasil;



;Era um aluno excepcional, diferenciado. Pessoalmente, um aluno extremamente tranquilo, com futuro brilhante. A pesquisa dele estava indo muito bem, inclusive apresentei os resultados dele na Inglaterra, na semana passada, para um grupo de pesquisa que fazemos uma colaboração. O pessoal gostou e pediu sigilo nos resultados por serem inovadores. O Arlon estava muito feliz por conta disso. Ele tinha vários planos para 2018 por conta desses excelentes resultados da pesquisa, que trabalhava com essas amostras que eram produzidas na Inglaterra. Enfim, nós tínhamos uma reunião hoje (ontem) pela manhã para discutir os próximos passos da pesquisa para 2018. O último contato tinha sido na quinta, quando marcaríamos essa reunião. O Arlon era excepcional, um excelente estudante. É uma perda para o Brasil, o país investiu nele. Estava indo para o segundo ano do doutorado. O país perdeu um excelente pesquisador.;

Jorlândio Francisco Félix, professor e orientador de Arlon