Jornal Correio Braziliense

Cidades

No Plano Piloto, o maior número de invasões está localizado na Asa Norte

A motivação das pessoas que vêm para o centro de Brasília é diversa, de catadores e pedintes



Na tarde de quinta-feira, um carro parou com uma caixa de leite. Várias pessoas saíram dos barracos e foram até o motorista. O alimento foi recebido com festa. ;Amanhã vai ter mistura para o café;, gritou uma das moradoras para o grupo.

Dona Carla (nome fictício), 49 anos, chegou ao DF em 2001. A baiana veio para Brasília em busca de emprego e deixou para trás marido e parentes. Embaixo do braço, ela conta que só trouxe os dois filhos e poucas roupas. Dona Carla passou a trabalhar como doméstica em uma mansão do Lago Sul. À época, o salário era suficiente para pagar aluguel em uma casa no Entorno do DF. Porém, a patroa decidiu que retornaria à terra natal, Bahia, a mesma de dona Carla, que ficou desempregada. Ela foi despejada e passou a morar em invasões.

Há cerca de sete anos, dona Carla mora em uma invasão da 611 Norte. No lugar, mais de 100 pessoas vivem nos barracos improvisados com lona e madeira. A estrutura frágil da moradia não tira a coragem de quem vive lá. ;Se a chuva derrubar, a gente monta tudo de novo. Medo da violência, a gente tem, mas ninguém vai vir querer mexer com a gente. Aqui, todo mundo cuida de todo mundo;, garante a baiana.


Fogão de lenha improvisado

A única fonte de renda do grupo é a venda de lixos recicláveis. Com uma carroça, eles passam nas ruas da Asa Norte em busca de materiais que possam vender. O lucro obtido é usado, principalmente, na compra de alimento, que é preparado em um fogão a lenha improvisado.

A 10 quadras de distância, outra invasão é formada na quadra 601 da Asa Norte. A diferença é que as pessoas que passam o tempo lá têm casa própria. Quando o carro da reportagem chegou ao lugar, vários curiosos se aproximaram para ver o que estava acontecendo. De um grupo de 15 pessoas, apenas uma conseguiu decifrar o letreiro do carro. ;É repórter, gente, não é doação;, disse.

Renata (nome fictício), 22 anos, parou de estudar no quarto ano do ensino fundamental. Mãe de três filhas, ela conta que os pais conseguiram uma casa para morar no Paranoá. Ela conta que o grupo passa a semana nos barracos da invasão e voltam no fim de semana para descansar em casa. ;Não ficamos aqui só na época do Natal, não, é o ano todo. A gente não consegue emprego e precisa dar um jeito;, lamenta a catadora.

;Meu sonho mesmo é que meus filhos tenham um futuro melhor, que mãe não deseja isso?;, pondera.


* Estagiário sob supervisão de José Carlos Vieira