Cidades

Justiça do DF ouve primeiras testemunhas em esquema da Máfia dos Concursos

Depois de ser adiada devido à falta de escolta para os réus, a primeira audiência do processo resultante da Operação Panoptes ocorreu na tarde desta quinta

Luiz Calcagno
postado em 14/12/2017 21:02
Policiais da Delegacia de Repressão ao Crime Organizado cumpriram mandados e busca e apreensão na sede do Cebraspe em agosto deste ano
Prestaram depoimento na tarde desta quinta-feira (14/12) as primeiras testemunhas do caso da Máfia dos Concursos, desarticulada pela Operação Panoptes. A ação da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), deflagrada em 22 de agosto deste ano, desmontou uma . Os réus são Helio Garcia Ortiz, preso em 2005, acusado de liderar o grupo, Bruno de Castro Garcia Ortiz, filho dele, Johann Gutemberg dos Santos, e Rafael Rodrigues da Silva Matias. O grupo responde por associação criminosa, fraude em concursos públicos e falsificação de diplomas.



A audiência, que foi adiada em um dia pela falta de escolta para os réus, teve início por volta das 15h e, às 20h, o juiz e a promotora do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) ainda inquiriam testemunhas e delegados de polícia sobre as investigações. Um dos assuntos recorrentes na sessão foram as técnicas usadas pelo grupo para fraudar os concursos. De acordo com os depoimentos, os integrantes da quadrilha chamavam pessoas para fazer parte das provas e, depois, consolidavam as respostas em um único texto para enviá-lo a candidatos que, previamente, escondiam celulares em banheiros nos locais de prova.

Outra técnica, utilizada no concurso do Centro Brasileiro de Pesquisa em Avaliação e Seleção e de Promoção de Eventos (Cebraspe), era a retirada dos gabaritos de candidatos para complementação posterior à prova. O grupo contava com um homem dentro do Cebraspe que retirava os papéis de preenchimento antes da digitalização. Em seguida, os documentos eram enviados à casa de Helio Ortiz, que completava os formulários e os devolvia posteriormente ao centro de pesquisa.

Rastros


De acordo com o delegado Maurílio Coelho Lima, agente da inteligência da Polícia Civil à época das investigações, a técnica de retirada dos gabaritos não preenchidos deixava um rastro grande. "Quando o material chegava para ser digitalizado, eles davam por falta das folhas e isso gerava um relatório com o número e o nome dos candidatos (responsáveis por elas). Coincidentemente, essas pessoas foram aprovadas e bem colocadas nas provas que fizeram", explicou.

[SAIBAMAIS]Os policiais chegaram aos criminosos após investigações anônimas e flagraram o primeiro candidato envolvido no esquema durante uma prova para praça do Corpo de Bombeiros. A partir daí, os agentes acompanharam suspeitos, coletaram provas por meio de escutas telefônicas e catalogaram os candidatos que procuravam o grupo. De acordo com o depoimento do delegado Maurílio, a casa de Hélio era muito frequentada, principalmente na semana anterior a provas de concurso ou vestibular. "Nós anotávamos as placas e, coincidentemente, elas pertenciam a carros de candidatos ou a parentes dessas pessoas;, afirmou.

Depoimentos


Os demais depoimentos foram apresentados por poucas testemunhas e a maioria deles correu de forma rápida. Parte dos relatos eram de pessoas próximas aos suspeitos ou de candidatos dos concursos fraudados. Os interrogatórios mais longos foram os de dois delegados da PCDF e o de um médico que teria contratado o serviço do grupo criminoso para que uma das duas filhas passasse no vestibular.

A fala de Maurílio foi um dos pontos altos da audiência, principalmente porque contradisse os relatos de ambas as testemunhas. O médico, primeiro depoente, disse que planejou comprar uma vaga na Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília (UnB). Porém, o delegado informou que havia acompanhado o profissional durante as investigações e que ele teria planejado o ingresso das duas filhas na instituição.
O segundo depoente, candidato no concurso da Agência de Desenvolvimento do Distrito Federal (Terracap), disse ao juiz e à promotora do MPDFT que, por sofrer de hemorróidas, precisou ir ao banheiro diversas vezes. Entretanto, ainda de acordo com o delegado, a testemunha foi flagrada ao telefone com Bruno, enquanto falava sobre a adrenalina de tentar enganar a fiscal da prova dizendo que tinha o problema.

As audiências para ouvir as demais testemunhas continuarão a partir das 14h desta sexta-feira (15/12).

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