Cidades

Homem preso no lugar do irmão se prepara para passar o Natal em família

Jefferson Carlos da Silva ficou 18 dias na Papuda preso por um crime que não cometeu. Com deficiência mental, o inocente apanhou na cadeia por não saber explicar a razão de estar ali

Thiago Soares
postado em 15/12/2017 06:00
Jefferson, cercado pelos carinhos da mãe, da irmã e da sobrinha

O Natal de 2017 para a família de Jefferson Carlos da Silva ganhou ainda mais importância. Afinal, esse seria o primeiro que ele ficaria longe dos parentes. Tudo por um erro da polícia e da Justiça goianas. O homem de 32 anos ficou 18 dias preso por um crime que não cometeu. Nesse período, ficou sem comer e sofreu outros abusos na cadeia, devido às dificuldades de comunicação e de se defender, impostas pelo retardo mental moderado e a profunda depressão.
Jefferson diz perdoar o irmão, mesmo tendo sido preso por engano no lugar dele. Jackson Beserra da Silva, 30 anos, foi condenado por um roubo ocorrido em Anápolis (GO), em 2007. Mas Jackson assinou o nome de Jefferson em um termo de compromisso ao ser preso em flagrante, pois estava sem documento. Ele respondeu ao processo em liberdade. Porém, um juiz o considerou culpado e impôs uma pena de cinco anos e quatro meses de detenção. Os prazos para recursos acabaram em novembro. Como a pena tinha de ser aplicada e constava o nome Jefferson no processo, ele foi preso no dia 21.

Como o suposto réu morava no Recanto das Emas, policiais civis do DF levaram Jefferson para o Complexo Penitenciário da Papuda. Desses 18 dias no Centro de Detenção Provisória, a pior lembrança dele vem dos colegas de cela. ;Ele apanhou de outros presos. Estava extremamente preocupada com medo de acontecer algum mal com o meu filho. No dia em que ele foi detido, ele só chorava e não entendia porque estava ali;, contou a mãe do homem, Tereza Beserra, 57 anos.

Jefferson apanhou porque não soube explicar a razão de estar preso. Logo julgaram que teria cometido algo imperdoável no código de conduta dos presidiários, como um estupro. Os socos e tapas só cessaram depois que Jefferson pediu socorro a um agente penitenciário. O funcionário explicou o motivo da prisão e, poucos dias depois, um outro acusado, que conhecia o irmão de Jefferson, foi colocado na mesma cela. Ele contou o caso do roubo aos demais detentos e das condições psíquicas de Jefferson. No entanto, eles viviam roubando as refeições do homem detido por engano, que não reagia. ;Queria estar logo em casa. Foi muito ruim, senti medo;, resumiu Jefferson, com dificuldade de explanação.

Análise das digitais

O Instituto de Identificação da Polícia Civil do DF comprovou o erro por meio de análise das digitais, após pedido de uma defensora pública, que cuidou do caso. Mas a Justiça de Goiás só relaxou a prisão de Jefferson. Entre outras restrições, o homem não pode, por exemplo, circular em via pública após as 22h.

O processo do crime em Anápolis ainda está em andamento. Para comprovar a inocência de Jefferson, laudos estão sendo colhidos pela defesa, que também vai iniciar uma ação contra o Estado. ;O meu irmão não é o primeiro a ser preso injustamente. É constatada falha e isso não pode ocorrer novamente. Algo tem que ser feito para ninguém mais parar atrás das grades sem ter culpa;, comentou a irmã de Jefferson, Janaína Karlen Silva Oliveira, 34 anos.

Jefferson deixou a Papuda no dia 8. Desde então, Janaína e a mãe comemoram o fato dele passar o Natal em família. Costureira, Tereza luta para manter a casa, onde moram os cinco filhos e uma neta, Júlia Emília, 4 anos. Além de Jefferson, diagnosticado com problemas mentais, Tereza tem um filho esquizofrênico, em consequência de diversas pancadas na cabeça durante um assalto.

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