Hellen Resende*
postado em 15/12/2017 16:37
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O que é uma batalha se não parte de uma luta que se trava em prol de um objetivo? Pois o coletivo Batalha das Gurias (BDG) luta por mais espaço das mulheres no rap e pelo empoderamento feminino. Bárbara, Bruna, Camilla, Dih, Elisandra, Estéfane, Juliana, Karolyne, Kashu e Isis são as atuais organizadoras, mas elas representam as muitas jovens que encontram na BGD um espaço de expressão e de voz.
Criado em 2013 por cinco mulheres que participavam de batalhas de rimas no Museu da República, o coletivo começou com o intuito de incentivar a participação feminina no rap a partir de um grupo exclusivo para as mulheres. ;Surgiu para que as meninas ficassem confortáveis ao batalhar, já que as inspirações femininas no rap ainda são bem escassas e o cenário é muito machista;, explica a estudante Juliana Ribeiro, 20, lembrando que muitos MCs apelam para rimas machistas quando estão competindo com uma mulher.
Confronto de rimas
As batalhas expressam, principalmente, a cultura da periferia, dentro de um movimento musical de contracultura: o hip hop. Capazes de entreter pessoas de todas as idades, esses eventos ocupam espaços públicos e promove a disputa entre MCs, que precisam se mostrar mais hábeis e criativos que se os adversários.
Mais que um jogo de palavras ao som de uma batida (a parte instrumental de um rap), as batalhas funcionam como canal de divulgação de comportamentos e valores da periferia e costumam também abordar temas políticos e sociais, como racismo, desigualdade social e abusos de poder.
Nos eventos da BGD, denúncias contra o machismo e a desigualdade de gênero são comuns. ;Nós somos um movimento de contracultura dentro de outro movimento de contracultura;, frisa Juliana.
Ao longo de 2017, a BDG funcionou de forma itinerante e percorreu diversas cidades do DF. Segundo as integrantes, falta espaço para batalhas. O grupo se esforça para se apresentar em casas de cultura e espaços públicos e conta com apoio de gente de boa vontade para realizar os eventos. As organizadoras se reúnem uma vez por mês e conciliam trabalho e estudo com a iniciativa. Além disso, a BDG ministra oficina em escolas e marca presença em festivais e congressos musicais, como o Fórum Nacional de Mulheres no Hip Hop e o Green Move Festival, este ano.
Sentindo-se em casa na rua
O local mais apropriado para realizar as batalhas, no entanto, é mesmo a rua, avaliam as integrantes. "A rua é um lugar onde a gente consegue se sentir confortável e as pessoas escutam o que a gente quer falar. As melhores edições que a gente fez foi em praças;, comenta a estudante Karolyne Tuyane, 23, há dois anos e meio na BDG.
Algumas das jovens da BGD começaram a escutar rap dentro de casa, mas a maioria conta que a atividade gerou resistência inicial dos pais. "Eles pensavam no estigma do rap como música de malandro", conta a estudante Elisandra Martins, 23. Mesmo assim, a brincadeira entre amigos virou uma importante forma de se expressar, da qual ela não parece disposta a abrir mão. "As pessoas prestam atenção no que estamos falando."
* Estagiária sob supervisão de Humberto Rezende