Sarah Peres - Especial para o Correio
postado em 16/12/2017 07:40
O brasiliense Genilson Francisco Lopes, mais conhecido como Palhaço Psiu, tem um passado turbulento, recheado de lembranças dolorosas. Ao lado dos irmãos, foi criado, desde os 4 anos de idade, em um orfanato de Planaltina ; atualmente o local está desativado. Genilson sofreu e ainda sofre a dor de ser esquecido pelos pais.
O Natal e Dia das Crianças são datas especiais para o palhaço. Quando foi deixado no orfanato, a mãe lhe prometera que o visitaria sempre nessas datas. Entretanto, Genilson e os irmãos nunca mais a viram. Para diminuir a dor, o irmão mais velho, Geraldinho, comprava pirulitos para ele, alegando serem presentes da mãe.
Genilson chegou a conhecer o pai, que era morador de rua, apenas para sepultá-lo. O irmão, que lhe apelidou de ;Psiu;, fugiu do orfanato e, aos 21 anos, morreu assassinado.
Buscando trilhar um caminho melhor, Genilson fez uma escolha decisiva. ;Em um momento da minha vida, tive que escolher entre o bem e o mal. Mas, para escolher o bem e ser verdadeiro, tinha que perdoar a todos. E assim o fiz. Não tenho raiva, rancor ou mágoa de ninguém;, afirma.
Para ele, ser palhaço é seu destino. Aos 20 anos, um irmão de criação do orfanato, Francisco José, o convidou para trabalhar como animador infantil. ;Agradeço muito ao Francisco, porque foi por intermédio dele que as portas se abriram;, relembra.
O nome Psiu foi o modo que Genilson Francisco Lopes encontrou para homenagear o falecido irmão Geraldinho. O amigo Francisco saiu do ramo e fez carreira como ator. Porém, o Palhaço Psiu tinha se tornado parte da vida de Genilson: ;Continuei como palhaço, sempre gostei. Fazer as pessoas rirem é o que o mais gosto. Levar a alegria é meu remédio, porque sofro ainda hoje pela falta da minha família;.
Em outro momento trágico de sua vida, o Palhaço Psiu também serviu de refúgio diante da dor. Em um catastrófico acidente de carro, Genilson perdeu a filha Raniele, quando ela tinha 15 anos. E é justamente no ofício de fazer as pessoas felizes que o palhaço mantém Genilson forte.
Hoje, além de animar festas, ser requisitado, ele se preocupa com os excluídos, com as crianças carentes. ;Disse para mim mesmo: ;Quando crescer, vou fazer uma campanha em que eu possa distribuir brinquedos novos para crianças pobres;;, conta. Para sua campanha de Natal, só aceita itens novos, dentro da caixa e com o cheirinho de novo. O motivo, ele faz questão de explicar. ;Quero que as crianças tenham o prazer de saber que ganharam algo novo ao abrirem as caixas, que elas sintam a magia do Natal e tenham um momento de felicidade;.
No primeiro ano, pediu a ajuda de um amigo para comprar 10 brinquedos, cuja distribuição foi para crianças em situação de rua. No ano consecutivo, a arrecadação gerou 600 brinquedos novos. O ápice da campanha foi conseguir 10 mil brinquedos.
Uma das histórias mais emocionantes para o Palhaço Psiu foi quando ele voltava para casa, após uma das doações, quando morava em Vicente Pires. Ao avistar duas crianças com brinquedos velhos, parou o carro e pediu para conversar com elas, vestido a caráter.
Emoção
;Perguntei para cada um qual era o sonho deles. O menino disse que era um carrinho e a menina, uma boneca Barbie. Quando entreguei os presentes, a mocinha chorou de tanta emoção e nisso eu também me emocionei. Depois conversei com os pais, para explicar de onde os brinquedos haviam saído e eles agradeceram;, relembra.
[SAIBAMAIS]Em todos esses anos, até estados como Piauí e Bahia entraram na lista de ajuda do Palhaço Psiu. A Organização Não Governamental (ONG) Vida Positiva, que atende crianças soropositivas, também faz parte da lista de ajuda do palhaço. Há 10 anos o animador se desloca para o local para levar alegria às crianças.
;Eu fiz amizade com o pessoal e disse que toda vez que precisassem de mim para animar as crianças, poderiam me chamar, que eu ia de graça. Fazemos espetáculos e toda a arrecadação da bilheteria vai para a instituição;, explica.
O projeto de doação de Natal completa 16 anos. Mas este ano a campanha encontrou dificuldades. Para o animador, a situação econômica do país influencia. ;Está mais difícil por conta da crise, mas eu não desisto, eu corro atrás;. As arrecadações vão até o próximo dia 20.
O trabalho
Os shows do Palhaço Psiu são destinado para todas as idades. ;Não faço trabalho simplesmente para distrair crianças, mas um show completo, com música, dança e animação. Eu busco englobar a todos na festa, interagindo adultos e crianças;, afirma.
Serviço
; Doações até 20 de dezembro, pelo telefone: 98117-6101.
; Parceria 99 Pop: quem utilizar o aplicativo e tiver doação, basta entregar para o motorista que ele entregará o brinquedo para o palhaço. Quem optar por ligar para o artista, ele mesmo se desloca até a pessoa para buscar os brinquedos.