Cidades

Exames de DNA auxiliam a polícia a identificar assassinos e estupradores

O trabalho é importante, principalmente em ocorrências que envolvem grandes investigações

Isa Stacciarini
postado em 26/12/2017 06:00
O trabalho é importante, principalmente em ocorrências que envolvem grandes investigações
As pistas de um crime podem estar escondidas em um mundo microscópico. Nem sempre é a olho nu que agentes da Polícia Civil encontram evidências para acusar o criminoso. Em um trabalho minucioso e científico, policiais cruzam materiais genéticos coletados com exames de DNA e, assim, desvendam autoria de ocorrências, identificam corpos e reconhecem paternidade. Tudo é feito dentro do Instituto de Pesquisa de DNA Forense (IPDNA) com uma equipe de peritos criminais e médicos legistas formada em farmácia, biologia, bioquímica e odontologia.

O trabalho é importante, principalmente em ocorrências que envolvem grandes investigações (Leia Para saber mais). É o caso do assassinato do pesquisador da Universidade de Brasília (UnB) Arlon Fernando da Silva, 29 anos. Nessas ocasiões, quando é possível, peritos coletam vestígios da unha da vítima para tentar identificar se há material genético do criminoso. Em situações de luta corporal, geralmente são encontradas células da pele do bandido em partes do corpo da vítimas como nas unhas.

Outras formas de comprovar a autoria do crime é analisando rastros de materiais biológicos deixados em objetos ou no próprio corpo do suspeito. No caso do latrocínio no centro de Brasília, um adolescente de 14 anos chegou a admitir participação no crime, mas depois voltou atrás. A avó do garoto confessou à polícia que, na madrugada do assassinato, ele chegou em casa, em Ceilândia, sujo de sangue e dizendo que havia feito ;uma besteira em Brasília;. Inclusive lavou a roupa, o que não tinha costume de fazer.


Mesmo assim, os peritos colheram materiais genéticos nas vestes do adolescente. O garoto também passou por exames de DNA com raspagem de saliva da bochecha. Todos os resultados e perfil genético são lançados no banco de dados da Polícia Civil. O sistema permite o confronto das características. As informações também são registradas no banco nacional. ;A investigação é possível desde que tenha material biológico na cena do crime, no corpo da vítima ou no do autor;, contou o diretor do IPDNA e perito médico-legista, Samuel Ferreira. As investigações para identificar o assassino de Arlon continuam sob sigilo.

Casos de estupro

A partir da coleta do material biológico deixado na vítima ou em objetos, como roupas, policiais realizam o exame genético e também conseguem encontrar estupradores. Quanto mais rápido a mulher procurar a delegacia menor é o tempo para a identificação do suspeito (Leia Memória). ;O ideal é que seja em 48 horas e, preferencialmente, nas primeiras 24 horas;, explicou o diretor do IPDNA.

Em casos em que não ocorrem o ato consumado, investigadores procuram outras células que ficaram pelo corpo da vítima e coletam todos os vestígios. Em um ambiente restrito, equipados com computadores e máquinas semelhantes às mostradas em séries policiais, como CSI e Law, equipes especializadas fazem a análise do material.

No período de 1999 a 2017, a Polícia Civil detectou 90 estupradores em série que fizeram 254 vítimas no Distrito Federal. Desse total, 58 estão identificados, 32 casos continuam sob investigação.

Para o professor de direito processual e direito penal da Faculdade Estácio, Radan Nakai, a evolução da ciência, aliada à investigação, contribuiu para desvendar crimes com rapidez. Ele destacou que a perícia, hoje, engloba áreas da física, da química e da engenharia. ;Antigamente, para desvendar um caso, peritos faziam exames de necropsia e autópsia. Hoje existe uma gama de espécies variadas de investigação, como antropologia, psiquiatria e sexologia forense, além da toxicologia;, explicou.

Segundo o professor, o registro de dados e um banco informatizado também ajudam na identificação de um suspeito. ;A perícia hoje é mais importante até que o próprio direito. Bem feita, pode condenar ou absolver um acusado. Como se contesta uma perícia?;, indagou.

Memória


15 de outubro de 2015
Um homem que já tinha sido condenado a 49 anos de prisão por estupro foi novamente preso pelo mesmo crime. O caso aconteceu em 27 de junho de 2015, quando Flávio Augusto Reis, na época com 48 anos, abordou uma mulher de 20 anos em uma parada de ônibus na Asa Norte. Ele abusou sexualmente da vítima e roubou o celular dela. A identificação de Flávio só foi possível graças à coleta do material genético do agressor deixado na vítima. Policiais cruzaram os dados dele deixados em outras cinco mulheres e contataram os abusos. Quase quatro meses depois, ele foi preso em casa, em Samambaia.

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8 de junho de 2016

Um estuprador que abordava as vítimas no fim da Asa Norte foi preso após ter sido identificado pelo material genético coletado nas vítimas. Depois da prisão, o homem fez exame no Instituto de Pesquisa de DNA Forense da Polícia Civil. O resultado confirmou a autoria do crime. Policiais prenderam o homem em casa, no Varjão. Segundo investigação, ele abordava as vítimas com uma faca e as conduzia para uma área verde. Lá, cometia os abusos e fugia. O homem já tinha um mandado de prisão, busca e apreensão.

8 de março de 2017
Um estuprador suspeito de ter praticado pelo menos cinco abusos sexuais em vítimas de Taguatinga e Águas Claras foi preso em Belo Horizonte. Policiais identificaram o homem de 30 anos graças ao material genético recolhido nas vítimas. Os crimes foram praticados em 2014. Na época, o Instituto de Pesquisa de DNA Forense (IDNA) informou que esse foi o primeiro caso de identificação de um suspeito interestadual usando o banco de dados, já que o material genético foi inserido no Banco Nacional e coincidiu com o do homem preso em 2015 em Belo Horizonte pelo mesmo crime.

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13 de março de 2017

O suspeito de ter matado e estuprado a jovem Yusllayne Teixeira Reis, 18 anos, foi preso cinco anos depois graças ao material genético coletado no sêmen do suspeito. O crime aconteceu na Estrutural, em 2012. No fim de 2016, ao lançar os dados do suspeito no Banco Nacional de Perfis Genéticos, a polícia encontrou um caso idêntico em Unaí. Walker Fernandes Faraes já tinha sido preso em Unaí por homicídio e em Paracatu, por estupro. Em 13 de março ele foi localizado em Minas Gerais e transferido para Brasília por ter matado e abusado sexualmente da jovem que voltava do trabalho.



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