Apesar das dificuldades de custeio houve ampliação de verbas na rubrica de investimento. Esse dinheiro faz parte das ações de abertura e ampliação de serviços. Somente entre 2016 e este ano, esse montante subiu 109% ; saltou de R$ 24,3 milhões para R$ 50,9 milhões, segundo levantamento do gabinete do deputado distrital Chico Vigilante (PT). Parte significativa dos recursos foram aplicados no programa Saúde da Família, aposta do secretário da área, Humberto Fonseca, para reestruturar a atenção básica.
Gargalos
Os impactos da falta de dinheiro na saúde nos últimos anos apareceram comumente no início do segundo quadrimestre (por volta de maio). Se tudo sair como a secretária de Planejamento, Orçamento e Gestão, Leany Lemos, projetou, não haverá esse risco em 2018. ;Estamos num trabalho de ajuste fiscal nos últimos três anos. O orçamento pode não ser confortável, mas é realista;, destaca.
Apesar dos argumentos do governo, quem depende da rede pública não sente os impactos do investimento no setor. Ontem, a cozinheira Meire Vieira de Souza, 38 anos, esperou por quase cinco horas para ser atendida no Hospital Regional da Asa Norte (Hran). Ela é moradora de Valparaíso e, após uma semana sentindo dores fortes no peito, procurou ajuda médica. Durante a espera, chegou a desmaiar no pronto-socorro. ;Eles falaram que não tem clínica médica. Ligamos para o Samu e informaram que não podem me buscar aqui. Essa situação é muito complicada. Se não tem médico, é melhor fechar as portas. Pelo menos a gente não fica aqui esperando sem uma resposta;, lamenta.
Gestão dos recursos
Membro do Conselho de Saúde do DF, Helvécio Ferreira da Silva aponta que a gestão dos recursos é o principal desafio. ;A saúde do DF requer uma reorganização total. A gente vê a situação do HRT, do Hospital de Ceilândia, é tudo precário. É necessário um planejamento a longo prazo. Não se faz saúde sem dinheiro e sem planejamento;, defende.
Helvécio reconhece que houve melhorias na capacitação e gestão de pessoal, mas que a estrutura dos hospitais e das UPAs ainda está aquém do necessário. ;É preciso uma reestruturação da atenção secundária e terciária, que é onde estão os principais aparelhos de exames. O investimento em máquinas e equipamentos não é suficiente. Na minha avaliação, o orçamento destinado à saúde tem se revelado menor a cada ano;, conclui.
Para Vitor Gomes Pinto, integrante do Observatório da Saúde do DF, os recursos provenientes do Fundo Constitucional deveriam ser suficientes para atender a demanda do DF. ;O orçamento do Distrito Federal para a saúde e a execução de políticas na área são muito estranhas, porque tem apoio do governo federal e, ao mesmo tempo, têm os salários mais altos do país. Fica um contrassenso, principalmente porque o governo local acha que a verba do fundo constitucional nunca é suficiente, provavelmente porque usa o recurso para cobrir outras despesas;, critica.
Ele avalia que houve melhorias na atenção à saúde pública e na gestão do Hospital de Base, que passou a ser administrado por um conselho de 11 pessoas indiretamente, mas ressalta que outros setores também precisam ser privilegiados. ;A remuneração certamente não deve ser uma das áreas prioritárias. Acho que o foco deveria ser na questão epidemiológica, pelo perfil da população do DF. Nesse sentido, entram as doenças crônicas, as doenças não transmissíveis, doenças cardíacas, câncer. Esses são os grandes responsáveis pelas taxas de mortalidade;, opina.