Mayara Subtil - Especial para o Correio, Walder Galvão*
postado em 12/01/2018 06:00
O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) avalia um parecer técnico que contesta a versão da Polícia Civil sobre as circunstâncias da morte do motorista da Caixa Econômica Federal Luís Cláudio Rodrigues Figueiredo. O caso aconteceu em 14 de julho de 2017 (leia Linha do tempo). De acordo com a Corregedoria da corporação, o homem teria se suicidado na 13; Delegacia de Polícia (Sobradinho) após ser detido por embriaguez ao volante. Porém, a análise, realizada a pedido da família, indica que Luís Cláudio foi vítima de homicídio qualificado.
O documento é estudado por um perito do MPDFT, por recomendação do Núcleo de Investigação e Controle Externo da Atividade Policial do órgão. A avaliação técnica havia sido entregue aos parentes do motorista em 20 de outubro do ano passado pelo perito Leví Inimá de Miranda, da Polícia Civil do Rio de Janeiro. O relatório chegou às mãos do Ministério Público no mês seguinte. Nele, consta que Luís Cláudio morreu de ;asfixia mecânica; por estrangulamento, golpe conhecido como mata-leão ou gravata, dentro da unidade policial.
Leví Inimá levou dois meses para analisar toda a investigação. A desconfiança começou com a quantidade de informações que Luís Cláudio forneceu durante depoimento à polícia, tendo em vista que o teste de bafômetro apontou 1,35 miligrama por litro de ar. ;Ele estava cambaleante e sem condições de assinar o próprio nome, segundo a polícia. (Para) Quem está falando palavras sem sentido, como responderia a todas as perguntas e entregaria quatro contatos? Não tem como;, questiona o perito carioca.
Segundo o inquérito policial, Luís Cláudio ingeriu bebida alcoólica, assumiu o volante do veículo e atingiu a traseira do carro de um policial militar. Era por volta das 15h de 14 de julho. A colisão aconteceu a 600 metros de distância da casa do motorista, na QMS 1b, no Setor de Mansões de Sobradinho. Além disso, ele tentou fugir após a batida, mas o militar da Rotam o impediu. Por apresentar sinais de alcoolemia, o policial encaminhou o motorista, algemado, para a delegacia. A família chegou à 13; DP cerca de 1h depois. Pagou a fiança de R$ 1,2 mil e, em breve, esperava rever Luís Cláudio. Pouco depois, porém, investigadores informaram que ele havia sido encontrado morto dentro da cela, com a camiseta enrolada ao pescoço.
Pouco mais de um mês após o crime, a Polícia Civil concluiu as investigações. O delegado Marcelo Zago, responsável pelo caso, confirmou que Luís Cláudio cometeu suicídio. Os agentes solicitaram, ainda, um estudo de autópsia psicológica ao Instituto de Psiquiatria Forense da PCDF. A análise não identificou quadros de depressão ou de tendências suicidas no motorista. Entretanto, apontou que ele estava sujeito a cometer ;suicídio por impulso;. Consultada sobre o novo documento, a Polícia Civil do DF informou, em nota, que não se pronunciará sobre o caso.
Inconformidade
Desde o início, o caso é marcado pela incredulidade dos familiares, que não aceitam a versão de suicídio. Ainda em julho do ano passado, os parentes divulgaram imagens do corpo após a necropsia feita por peritos do Instituto de Medicina Legal (IML). As fotos mostram lesões nos pulsos, tornozelos, no cotovelo, quadril, pescoço e nas costas. ;O laudo preliminar indica suicídio por sufocamento. Isso não aconteceu. O Luís preparava a festa de aniversário dele, que aconteceria no dia seguinte;, lembrou o primo do motorista Eduardo Feitoza, estudante de direito.
Outro ponto questionado pela família diz respeito à forma como o motorista estava ao ser encontrado na cela. Eduardo contou que ele não sabia amarrar o cadarço dos sapatos. ;Luís até comprava sapatos sem cadarços por não saber amarrá-los. Como ele agiria assim?;, questionou.
O advogado da família, Paulo Feitoza, também primo de Luís, desconfia da veracidade do teste que constatou alcoolemia. ;Além disso, não vistoriaram os carros tanto do Luís quanto do policial. Não acreditamos que esse teste aconteceu;, argumentou. ;Queremos respostas. Há muitas inverdades e lacunas abertas. O Luís não se matou;, concluiu.
(Para) Quem está falando palavras sem sentido, como responderia a todas as perguntas e entregaria quatro contatos? Não tem como;
Leví Inimá de Miranda, perito da Polícia Civil do Rio de Janeiro
1,35
Quantidade de miligrama por litro de ar medida pelo teste do bafômetro feito em Luís Cláudio
* Estagiário sob supervisão de Guilherme Goulart