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Cidade limitada em transporte público faz saltar número de adeptos ao carro

Em 2017, mais de 60 mil veículos foram vendidos no Distrito Federal. Mesmo com o custo de manutenção e o alto preço do combustível, a população busca conforto e comodidade em uma cidade limitada em transporte público e ciclovias




A falta de pontualidade dos coletivos fizeram com que Luís Filipe Barreto, 22, deixasse de utilizar o serviço. ;Eu sempre andei de ônibus e gostaria de continuar usando, mas, devido a essa questão de horários, eu dou preferência para o meu carro. É muito ruim ficar esperando por um ônibus que eu nem tenho a certeza de que vai passar;, comenta. O tecnólogo em gestão pública diz que a segurança também é levada em conta. ;Não que eu esteja completamente a salvo, mas é cada vez mais comum o número de assaltos no transporte público;, conta.

De acordo com dados da Secretaria da Segurança Pública e da Paz Social, em 2017 foram 2.681 roubos em transportes coletivos no Distrito Federal. O número é o segundo maior em comparação aos últimos quatro anos. Em 2016, ocorreram 3.130 crimes, contra 2.397 em 2015, e 2.254 em 2014.

No caso do comerciante Alisson Melo, 21, ter um automóvel é questão de necessidade. No início do ano, ele comprou um veículo para usá-lo no trabalho. ;Antes, eu precisava andar com as minhas mercadorias (guarda-chuvas) nos ônibus e no metrô e sofria preconceito. Incomodava, porque eu ficava esbarrando nas pessoas. Agora, com o carro, eu posso me organizar melhor;, comemora. Ele não pensa em voltar a utilizar os transportes coletivos. ;Eu continuaria a ter os mesmos problemas. Sem contar que não preciso mais esperar pelos horários dos ônibus ou do metrô. É mais confortável, porque eu tenho um espaço maior. Quando dependia do transporte público, eu ficava em pé ou sentava em cima das mercadorias;, acrescenta.

Medidas

Apesar do conforto que um carro pode oferecer, especialistas apontam que esse meio de transporte dificulta o trânsito na cidade. De acordo com o professor do Departamento de Engenharia Civil da Universidade de Brasília (UnB), Paulo César Marques, o veículo auxilia de forma individual. ;Você pode ir para qualquer lugar, a qualquer hora e sem precisar de ninguém. Mas ele não é uma solução para a mobilidade urbana. O espaço que um ônibus com 40 passageiros ocupa é o mesmo de três carros com apenas uma pessoa dentro;, ressalta.

Para Paulo César, muitas pessoas escolhem o carro pelas condições do transporte coletivo de Brasília. ;É preciso mais investimento para o transporte público de forma a tornar esse serviço atrativo para a população. Porém, esse serviço não recebe a atenção devida, e as pessoas buscam formas de sair do sistema. Muitos decidem adquirir um automóvel;, avalia.

O secretário de Mobilidade do Governo do Distrito Federal, Fábio Ney Damasceno, destaca que o DF tem uma das maiores frotas do Brasil e a forma como Brasília foi planejada prioriza o uso de automóveis. ;As características da cidade são voltadas para se locomover de carro. As avenidas são largas, e as pessoas precisam percorrer longas distâncias;, explica. Segundo ele, a implementação do bilhete único, o sistema de bicicletas compartilhadas, a regularização de aplicativos de transporte particular e a integração entre ônibus e metrô são medidas que incentivam a reduzção do uso do carro. No primeiro semestre do ano, será disponibilizado aos passageiros um sistema para acompanhar os ônibus via GPS para saber o horário exato em que ele passará pelos pontos. ;Nós estamos promovendo um conjunto de ações para que a população do DF decida o que é melhor. As pessoas precisam refletir sobre alguns pontos, como conforto, rapidez e economia, para decidir qual transporte utilizar;, diz Fábio.