Cidades

Blocos de carnaval reclamam de falta de apoio da Secretaria de Cultura

Uma das sensações da festa momesca de Brasília, Babydoll de Nylon não sairá às ruas neste ano sob alegação de não ter dinheiro para a estrutura

Jéssica Eufrásio*
postado em 19/01/2018 05:56
Mais de 100 mil tomaram a Praça do Cruzeiro em 2017: Robertinho do Recife, o homenageado, animou o público
A pouco menos de um mês para o carnaval, uma notícia pegou os foliões brasilienses de surpresa. Um dos blocos mais badalados da capital, o Babyoll de Nylon estará de fora das comemorações deste ano. Os organizadores do grupo, criado em 2011, se reúnem em uma coletiva de imprensa hoje, às 9h, para anunciar os motivos da decisão. Mas a assessoria de comunicação antecipou que a definição tem a ver com a falta de estrutura e que deve voltar às ruas só em 2019.

;Uma das coisas que colocamos em relação ao carnaval de 2018 foi a complicação gerada, principalmente, pela falta de incentivos. No ano passado, reunimos 160 mil pessoas. Por isso, precisamos de uma estrutura um pouco maior, mas nem a Secretaria de Cultura nem o GDF nos deram essa opção neste ano;, informou o Babydoll de Nylon, por meio da assessoria. No ano passado, o bloco teve o seu ápice, com a participação de Robertinho do Recife. É dele e de Caetano Veloso a música Babydoll de Nylon, que se tornou nome e hino do bloco candango. Em nota, a Secretaria de Cultura comunicou que não foi informada sobre a desistência.

Discordâncias

Coletivos de blocos alternativos da capital também reclamam da falta de comunicação com o Executivo. Eles se queixam da limitação de tempo de apresentação dos artistas que receberão recursos públicos, da divisão do orçamento e do processo de seleção das atrações. O GDF distribuirá R$ 525 mil. As inscrições vão até quarta-feira. O resultado será divulgado pela Secretaria de Cultura em 2 de fevereiro. Para serem escolhidos, os participantes devem acumular pontos de acordo com diversas especificações do edital. Entre elas, blocos ou atrações artísticas com mais de cinco anos de atuação têm peso 3 no cálculo da pontuação.

Produtora cultural e articuladora do Coletivo dos Blocos Alternativos de 2018, Dayse Hansa conta que apresentou uma série de sugestões para modificar a forma do edital. ;Para nós, não cabe pensar na organização de um evento como esse a menos de 30 dias. Precisamos ter uma pré-produção com um tempo muito razoável. A nossa situação com o GDF e, mais especificamente, com a Secretaria de Cultura, é a falta de diálogo porque estamos sedentos de informações. As questões mais sensíveis são o horário para apresentação e a arbitrariedade do edital;, afirmou Dayse.

Ainda de acordo com Dayse, o edital beneficia artistas mas não o conjunto do carnaval de rua realizado por blocos e artistas de rua profissionais e amadores. ;Qual bloco de vai conseguir comprovar um cachê de R$ 30 mil por uma apresentação de duas horas? São R$ 525 mil destinados a eles e R$ 300 mil para contemplar 10 atrações locais tocando até duas horas. Fora o Galinho de Brasília, não sei quais outros grupos ou artistas podem chegar a esse valor. Isso não é o desejado para blocos alternativos;, lamentou a produtora cultural.

Demandas coletivas

A Secretaria de Cultura comunicou, por meio de nota, que o edital de chamamento público foi elaborado para atender tanto às solicitações de artistas locais quanto àquelas apresentadas pelos representantes de blocos de rua. Segundo a pasta, os artistas que participarão ainda não foram selecionados e, realizar as modificações sugeridas pelo coletivo, implicaria em uma mudança do objeto do edital, alteração que resultaria na divulgação dos resultados do certame somente depois do carnaval. A pasta ainda reconheceu que o contato com os coletivos de blocos de rua ocorreu com atraso.

Já em relação ao tempo de desfile, a Secult afirmou que todos os blocos têm a liberdade de estipular os horários em que permanecerão na rua. ;Cabe à administração pública, via Ciac (Centro Integrado de Atendimento ao Carnavalesco), convocar o responsável pelo bloco para negociação de horários (e nunca imposição) para analisar alternativas de mudança de horário, de modo a atender a demanda do bloco, a da vizinhança (em caso de blocos que saiam em áreas residenciais) e do próprio folião, que precisa ter garantido seu acesso aos serviços básicos do estado, a exemplo de transporte público;, informou a nota.
* Estagiária sob a supervisão de Renato Alves

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