Jornal Correio Braziliense

Cidades

Escolas de Ceilândia e Brazlândia aprovam mais de 100 estudantes na UnB

Centros de ensino médio das duas regiões administrativas conseguiram aprovar mais de 100 estudantes na Universidade de Brasília, por meio do PAS e do Sisu

[FOTO1096871]

Ao menos duas escolas públicas do Distrito Federal bateram recorde no número de aprovados no Programa de Avaliação Seriada (PAS). Localizadas em Ceilândia e Brazlândia, o Centro de Ensino Médio (CEM) 2 e 1, respectivamente, levaram mais de 100 alunos a Universidade de Brasília (UnB). O crescimento no número de admitidos se deve a um formato de ensino focado no vestibular. Além disso, diretores e alunos ressaltam que o sistema de cotas para alunos da rede pública também é um influenciador para o resultado positivo.

A terceira etapa da seleção contabilizou 12.016 inscritos, que concorreram a 4.222 vagas, sendo 2.112 oportunidades para o primeiro semestre e 2.110 para o segundo. Em 2017, 43,4% das vagas do PAS, da UnB, foram ocupadas por alunos da rede pública. Até ontem, a Secretaria de Educação do DF não havia finalizado o levantamento de 2018.

[VIDEO1]

Só na primeira chamada, 58 alunos do Centro de Ensino Médio 1 de Brazlândia garantiram uma vaga na UnB por meio do PAS. Foi o ano com o maior número de aprovações no colégio, e a expectativa da diretoria é que, até o fim do ano, com as próximas chamadas somada às vagas garantidas por meio do Sistema de Seleção Unificada (Sisu), mais de 100 alunos tenham garantido ingresso na UnB, quase 10% dos 1.368 alunos que estudam no colégio.

Construindo a própria história

Ayana Oliveira, 16 anos, vai cursar ciências sociais na UnB. A adolescente conseguiu a aprovação pelo Sisu e pelo PAS, mas, ressalta, a reserva de cota para escolas públicas ajudou. ;Ter as cotas é uma vitória imensa, pois existe uma diferença muito grande entre a educação que temos e a que as escolas particulares fornecem;, comenta ela, que, aos 15 anos, conseguiu 980 na redação do PAS.

[SAIBAMAIS]Para o diretor do CEM 1, Vinícius Ribeiro, os números podem ser expressivos, mas não demonstram o tamanho da vitória. ;Essa é a oportunidade da vida deles. São meninos da cidade mais longes do centro, que entram aqui achando que a UnB é um lugar que não pertence a eles, que é só para ricos. Mas, agora, vão ter a chance de construir a própria história.;

Na didática, a direção faz um projeto todo ano, que precisa ser aprovado pela Secretaria de Educação. Ele envolve oficinas de exatas, onde os alunos têm, a cada duas semanas, uma aula prática exemplificando o teórico aprendido em sala de aula. ;Isso, além de os ajudar na prova, auxilia na escolha do futuro profissional, tanto que 25% dos aprovados neste ano vão cursar alguma engenharia;, conta o diretor. Além disso, uma das aulas semanais de português é voltada para redação, e os alunos fazem bimestralmente provas por áreas, que os inserem no formato de avaliação dos vestibulares da UnB.

Empenho que gera resultado

Desde o modo de falar e se comportar, Lamara de Souza, 18 anos, mostra a seriedade e o comprometimento de alguém focado em entrar em uma universidade pública. O empenho teve resultado na última sexta-feira. Ela se tornou a tornou a primeira da família a ser aprovado em um curso de ensino superior. ;Tive a maior nota entre os alunos da rede pública no curso de agronomia. Meu próximo objetivo é me tornar uma excelente profissional;, afirma. Após o resultado, a garota levou a mãe, a avó e a tia, com quem mora, para comemorar na UnB. Ela ainda guarda na bolsa o cartaz que pintou com a palavra ;aprovada;.

A próxima luta dos alunos é para garantir o transporte para o UnB, pois Brazlândia fica a 56,3km do Campus Darcy Ribeiro e não tem uma linha de ônibus que faça o percurso. Somados aos aprovados nesta semana no Centro Médio 2 de Brazlândia, mais de 80 alunos entraram na UnB. Porém, quando Khaluy Jhaffe, 17 anos, foi aprovado em administração e procurou o Transporte Urbano do Distrito Federal (DFTrans), soube que não havia demanda suficiente para uma nova linha. ;Vamos ter que acordar antes das 5h para pegar um ônibus para a Rodoviária do Plano Piloto e, de lá, outro para a L2 Norte;, explica. Ao Correio, o DFTrans alegou haver só a possibilidade de os estudantes de Brazlândia chegar à UnB por meio da integração de dois ônibus.

Sucesso

Quem entra no Centro de Ensino Médio 2, em Ceilândia, é recepcionado com a frase ;Seja bem-vindo a melhor escola de Ceilândia;, em um mural. A ideia partiu do diretor da instituição, Wilson Venâncio, 55 anos, para instigar os alunos a sempre se doarem ao máximo. Com 50 estudantes aprovados na UnB na primeira chamada do PAS, Wilson acredita ter cumprido o objetivo do letreiro.

No ano passado, 46 passaram na primeira etapa do PAS e mais 40 nas outras seleções. No entanto, o diretor conta que o cenário nem sempre foi positiva. ;Comecei a trabalhar aqui em 2000. Lembro que quando aprovamos seis pessoas, até soltamos fogos;, brinca. De acordo com Wilson, a forma de ensinar da escola evolui a cada ano, para focar cada vez mais nos vestibulares e na vida acadêmica.

Aos 18 anos, a estudante Rafaela Moura Curinga será uma das estudantes do curso de medicina da UnB em 2018. Ela é filha única de um porteiro e uma dona de casa. A casa de Rafa, como é chamada pelas amigas, fica em Ceilândia e no mesmo lote vivem a avó e a tia. ;Não estudei tanto assim não, só prestava atenção nas aulas mesmo;, comenta. Para ela, o único segredo para ser aprovada por meio do PAS foi não duvidar do próprio sonho, o de ser médica. ;Quero fazer especialização em neurocirurgia. Meu coração sempre me chamou para essa área;, planeja.

A estudante Lays Souza Pereira, 18 anos, estava editando o currículo quando recebeu a notícia de da aprovação para letras. ;Estava preocupada, já queria começar a procurar emprego. Uma amiga me ligou e disse que eu tinha passado. Na hora, só chorei;, conta. Lays também cresceu em Ceilândia e disse que o sonho dela era ter o nome estampado na frente da escola, junto aos aprovados. ;Todos os dias eu falava pra mim mesma ;vou passar na UnB;, lembra.

Debora Cristina da Silva Bezerra, 18 anos, mora em Samambaia e ia diariamente assistir aula no CEM 2. Por morar longe, precisava sair cedo de casa para ir a escola. A garota é diagnosticada com Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDH) e Deficiência Intelectual (DI), porém, optou por fazer o vestibular pelo sistema universal. ;Muita gente não acreditava em mim, mas eu sempre acreditei. Meus amigos sempre me deram apoio. Agora, vou cursar ciências naturais e me especializar em biologia;, comemora.