Deborah Novais - Especial para o Correio, Bruna Lima - Especial para o Correio
postado em 31/01/2018 13:57
Uma mulher foi presa em Pernambuco após denúncia de estelionato. Mais de 20 pessoas, dentre elas vários brasilienses, a acusam de aplicar golpes envolvendo aluguéis de apartamento de temporada. Segundo as vítimas, a mulher vendia falsos pacotes de hospedagem no Resort Marulhos, em Porto de Galinhas. Sandra Mara de Azevedo Silva Probst, 47 anos, é suspeita de prática de estelionato ao anunciar as falsas estadias pela internet.
De acordo com o delegado responsável pelo caso, Erivaldo Guerra, a primeira denúncia teria sido feita por uma vítima de Minas Gerais, que relatou ter alugado um flat, mas a acusada teria cancelado a reserva um dia antes, alegando problemas no ar condicionado. No entanto, o depósito de R$ 7 mil tinha sido feito. "Em uma semana ela alugava os flats para três, quatro pessoas. Quando elas chegavam, não tinha a reserva". O prejuízo estimado pela polícia ultrapassa os R$ 50 mil.
As investigações apontam que Sandra atuava sozinha. Primeiramente, ele ligava para os recepcionistas do hotel para conseguir os contatos dos reais proprietários dos flats. Depois, fazia as reservas, em nome de terceiros. A suspeita, então, depositava os cheques sem fundo e gerava um contrato, repassado às vítimas. Após receber o dinheiro, ela cancelava o contrato ou simplesmente não dava mais retorno. Quando os contratantes chegavam ao local da estadia, eram impedidos de entrar.
Ela já responde a outros dois processos semelhantes por estelionato e aguardará o julgamento em prisão preventiva.
Vítimas do DF
Ao menos quatro brasilienses acreditaram ter a estadia garantida em um complexo de flats e hotel de Porto de Galinhas (PE), mas relatam terem sido enganados pela mulher. A administradora Nayara*, 45 anos, o cunhado e a supervisora administrativa Marina*, 36, fizeram depósitos na conta da suposta proprietária de um apartamento para assegurar a hospedagem em janeiro. Contudo, a mulher cancelou a reserva e não fez a devolução da quantia.
[SAIBAMAIS]A arquitetura da fraude teve início com anúncios publicados, em pelo menos sete grupos de vendas, no Facebook. As propagandas ofereciam diárias no Marulhos Suites Resort. ;Quatro dias antes da minha viagem, a pessoa ligou falando que tinha dado um problema no ar-condicionado do flat. Nós ainda insistimos e falamos que colocaríamos ventiladores, mas ela disse que não teria mais jeito e que devolveria o dinheiro;, conta Nayara.
Para um período de seis dias, entre 7 e 13 de janeiro, Nayara desembolsou R$ 2,8 mil divididos em duas vezes, para a reserva de dois quartos. Ela viajaria com o marido e os filhos, mas após desconfiar dos agendamentos falsos, cancelou as passagens e ainda somou prejuízo superior a R$1 mil em multas.
;Recebemos cerca de 13 queixas relacionadas à suposta estelionatária, que de fato está usando o nome do Marulhos, que, por sua vez, também é vítima. De posse de algumas fotos da parte interna do complexo, a mulher passou a divulgar a venda das diárias em diversos sites;, esclarece Diógenes Varela, comissário da 43; Delegacia de Polícia (Porto de Galinhas). Ele ressalta que houve casos de pessoas que chegaram a pagar mais de 10 diárias e que além de vítimas do DF, pessoas de São Paulo e Minas Gerais também foram enganadas. O condomínio confirma que a mulher não é proprietária e nem possui autorização para alugar o imóvel.
Aperto
Marina, que ia se hospedar com as duas filhas, de 9 e 14 anos, e a família de uma amiga, chegou a viajar para Recife, antes de entender que estava sendo ludibriada. Ela pretendia passar três dias na capital pernambucana e mais sete em Porto de Galinhas. Para assegurar as vagas, depositou, em outubro, R$ 3 mil na conta do marido da golpista, valor que supostamente incluía o translado de ida e volta do aeroporto ao resort. O período de estadia coincidia parcialmente com o contratado por Nayara.
Com a mesma alegação do ar-condicionado estragado, a suposta estelionatária tentou mudar os dias de hospedagem no Marulhos Suites Resort. Por pressão da supervisora administrativa, no último dia da sua permanência no hotel de Recife, a golpista foi até o local. ;Ela estava muito desconfiada e olhando de um lado para o outro, falando baixo e rápido;, descreve a vítima. A mulher afirmou que, caso não conseguisse resolver a situação, pagaria para que as clientes ficassem mais um dia no estabelecimento. ;Na primeira noite em Porto de Galinhas, dormimos no quarto de uma senhora bem humilde que cedeu para a gente;, conta Marina.
Ameaças
A mulher que aplicou o golpe tentou diversas vezes intimidar Nayara e a família, inclusive no trabalho. ;Ela ameaçou meus filhos, falando que não era para eles a exporem, caso contrário botaria a polícia atrás deles por crime de injúria. Ela tenta fazer um jogo inverso para ver se você recua na divulgação do golpe;, alega. A administradora chegou a receber áudios, com ameaças como ;se quisesse ir para a guerra;.
Como a mulher aplicou o golpe em diversas pessoas, as denúncias começaram a se espalhar pelos grupos do Facebook. Então, a estelionatária enviou ameaças à Marina, com o argumento de que a processaria por crime virtual. Ela também alegou que o marido trabalha no Banco do Brasil e, por isso, teria acesso a todos os dados dela, já que a supervisora administrativa é correntista desse banco. Contudo, a instituição financeira afirma que o homem é funcionário aposentado e que ;preserva as informações que lhe são confiadas pelos clientes e controla o acesso a elas, em alinhamento com a legislação vigente e com as melhores práticas;.
Dicas para não ser vítima de estelionato
"A recomendação é não confiar em preços muito abaixo do mercado. Quando a situação está muito favorável e atrativa, é necessário apurar melhor a idoneidade da empresa ou do vendedor", orienta Bruno Cunha, delegado-chefe da 21; Delegacia de Polícia (Taguatinga Sul)
;É bom as pessoas sempre se cercarem de mais garantias. Em casos iguais ao do Marulhos, é interessante que elas liguem para o condomínio para confirmar se a reserva realmente foi feita.; ; Diógenes Varela, comissário da 43; Delegacia de Polícia (Porto de Galinhas).
* Nomes fictícios para preservar as identidades das vítimas