Na casa do suspeito, havia uma mina de ouro em medicamentos. Juntos, custam mais de R$ 138 mil. Foram encontradas caixas de Rituximab, usado no tratamento de leucemia grave. Um frasco chega a custar R$ 12 mil. Outro remédio aprendido é o AmBisome, indicado no tratamento de infecções em pacientes com câncer e Aids. Uma caixa não sai por menos de R$ 21 mil. Todos os produtos foram apreendidos, além de três carros usados pelo investigado, que está preso no Departamento de Polícia Especializada (DPE). Ele será transferido para São Paulo, onde tramita a investigação, sob a responsabilidade do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público de São Paulo. Os investigados devem responder por organização criminosa, crime contra a saúde pública e receptação dolosa qualificada. Entre os alvos, há um servidor público de São Paulo e um empresário do Espírito Santo.
No Distrito Federal, a operação foi realizada pelo Gaeco do DF, como cooperação ao trabalho dos colegas de São Paulo, e pela equipe de policiais civis da Coordenação de Combate ao Crime Organizado, contra a Administração Pública e contra a Ordem Tributária (Cecor). Além da prisão, os policiais realizaram busca e apreensão na casa do suspeito, quando foram encontrados os medicamentos, aparelhos celulares e documentos.
A operação é desdobramento das investigações iniciadas pelo Gaeco de São Paulo, em abril de 2015, que apontou a atuação de um grupo criminoso que estaria obtendo medicamentos de alto custo de origem ilícita, por meio de furto, roubo e desvio de órgão público, para, em seguida, por meio de empresas de fachada, vendê-los a clínicas e hospitais. As vendas eram realizadas pelo escritório sediado em Bauru (SP), onde atuavam os líderes da organização. No Distrito Federal, a apuração ainda está no início. O morador do Pôr do Sol, em Ceilândia, foi apontado durante a investigação como fornecedor de medicamentos para a quadrilha.
A pedido do Correio, técnicos do Ministério da Saúde e do Conselho Regional de Farmácia (CRF-DF) avaliaram os medicamentos apreendidos no DF. As drogas não são de livre comércio. A compra é comumente negociada entre órgãos e hospitais públicos e o laboratório fabricante. O Rituximab, por exemplo, sequer é distribuído a pacientes. Seu uso é restrito ao tratamento do doente quando está hospitalizado.
No DF, cerca de 30 mil pacientes recebem mais de 200 remédios de alto custo gratuitamente. A Secretaria de Saúde estima que serão necessários R$ 270 milhões para custear a compra de medicamentos em 2018. Em média, o Ministério da Saúde investe R$ 15 milhões todos os anos para a manutenção do serviço na capital do país.
Estoques
A Secretaria de Saúde também analisou as fotos dos medicamentos apreendidos e afirma não acreditar que os produtos tenham sido desviados de seus estoques. Segundo a assessoria do órgão, o Captopril não é a marca que a Secretaria de Saúde compra desde 2014. O Rituximabe é fornecido pelo Ministério da Saúde, mas a secretaria não fornece a concentração que aparece na embalagem. A apresentação do Rituximabe da SES necessita de refrigeração. O AmBisome, que aparece em outra foto, é fornecido pelo Ministério da Saúde, mas também não é essa marca. Haveria coincidência apenas no Cubicin (Daptomicina). O remédio, segundo o Correio apurou, um antibacteriano custa, em média, R$ 2 mil.
Segundo a Secretaria de Saúde, todos os editais de compra, por exigência de legislação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), determinam que no rótulo apareça a inscrição ;venda proibida ao comércio;, que não se vê nas caixas apreendidas. Ainda segundo a pasta, nos relatórios de auditoria das etapas de armazenamento e distribuição de medicamentos produzidos pelos órgãos de controle e transparência do DF não houve registro de indícios de desvios de medicamentos, nem inconformidades que pudessem sinalizar a subtração nas áreas de armazenamento centrais da Secretaria de Saúde do DF.