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Saiba como proteger seus dados e comprar na internet com segurança

No mês passado, dados pessoais de quase 2 milhões de clientes da Netshoes foram vazados. Especialistas falam dos cuidados a serem tomados para que os usuários do e-commerce protejam seus dados

Augusto Fernandes
postado em 05/02/2018 06:00

No mês passado, dados pessoais de quase 2 milhões de clientes da Netshoes foram vazados. Especialistas falam dos cuidados a serem tomados para que os usuários do e-commerce protejam seus dados

A cada dia, as compras pela internet crescem em todo o país. Segundo informações do Consumo On-line no Brasil, pesquisa divulgada pelo SPC Brasil e a Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), entre junho de 2016 e junho de 2017, nove em cada 10 internautas fizeram ao menos uma compra na web. Para 43% dos entrevistados, o volume de compras feitas pela internet em 2017 aumentou com relação ao anto anterior.

Razões como preços mais baixos, economia de tempo, facilidade para comparar preços e comodidade fazem com que mais pessoas optem por adquirir um produto sem sair de casa. Os internautas, contudo, a partir do momento em que cadastram suas informações em sites de compras, correm o risco de ficar vulneráveis.

No dia 25 de janeiro, a Netshoes, uma das principais lojas on-line de artigos esportivos do Brasil, teve informações de 1.999.704 clientes vazadas, após a invasão de um hacker. O incidente de segurança expôs dados pessoais como nome, CPF, e-mail, data de nascimento e histórico de compras.

Entre os afetados, estão pessoas ligadas a órgãos públicos, como a Presidência da República, a Polícia Federal e a Câmara dos Deputados. O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) recomendou à empresa tomar providências sobre o acontecido e não efetuar qualquer tipo de pagamento ao invasor, seja em moeda real, seja virtual. A Netshoes acatou o pedido e solicitou audiência com os membros do MPDFT a fim de estabelecer medidas que resolvessem o caso.



O ocorrido reforça a necessidade de os usuários tomarem cuidado ao escolherem fazer uma compra pela internet. De acordo com o presidente da Associação Nacional de Defesa do Consumidor (Andecon), Rodinei Lafaete, os consumidores não podem economizar em medidas de segurança.

;As pessoas precisam tomar todo o tipo de cuidado possível, devem checar as informações quantas vezes for necessário. Se possível, ligar para o telefone da empresa para sanar dúvidas e confirmar algum dado ou compra. devem tirar print do site, para poder comprovar alguma informação futuramente. Nesse sentido, pecar pelo excesso não faz mal a ninguém;, recomenda.

Presidente da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (Abcomm), Maurício Salvador aconselha o descarte de e-mails com anexos e links suspeitos e também a atenção às informações que aparecem na página. ;É preciso observar se na página em que se está digitando os dados aparece a imagem de um cadeado, próximo ao link do site, e se o endereço começa por ;https;;, indica. Em sites desse tipo, a comunicação é criptografada, o que eleva o grau de segurança das informações digitadas.

[SAIBAMAIS]Lafaete aponta, contudo, que as medidas de prevenção dos internautas não são suficientes para garantir a segurança dos dados. Para ele, os sites são os principais responsáveis em proteger as informações dos clientes. ;A partir do momento em que uma pessoa se cadastra no endereço eletrônico, ela estabelece um vínculo com a empresa, que se torna guardiã das informações cadastradas. São dados sigilosos e que não podem serem transferidos sem autorização do responsável. Se uma empresa se propõe a estabelecer um serviço, ela tem que ter a capacidade de gerir o site e fornecer segurança para os usuários;, pontua.

Os especialistas acreditam que até as páginas consideradas confiáveis estão suscetíveis aos perigos da internet. ;Apesar de todos os cuidados que os consumidores tomam, eles sempre estarão em situação de vulnerabilidade. Para muitas empresas, investir em tecnologias de segurança é muito caro;, explica José Geraldo Tarin, diretor do Instituto Brasileiro de Estudo e Defesa das Relações de Consumo (Ibedec).

Para o presidente da Abcomm, independentemente do custo, é imprescindível o investimento a ser feito pelas empresas de e-commerce. ;Toda empresa que armazena dados sensíveis dos consumidores precisa de um bom sistema de segurança. Recorrer a um serviço especializado não é caro, se comparado a outros gastos que a empresa tem. Para marcas reconhecidas mundialmente, esse é um bom investimento;, analisa.

Maurício Salvador esclarece ainda que as próprias empresas precisam orientar os funcionários. ;Não adianta nada a instituição investir milhões em segurança e não oferecer treinamento adequado. Se isso não for feito, pode acontecer de o empregado contaminar o site com vírus ou deixar que uma pessoa cadastre uma senha fácil de ser descoberta;, orienta.

Mesmo com esses cuidados, Lafaete opina que é difícil ter um site 100% seguro nos dias de hoje. Segundo ele, ao vazar as informações da Netshoes, o hacker quis mostrar à empresa que o sistema de segurança não funciona da forma correta. ;Os hackers estão um passo à frente em relação à tecnologia. Eles sempre vão encontrar um atalho para fazer esse tipo de crime;, lamenta.

Direitos


Usuários que têm dados pessoais vazados podem tomar providências contra a empresa, que também é passível de sofrer intimações jurídicas. ;Os clientes podem pedir indenização, requisitar que os seus dados sejam excluídos do cadastro e entrar com ação de reparação de danos morais. Além disso, o Ministério Público pode fazer uma ação civil pública contra a empresa para saber se foi algo proposital ou se foi por problemas de segurança;, aponta o diretor do Ibedec.

Tarin também indica o registro do boletim de ocorrência, para ser apresentado ao SPC e ao Serasa. ;Quem teve informações pessoais divulgadas ou perdeu algum documento pode fazer uma pré-notação nesses dois órgãos. Assim, se alguém tentar usar os dados de forma indevida, aparece o registro feito, dificultando a utilização dos documentos. Esse é um procedimento gratuito;, destaca.

Apesar da gravidade do incidente com a Netshoes, Salvador acredita que comprar on-line ainda é a melhor opção, pois os usuários evitam, inclusive, o risco de serem assaltados na rua. De acordo com dados da Secretaria de Estado da Segurança Pública e da Paz Social, nos últimos dois anos, roubos a pedestres aumentaram 21% em relação ao biênio anterior. Em 2014 e 2015, foram 61.895 crimes. O número subiu para 74.969 entre 2016 e 2017.

;As taxas de criminalidade aumentam a cada dia. Se os usuários seguirem as recomendações de segurança, comprar pela internet continua sendo recomendado até pela comodidade de receber o produto na porta de casa;, enfatiza.

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