Jornal Correio Braziliense

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Construções pioneiras do Distrito Federal chegaram ao limite

A vida útil de uma obra de concreto, segundo engenheiros, é de 50 anos, com manutenção. Como muitas estruturas da capital foram feitas no início dos anos 1960, elas precisam de cuidados especiais para não sofrerem um colapso, como o viaduto do Eixão Sul



O viaduto sobre a Galeria dos Estados foi erguido às pressas. O pedido de obra ocorreu no fim de dezembro de 1959. A solicitação da Novacap era explícita: tinha de estar pronto até 21 de abril de 1960, data da inauguração da cidade. Os engenheiros entregaram a estrutura em fevereiro de 1960. Cerca de 50 dias após o início da empreitada. ;Na inauguração de Brasília viriam muitas autoridades pelo aeroporto. Precisava melhorar o acesso do terminal até a Praça dos Três Poderes. Mas aí eles descobriram que se podia fazer um viaduto;, lembra Bruno Contarini.

Regras do tombamento


É preciso correr contra o tempo para garantir mais vida útil às estruturas. Sobretudo quando se trata de uma cidade tombada como Patrimônio da Humanidade. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) acompanha as intervenções na Galeria dos Estados, pois todas as obras precisam do crivo da instituição. Isso garante que as características sejam preservadas. O órgão garante: as duas pistas construídas emergencialmente deixarão de existir logo após a restauração do viaduto (leia entrevista ao lado).

O Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Distrito Federal (CAU-DF) também monitora as alterações no centro de Brasília. ;Vamos acompanhar a execução para ver se a escala é mantida. Quando Lucio Costa projetou o viaduto, pensou em uma cota de altura muito sensível, um pouco mais baixa, de forma que a pessoa que estivesse no Setor Comercial conseguisse visualizar o Setor Bancário;, explica Daniel Mangabeira, presidente da entidade.


Arquivo histórico


Pesquisadores do Arquivo Público do DF vasculham o acervo em busca da planta do viaduto que desabou. Muitos dos documentos da época da construção do Eixo não estão digitalizados. O Correio levantou parte da papelada, como a ata manuscrita que registrou a reunião que pediu a construção do viaduto, o contrato do engenheiro calculista Bruno Contarini e um ofício encaminhado ao presidente JK que pede a autorização para a obra e ressalta a sua urgência.

Diretora de Tratamento e Preservação do Arquivo Público do DF, Tereza Eleutério de Sousa acompanha as buscas. Elas podem ajudar na investigação das causas da queda. ;Há textos com especificações técnicas de engenharia e de materiais usados.;

Uma das dificuldades para a localização da planta do viaduto é a nomenclatura usada nos textos de engenheiros e arquitetos. ;Os termos usados e como a obra era chamada são bem diferentes do que conhecemos hoje;, pondera.

Um detalhe na pesquisa realizada pela reportagem chama a atenção. Um documento de julho de 1976 revela que os viadutos e passagens de pedestres do Plano Piloto passariam por obras de ;alargamento em concreto estrutural;. A Novacap destinou à intervenção 55 mil cruzeiros. No mesmo ano, o órgão pediu a construção de três viadutos em concreto armado, ligando o Setor Comercial Sul ao Setor Bancário Sul.

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;A estrutura (Ponte do Bragueto) está muito bem;

A obra da Ponte do Bragueto, no Lago Norte, passou por uma vistoria minuciosa. Com buracos embaixo da estrutura e rachaduras, a obra preocupa. Ontem, o diretor do DER, Márcio Buzar (foto), entrou na edificação para vistoriar as condições. Ele estava com bombeiros, técnicos da Novacap e da Defesa Civil e professores da UnB. Buzar, especialista em estruturas prediais, disse que a parte inferior da ponte precisa ser reformada, mas garantiu que esses estragos não a comprometem. ;A vistoria indicou que a estrutura está muito bem;, afirmou.Técnicos instalaram três sensores, semelhantes aos colocados na Ponte JK. Eles acompanharão o deslocamento e a movimentação da estrutura. (Isa Stacciarini)