Isa Stacciarini
postado em 23/02/2018 06:00
Computadores de bordo para consultar antecedentes criminais, câmeras e outros equipamentos de ponta adquiridos pela Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) para o combate à violência estão inutilizados ou nem sequer passaram da fase de teste. Anunciados no governo de Agnelo Queiroz (PT), a partir de 2012, como ferramentas modernas para aprimorar o policiamento com inteligência, especialmente em função da Copa de 2014, agentes de segurança usaram esses produtos tecnológicos por muito pouco tempo.
Só os chamados terminais remotos embarcados (TRE) ; equipado com internet, sistema de georreferenciamento e identificador de impressão digital portátil ; custaram R$ 7 milhões. Os 300 TREs entregues a PMs brasilienses em abril de 2012 permitiriam buscar informações de suspeitos em computadores portáteis, nas viaturas, e reconhecer a identidade de alguém por biometria. O Comando ainda poderia monitorar o deslocamento das equipes em tempo real por meio de GPS. Mas eles nunca foram usados porque as viaturas nunca tiveram conexão à internet e os TREs sequer vieram com o software instalados. Voltaram às caixas no mesmo ano.
Os TREs ficariam em 300 dos 2 mil veículos da PMDF. Mas os carros e as caminhonetes só contaram (e contam) com rádios portáteis que têm GPS. Por meio de nota, a corporação alegou que ;os computadores utilizados como TREs e os identificadores de impressão digital estão sendo reconfigurados para que possam ser usados com a tecnologia atualmente existente;. Mas não informou quando retirou os aparelhos dos veículos, por que não fez a reconfiguração antes nem quando serão religados. Tampouco o custo do serviço e se há a garantia de manutenção permanente.
Câmeras desligadas
Em 26 de novembro de 2012, a PMDF recebeu, para teste, 14 pequenas câmeras de vídeo que poderiam ser acopladas aos óculos dos militares para registrar abordagens, perseguições, entre outras ações. O plano não vingou. Também por meio de nota, a Polícia Militar disse que ;a possibilidade de emprego de câmeras de vídeo acopladas foi uma tecnologia estudada, porém não foram adquiridas por limitações técnicas das empresas em armazenar as imagens;. No entanto, à, época, a PMDF divulgou a aquisição dos aparelhos como algo certo.
O Correio apurou que câmeras GoPro usadas por militares nas ruas, geralmente acopladas aos óculos, foram compradas pelos próprios policiais. ;Compram do próprio bolso para se precaver e se resguardar em abordagens policiais. Não são equipamentos que a gente recebe;, destacou um dos PMs que usa o equipamento.
A PMDF também anunciou, em 30 de outubro de 2012, o Serviço de Monitoramento e Acionamento Policial Imediato (Smapi). Comerciantes de regiões como Guará, Vicente Pires e Riacho Fundo I seriam beneficiados com um canal direto ao batalhão local. Em atitude suspeita, o empresário acionaria o aparelho e o chamado chegaria a uma central de comunicação. O pedido de socorro seria transmitido à viatura mais próxima de onde estaria o suspeito.
A PM instalou o Smapi na revendedora de bebidas de Gustavo da Silva, 33 anos, no Guará II, mas o aparelho só funcionou em fase de teste. Comerciante da região há cinco anos, ele teve o comércio assaltado. Gustavo acredita que se o Smapi estivesse em funcionamento ajudaria a evitar esse e outros crimes. ;O comandante do batalhão veio, explicou como funcionava e uma empresa instalou, mas só houve alguns testes. Não chegou a ser implementado de fato. Não fosse só mais uma das mil e uma promessas, poderia ser um projeto bem-sucedido;, avalia.
Dono de uma farmácia no Guará I, Jarbas José de Lima, 57 anos, enfrentou cinco assaltos e um arrombamento. O comerciante se lembra das reuniões na época da instalação do Smapi. ;Muita gente se decepcionou. Invisto na segurança privada. Coloquei grade, três câmeras e sistema de alarme. À noite, só atendo com as grades na porta;, ressalta.
De acordo com a PMDF, atualmente, o Smapi é adaptado a aplicativos de celular ;para viabilizar a comunicação entre a comunidade e os batalhões ;. Mas a corporação não explicou onde estão os aparelhos instalados em alguns comércios, quantos foram instalados, por que não funcionaram, nem mesmo o custo do projeto.
Especialista em segurança pública e professor da Universidade Católica de Brasília, Nelson Gonçalves diz que a PMDF sofre do mesmo mal de gestão das demais PMs . ;São problemas administrativos. Essas tecnologias são bem-vindas para trazer qualidade ao serviço da polícia, mas só quem pode explicar o que está acontecendo é a PM. É um problema geral. Essas promessas geram uma expectativa na comunidade, que acaba frustrada;, pondera.
A Secretaria de Segurança Pública afirmou que compras são ;independentes; pois as forças policiais têm autonomia.