Bruna Lima - Especial para o Correio
postado em 09/03/2018 08:00
A família de Rose Marie Flexa, 74 anos, não se conforma com a morte da idosa, atropelada em cima da calçada por Juliana Guimarães Cirillo, 22 anos, na quarta-feira (7), ao lado do Ministério da Saúde, na Esplanada. "O carro estava em alta velocidade para ter feito um estrago desse. Vamos atrás de justiça, sem a menor sombra de dúvidas", afirmou a filha da vítima, Roseane Flexa.
Os familiares relataram que na noite do acidente, Juliana contava à equipe médica, na entrada do Hospital de Base do Distrito Federal (HBDF), que teria ingerido o chá do Santo Daime, uma bebida usada em ritos religiosos que altera a consciência e leva a estados de alucinação e êxtase. "A maca dela e da minha mãe estavam lado a lado. Eu, os médicos, socorristas do Samu, todos nós ouvimos ela dizer que tinha bebido o tal do chá", contou Roseane.
A polícia solicitou ao Hospital de Base o material biológico da motorista, o que poderia contribuir para verificar se houve ou não a ingestão da bebida. Porém, "não foi encontrada a coleta pelas equipe médicas", afirmou o delegado responsável pelo caso, Rogério Rezende. Procurado pelo Correio, o HBDF afirmou que Juliana não chegou a dar entrada na unidade e que, por isso, não haveria avaliações feitas pela instituição. Informou, ainda, que "a unidade não faz exame toxicológico e que cabe ao Instituto Médico Legal (IML) fazer essa análise".
Juliana foi transferida para um hospital particular, onde passou por cirurgia na coluna, segundo a Polícia Civil. "Fomos ao local, mas não tivemos acesso à motorista. Porém, o pai informou que a jovem sofria com a Síndrome Vasovagal e que já tinha desmaiado antes. O familiar disse que vão entregar os laudos médicos que comprovem a condição e que todos vão colaborar com as investigações", contou o delegado Rogério.
Como não houve o contato com a responsável pelo acidente, não houve a realização do exame toxicológico. A ideia da polícia é conseguir recuperar coletas de sangue com o hospital, após autorização da família ou da justiça. O delegado Rogério admitiu que a demora para coletar o material biológico afeta a precisão do laudo. "Prejudica, mas não inviabiliza nosso trabalho. As oitivas são ainda mais importantes, porque a legislação entende que os testemunhos podem suprir a ausência de laudos", ponderou.
De acordo com a 5; DP (Área Central), responsável pelas investigações, os próximos passos serão ouvir a própria motorista, os médicos que deram os primeiros socorros, testemunhas que viram a dinâmica do acidente e o estado de Juliana, além de analisar as câmeras de segurança e os laudos da perícia que fez a análise no local do acidente.
Entenda o caso
Rose Marie aguardava em cima da calçada a chegada da filha para buscá-la, por volta das 18h, quando foi atingida pelo Peugeot 208. De acordo com uma testemunha, que preferiu não se identificar, o carro vinha pela Esplanada dos Ministérios, sentido L4, quando a condutora perdeu o controle. "Ela subiu a calçada, passou entre duas árvores e bateu em uma delas. Depois acabou atingindo uma senhora, que foi arremessada. Depois o carro voou no ar, de um jeito que eu nunca vi igual", relatou.
Juliana foi retirada das ferragens pelos bombeiros. Ela se queixava de dores na cervical e ânsia de vômito e estava consciente, desorientada e estável. Já Rose foi atendida pelo Samu com um corte na face, consciente, estável e orientada. Morreu por volta das 22h do mesmo dia, no Hospital de Base, onde as duas envolvidas foram levadas.
Aos 74 anos, Rose Marie deixa seis filhos, 5 netos e dezenas de amigos. "Amava incondicionalmente a família. Mulher guerreira, companheira, amiga e sempre lutando e amparando todos. Hoje sentimos um grande vazio, uma saudade imensa e pedimos a Deus que conforte nossos corações e temos a certeza que já se encontra ao lado do grande amor de sua vida, nosso pai", homenageou Roseane.
O velório será nesta sexta-feira (9/3), às 11h30, no Campo da Esperança, Capela 04. E o enterro está marcado para as 16h.