Jornal Correio Braziliense

Cidades

Pessoas com síndrome de Down aprendem profissões em projetos do Senac

Pessoas com síndrome de Down aprendem a ser garçons ou auxiliares de cozinha em projetos do Senac em Brasília



Promover inclusão social preparando pessoas com necessidades especiais para o mercado de trabalho é o objetivo de dois projetos do Senac em Brasília. O primeiro ensina técnicas de garçom para quem tem síndrome de Down. O outro é um curso de auxiliar de cozinha, em parceria com a Apae, para indivíduos com alguma deficiência intelectual.

O primeiro grupo está em aula desde 19 de fevereiro. São oito alunos entre 18 e 45 anos que aprendem como ser garçom em restaurantes mantidos pelo Departamento Nacional do Senac em locais como o Congresso Nacional e a Confederação Nacional do Comércio.

No ano passado se formou a primeira turma deste projeto. Com duração de 504 horas, o curso acontece de segunda a sexta e tem conclusão prevista para o fim de maio. ;O intuito é preparar esses alunos para se inserirem no mercado;, afirma a gerente pedagógica do Centro de Aperfeiçoamento do Departamento Nacional do Senac, Patricia Garcia, 45 anos.

A gerente ressalta que os alunos assimilam as tarefas e as executam ;com excelência;. ;Eles são espontâneos, alegres, quebram um pouco essa coisa de que o atendimento tem de ser mecânico. Esses alunos são genuínos.;

Os estudantes são acompanhados pela instrutora Michelle de Araújo da Anunciação, 31, que aponta o projeto como transformador. ;É uma quebra de paradigma. A gente vê o amor deles no que fazem, o sorriso em cada ação, tudo o que fazem é ótimo. O aprendizado da gente com eles é constante. A percepção que tenho é a de que eles só precisam de pessoas que confiem mais neles.;

Integração

Mais do que ensinar uma profissão, o curso tem sido importante para o bem-estar do aluno e a relação dele com as pessoas com quem convive. Os pais relatam que a atividade tem contribuído para a autoestima de seus filhos.

Mãe do aluno Marcelo Gama, 34, a psicóloga Helenice Gama, 74, diz que o filho se fechou para o mundo com o passar dos anos, por se enxergar diferente das outras pessoas. ;Ele viu a irmã gêmea e o irmão se formarem, se casarem, e ele não. Por isso ele se apagou, se fechou no mundo dele. Esse projeto abriu as portas de um novo mundo. Ele está se sentindo muito bem;, comemora Helenice.

Mesmo tímido e falando pouco, Marcelo se diz feliz por aprender a ser garçom. ;Aqui é muito bom.; Quem o acompanha fala que ele capta as orientações com facilidade e que executa as ações com destreza.

Para a servidora aposentada Marilia de Aguiar Barozzi, 64, o filho, Lucas de Aguiar Barozzi, 22, apresentou mais ;noções de limite e disciplina; e está até conversando mais em casa desde o início das aulas. O aluno Alysson Mayer Nunes da Costa, 27, também se diz mais feliz com o curso. Segundo a mãe, a dona de casa Maria do Carmo Nunes da Costa, 53, o envolvimento com a atividade o ajudou até mesmo a perder a vergonha de se comunicar. ;É o terceiro curso de garçom que ele faz, mas o primeiro só com pessoas com Down. Eu vejo que ele está se dando muito bem, cada vez fala mais.;

A aluna Victória Anthero Marques, caçula da turma, com 18 anos, é uma das mais participativas durante as aulas. Em casa, ela sempre quer mostrar como é o dia a dia na sala de aula. ;Ela está gostando muito, está motivada, está fazendo coisas que não sabia. E ela quer mostrar pra gente o tempo todo o que está aprendendo, está mais dinâmica;, declara o pai, o servidor aposentado Gilberto Marques, 57.

"Eles são espontâneos, alegres, quebram um pouco essa coisa
de que o atendimento tem de ser mecânico. Esses alunos são genuínos;


Patrícia Garcia, gerente pedagógica do Senac