
As prisões ocorreram nesta segunda (19/3), durante a Operação Caifás, coordenada pelo MPGO juntamente com a Polícia Civil do estado. A suspeita é de que eles tenham desviado mais de R$ 2 milhões da Diocese desde 2015, verba proveniente de batismos, casamentos, crismas, festividades religiosas, doações e dízimos dos fiéis.
Em uma das conversas, o Padre Mário Vieira de Brito, da paróquia São José Operário, fala que recebeu a visita do bispo, que foi pedir R$ 1,5 mil para ir a um retiro. De acordo com o promotor Douglas Chegury, o bispo, de fato, pedia uma parcela do dinheiro dos envolvidos para mantê-los nas paróquias.
Em outra conversa, do Monsenhor Epitácio Cardozo, vigário-geral da diocese de Formosa, um funcionário avisa que um padre esteve na contabilidade para saber do dinheiro que o município de Flores (GO) passou para a Cúria, pois estavam faltando informações. A ordem de Dom José era não deixar o religioso levar ou copiar nada. Apenas ver e anotar.
O funcionário pede que Epitácio assine um documento sobre a retirada de dinheiro do caixa. Segundo ele, o imediato de Dom José havia retirado parte do valor e assinado a transação. Porém, o ato teria se repetido e, na segunda vez, o sacerdote não teria feito o registro.
"Porque eu não me recordo de nós (sic) ter feito um, um eu sei que eu fiz, quando o saldo do caixa ficou alto, aí o senhor falou, não, lá só tem tanto, aí eu fiz um documento e o senhor assinou, e aí teve um ano eu num sei (sic) se o ano passado que nós fizemos a mesma coisa mas (sic) eu não vi o documento assinado, depois eu vou fazer pro senhor assinar pra mim", diz.
Epitácio tenta corrigi-lo, e diz que o caixa estava baixo. O funcionário pede para não falarem sobre isso por telefone. O vigário-geral volta a negar. Diz que “seu caixa não está alto”. A pessoa do outro lado da linha, então, afirma que “esse ano já consertou”. A conversa em questão aconteceu em 7 de março.
Ainda no dia 7, uma testemunha comenta com um padre que não está citado como investigado sobre a convocação de outros clérigos para depor. A pessoa orienta o sacerdote a conversar com o colega de batina para que leve o máximo de documentos possível para o encontro com o promotor.
A testemunha conta que conversou com outros padres que sabiam do desvio e que informaram que tinham medo que o bispo tentasse fugir. "Conversando com o pessoal ontem, o pessoal tava falando o seguinte, nós tamo (sic) com medo do Bispo fugir, dele ir pra Roma pra num ser preso. O pessoal está de olho porque se ele falar em sair, o pessoal quer acionar a justiça para não deixá-lo sair”, conta.
Nessa mesma conversa, a testemunha diz que o bispo fez chacota com o oficial de justiça quando foi intimado a depor. Teria dito que “as velhinhas do asilo não o deixam quieto.” “Aí, o oficial falou, não isso aqui num é do asilo não, isso aqui é do Ministério Público de Goiás aqui de Formosa, diz que ele enfiou o rabo entre as perna (sic)”, completa.
Padres falam em intimidação e transferências
Outro trecho do documento que chama a atenção é a conversa entre o pároco da Catedral Nossa Senhora da Imaculada Conceição, Moacyr Santana, e o pároco da Paróquia São José Operário, ambos presos na operação. A gravação foi feita em 15 de março e eles comentam a ida do juiz eclesiástico Thiago Wenceslau para intimidar os padres que estão insatisfeitos com a falta de transparência nos dados.“Meu deus… agora vem esse juiz eclesiástico… ôh”, afirma Moacyr. A conversa segue citando indiretamente padres e fiéis que podem ter atrapalhado o esquema. Nesse momento, Mário dispara: “"e esse juiz agora deve dar essas penas canônicas agora pra esses aí, né.”
Moacyr concorda, mas, em seguida, se demonstra descrente. Acredita que o juiz não pode ser “mole”. Mas Mário argumenta que Thiago Wenceslau fará mudanças.
Moacyr se queixa de acusações a respeito do carro que dirige e, em seguida, se queixa do promotor. "Será que o promotor não vê que ele tá sendo um bonequinho na mão desse povo gente, é mais na hora que esse promotor descobrir, que esse povo tentou fazer ele de besta (...), falaram coisa que não devia (sic) eles vão ter que responder, o advogado falou ontem, cês num falaram que o carro era do Padre, agora cês (sic) tem que provar que é do Padre uai", reclama.
O bate-papo segue em frente. Eles mencionam um restaurante chamado Mediterrâneo, em que alguns padres vão comer com o dinheiro de fiéis. Em seguida, Moacyr menciona dois padres contrários ao bispo. “Eles vão dançar", afirma.