postado em 22/03/2018 06:00
Entre mais de 400 inscritos, Francisco Rafael Monteiro de Rezende, ou ;Chico Monteiro;, como é mais conhecido, foi o único escolhido para representar a capital federal em um desafio internacional de arte. Na última segunda-feira, o artista de 30 anos viajou para a cidade de Mendoza, na Argentina, onde participou da cerimônia de lançamento do desafio Calçada das Américas. O evento ocorreu ontem durante o 3; Fórum Ibero-Americano de Prefeitos.
O concurso envolveu a produção de uma espécie de passarela itinerante, composta por obras de artistas de 27 nacionalidades da América Latina e do Caribe. A instalação percorrerá dezenas de países do continente americano. A iniciativa, lançada pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) no fim de 2017, recebeu centenas de inscrições, mas apenas 83 pessoas foram selecionadas.
Os trabalhos escolhidos para compor a mostra foram analisados por um comitê de 30 avaliadores. Os jurados levaram em conta o mérito da obra e a representação de temas como diversidade, globalização, inclusão, igualdade de gênero e sustentabilidade ambiental. Chico inscreveu um quadro em que retratou povos indígenas do Brasil e do Paraguai.
Ele produziu a peça, intitulada Aldeias, entre julho e agosto de 2017, e usou trabalhos dos séculos 19 e 20, além de pinturas antigas, como referência. Elaborada com tinta acrílica sobre tela, o painel tem 3m de comprimento por 1,6m de largura e foi elaborada sob encomenda, para um casal morador do Lago Norte. ;Após receber um link sobre o concurso, decidi inscrever essa tela. Achei que teria a ver com a proposta, especificamente por representar povos indígenas e, de certo modo, tratar de desenvolvimento;, explica.
O artista também comenta que o fato de estar entre os 83 selecionados foi algo inesperado: ;Nós tínhamos que escrever um texto sobre o trabalho para a inscrição. Produzi uma redação diretamente no site do concurso, sem muitas expectativas. Fiquei bastante surpreso quando recebi, na quarta-feira da semana passada, a convocação para participar do evento de abertura;, comemora Chico.
Apesar da origem mineira e de ter passado boa parte da infância e da adolescência na cidade de Goiânia, o artista adotou a capital federal como lar em 2011. Chico conta que encarou a possibilidade de participar do evento de abertura como uma oportunidade única. ;Achei legal essa chance de estar junto de artistas latinos, poder me aproximar e conhecer os trabalhos deles, principalmente aqui na América do Sul. Falo isso porque, às vezes, temos uma visão um tanto eurocêntrica da arte;, observa.
Aldeias
A obra inscrita no concurso foi uma das maiores que Chico produziu na carreira. A tela Aldeias foi encomendada pelo servidor público Davi Contente, 32, depois de conhecer o trabalho do artista em uma galeria de arte no ano passado. Davi relata que os traços e cores utilizados pelo mineiro foram os pontos que mais chamaram a atenção dele e da mulher, Leticia Almeida, no dia em que contemplaram as criações do artista pela primeira vez.
;Vimos um painel dele em uma galeria e café da 102 Norte. Na tela, havia uma tribo indígena retratada. Ficamos interessados e conversamos com a equipe da exposição para descobrir o telefone dele e tentar comprar a obra. No entanto, fomos avisados de que o quadro havia sido vendido;, relembra Davi.
Ainda assim, o casal não desistiu e entrou em contato com Chico para encomendar um painel com tema semelhante, que ficaria exposto em uma parede na sala da casa de Davi e Leticia. ;Vimos que ele tem preferência por arte sacra e figuras de santos. Mas, como não somos muito religiosos, escolhemos esse, que tinha os povos originais como tema;, explica o servidor público.
A tela que atraiu os olhares do casal havia sido produzida em 2014, para exibição no Superior Tribunal de Justiça (STJ), na primeira exposição individual de Chico. O autor conta que a ideia da pintura veio da paixão pelas imagens da fotógrafa e ativista suíça Claudia Andujar. ;À época, eu estava com o trabalho dela muito forte na minha cabeça, fato que culminou nesse meu interesse pela representação dos indígenas nos primórdios da fotografia e nas artes plásticas do século 19. Pesquisei tudo, li romances, poesias. Minha ideia era produzir algo relacionado a direitos humanos;, relata.
Incentivo
Autodidata, Chico começou a produzir trabalhos artísticos há nove anos. Ele conta que recebeu incentivo dos pais desde o início, quando se dedicava a desenhos. O mineiro considera que só terá como aprimorar a própria técnica quando conseguir se dedicar exclusivamente aos projetos criativos. ;Divido meu tempo com a área de comunicação. Ainda não tenho coragem de largar meu emprego para viver de arte. Mas sei que, enquanto eu não fizer isso, não vou conseguir melhorar minhas habilidades;, analisa.
Como forma de financiar parte dos custos da estadia na Argentina até o fim do evento de abertura e de divulgar o próprio trabalho, o artista deu início a uma campanha virtual. Ele está vendendo obras antigas, como gravuras em tamanhos A2 e A3, além de pinturas, para arrecadar fundos e conseguir arcar com os gastos da viagem para o evento. Os interessados podem visitar o link goo.gl/oe9Xq4 para conhecer algumas das artes de Chico.