Cidades

Encenação do Morro da Capelinha chega à 45ª edição na sexta-feira

Espetáculo mobiliza, atualmente, sete paróquias de Planaltina e reúne cerca de 130 mil pessoas durante toda a programação, segundo os organizadores

Rebeca Borges*
postado em 25/03/2018 08:00
Via Sacra tem público crescente no Morro da Capelinha

Uma história de dedicação e fé, iniciada em Planaltina, há 45 anos, leva milhares de devotos a percorrer os mil metros do Morro da Capelinha, na sexta-feira da semana santa, para acompanhar a Paixão de Cristo. A multidão de fiéis tornou realidade o sonho de padre Aleixo Susin, responsável pela primeira encenação da Via- Sacra mais famosa do Planalto Central, desde 1973.

;Sonhei em ver uma multidão preenchendo todos os espaços do morro;, contou padre Aleixo, em entrevista ao Correio, em 2013. No primeiro ano da encenação, a Via-Sacra teve a participação dos fiéis de três igrejas. ;Naquela primeira vez, tivemos 500 pessoas, mas ainda não era o ideal;, relembra, hoje, o padre.

O espetáculo mobiliza, atualmente, sete paróquias de Planaltina e reúne cerca de 130 mil pessoas durante toda a programação, segundo os organizadores. A grandiosidade da encenação entrou no calendário de Semana Santa da População e, em 2008, transformou a Via Sacra em patrimônio cultural imaterial do DF.

O evento é organizado pelo Grupo Via Sacra, da Paróquia São Sebastião. O padre Aleixo Susin passou a atuar na Paróquia São Paulo Apóstolo, no Guará. Mas a semente que plantou cresce, regada por amor, esforço e fé.

Marcelo interpreta Jesus:


;No gogó;

Maria de Lourdes Maciel, 68 anos ; a Dona Lourdes, como é conhecida no Grupo Via Sacra ;, acompanha desde a primeira encenação. ;Na primeira, eu participei cantando. A gente ia no gogó mesmo, a música vinha de um megafone em um jipe;, conta.

Nesses 45 anos de tradição, ela é peça importante. E ganhou popularidade interpretando a Virgem Maria. ;Até hoje, os membros do grupo me encontram e me pedem a benção. Eles falam que eu vou ser a eterna Maria do Morro da Capelinha.;

A costureira fez o papel da mãe de Cristo, entre 1997 e 2006, e confessa que se sente honrada pela interpretação. ;Para mim, foi muito gratificante. Eu me emocionava muito: a partir do momento em que entrava no Morro, começava a chorar;, relembra.

Lourdes recorda as dificuldades da interpretação da Paixão de Cristo nos primeiros anos. ;Naquela época, era tudo manual, não tinha nada tecnológico. Hoje é tudo calçado, antes, era lama, estrada de chão batido. Não tinha esse negócio de som, imagem.;

Hoje, Lourdes trabalha com a equipe responsável pelo figurino dos atores da Via-Sacra. Todo ano, ela reserva um mês inteiro para o espetáculo: sai de casa pela manhã e só retorna à noite. ;A gente ainda enfrenta muitas dificuldades;, explica. Mesmo assim, a dedicação é a mesma. ;O que continua igual é o amor e a fé do povo pela Via-Sacra.;

No aniversário de 45 anos da encenação, quem ganha presente é o povo. ;A gente quer homenagear o público que nos acompanha ao longo desses anos;, explica Uarlen Dias, 32 anos. Coordenador geral do Grupo Via Sacra, ele está à frente de toda a equipe responsável pelo evento.

A relação de Uarlen com o espetáculo começou desde cedo. Aos 10 anos de idade, ele começou a participar da Via-Sacra das crianças, também organizada pelo grupo. Uarlen cresceu, passou a atuar como figurante na encenação da Paixão de Cristo e, inspirado pelo trabalho, se formou em artes cênicas.

Voluntários

Ator e professor, Uarlen diz que o trabalho que faz como responsável pelo espetáculo é gratificante. ;É um presente de Deus. Eu tenho a Via Sacra como um ato e um instrumento de fé.; O grupo tem 1.400 membros, além de cerca de 400 voluntários, que trabalham para organizar a festa. Por isso, o tributo também será para as pessoas que fazem o espetáculo acontecer.

A preparação para a Via-Sacra começou em novembro. Com a aproximação do evento, a dedicação é integral. ;Esta semana, a equipe dorme no local, trabalha 24 horas por dia;, diz Uarlen.

A programação já começou! A primeira atividade, a Via Sacra das crianças, foi encenada, ontem, pelos pequenos da comunidade. Hoje, será apresentada a encenação do Domingo de Ramos e, na quinta e na sexta-feira, o grupo faz a Santa Ceia e a Paixão de Cristo.

Uarlen garante que, quem assistir aos espetáculos, vai encontrar um trabalho de excelência. ;O público pode esperar o melhor. Fazemos tudo com muito carinho, muita dedicação.;

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O filho de Maria

Há cinco anos, quem interpreta Jesus é o advogado Marcelo Augusto Ramos, 30 anos. ;Ter este presente de interpretar o papel de Cristo, ainda que nos últimos momentos, é fantástico.; Ele não imaginava que o reconhecimento da comunidade fosse tão grande. ;Eu não tinha dimensão do carinho e do cuidado que tantas pessoas têm pelo grupo.;

A rotina é desgastante: durante a quaresma, ele vai a Planaltina todos os dias para os ensaios finais. Mas, para Marcelo, toda a dedicação vale a pena. ;Se na apresentação a gente conseguir tocar uma alma, o nosso papel já está cumprido.;

* Estagiária sob supervisão de Valéria de Velasco, especial para o Correio


Encenações de fé
Confira e acompanhe. A entrada no Morro da Capelinha é livre.

Domingo de Ramos
Hoje, a partir das 20h, no estacionamento do Ginásio de Múltiplas Funções de Planaltina.

Santa Ceia
Quinta-feira, a partir das 20h, no estacionamento do Ginásio de Múltiplas Funções de Planaltina.

Paixão de Cristo
Sexta-feira, a partir das 16h, no Morro da Capelinha, em Planaltina.

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