Augusto Fernandes
postado em 02/04/2018 22:33
A ONG Rodas da Paz, em parceria com a ONG Andar a Pé, o Movimento Ocupe o seu Bairro (MOB), o Instituto Federal de Brasília (IFB) e a Universidade de Brasília (UnB), divulgou, nesta segunda-feira (2/4), os resultados de uma pesquisa que fez sobre o respeito à faixa de pedestres no Distrito Federal. De 19 de fevereiro a 9 de março, os pesquisadores analisaram 6.147 travessias em 19 cidades do DF. Um dos dados levantados pela pesquisa mostrou que, em 2.614 oportunidades, pelo menos um motorista desrespeitou a sinalização dos pedestres e não parou na faixa.
A pesquisa foi intitulada "Afinal, o brasiliense respeita mesmo a faixa de pedestres?", e as regiões administrativas analisadas foram: Águas Claras, Candangolândia, Cruzeiro, Gama, Guará, Lago Norte, Núcleo Bandeirante, Paranoá, Planaltina, Plano Piloto, Recanto das Emas, Riacho Fundo, Santa Maria, SIA, Sobradinho, Sudoeste/Octogonal, Taguatinga e Varjão.
O estudo abrange 340 faixas de pedestres não semaforizadas, observadas ao longo de uma hora cada. Durante o período, foram contabilizados 13.877 veículos. Desses, 4.795 passaram pela faixa sem parar. Além disso, 990 passaram a faixa durante a travessia dos pedestres ou não esperaram o pedestre conclui-la.
Os 5.785 motoristas que desrespeitaram a faixa poderiam ser autuados por infringir o Código de Trânsito Brasileiro, que penaliza os condutores que deixam de dar preferência de passagem a pedestre ou a veículo não motorizado. A infração é considerada gravíssima e tem penalidade de sete pontos na carteira de motorista e multa de R$ 293,47. De acordo com os pesquisadores, foi registrada uma média de 17 infrações gravíssimas por hora em cada faixa.
Ainda segundo a pesquisa, a maior parte das faixas analisadas estavam bem demarcadas e sinalizadas. 270 tinham pintura visível, 326 contavam com sinalização vertical e 232 estavam iluminadas.
Comportamento dos pedestres
[SAIBAMAIS]Fazer o sinal de vida continua sendo um hábito da maioria dos brasilienses. Os pesquisadores contabilizaram 10.762 pedestres durante as análises. Em 54% das travessias os pedestres sinalizaram aos motoristas. Além disso, 66% dos pedestres aguardaram os veículos pararem antes de iniciarem a travessia.
Contudo, dependendo da velocidade da via, alguns pedestres atravessam sem sinalizar. Nas vias de 30km/h, por exemplo, em apenas 27% das travessias os pedestres fizeram o sinal de vida. Nas vias de 50km/h, o número foi maior. Quase 61% dos pedestres sinalizou antes de atravessar.
Coordenador da pesquisa, o professor de sociologia do Instituto Federal de Brasília, Jonas Bertucci, disse que é preciso uma melhor educação dos motoristas. "Ele está conduzindo um veículo que tem potencial para chegar a mais de 100km/h, e que pesa uma tonelada. Ele pode causar danos muito maiores do que um pedestre. No trânsito, a responsabilidade deve ser do maior para o menor", comentou.
O professor também reforçou que são necessárias mais ações de conscientização no trânsito. "É um alerta para que mais políticas de educação e fiscalização sejam criadas. O futuro vai depender das ações que forem tomadas hoje. Se nada for feito, provavelmente o indicador de desrespeito vai ser pior", alertou.
Ontem, a campanha de respeito à faixa de pedestres no Distrito Federal completou 21 anos. Para os colaboradores da pesquisa, é importante manter essa cultura, sobretudo aos motoristas mais novos. "É uma conquista histórica de cidadania, que requer investimento em campanhas educativas e de fiscalização constantes para que ela continue. Não temos apenas que reproduzir a mensagem para as gerações que não viveram a campanha Paz no Trânsito, mas também reforçar essa cultura para todos os motoristas. Portanto, reduzir estatísticas sobre a realidade do respeito à faixa de pedestres é fundamental para que essa prática não se torne apenas um mito do passado", resaltou a representante do MOB, Manuella Coelho.
Os pesquisadores lamentaram o fato de a cidade ter sido projetada para os veículos. Segundo Manuella, todos os brasilienses são pedestres em algum momento. "Não é exagero dizer que todos os cidadãos são, em algum momento, pedestres. O que se observa nas cidades brasileiras é uma distribuição desigual do espaço viário, onde a preferência acaba sendo do transporte motorizado em detrimento dos demais. Valorizar a mobilidade a pé, portanto, requer investimentos públicos e ações coordenadas que possam inverter essa lógica, e entre essas ações está certamente a política de respeito à faixa de pedestres", explicou.
A pesquisa completa está disponível neste link.