Cidades

Espetáculo infantojuvenil aborda bullying, situação recorrente entre jovens

Peça é apresentada em escolas públicas de São Sebastião

Lucas Nanini - Especial para o Correio
postado em 09/04/2018 06:15
Montagem foi escrita para público de 5 a 12 anos. Espetáculo mostra a importância do respeito às diferenças e do bom convívio com os colegas
Para falar sobre bullying com as crianças, a Cia. Teatral Três Amiguinhos adaptou o texto de A Tartaruga e a Lebre, fábula de Esopo, nascido na Grécia Antiga no ano VI a.C. O tema foi abordado de forma leve e divertida para conscientizar alunos de escolas públicas de São Sebastião sobre os malefícios de brincadeiras e de apelidos ofensivos.

O projeto teve início no fim de março. Ontem, a peça foi apresentada na Escola Classe Bela Vista. No dia 13, os atores sobem ao palco do Caic Unesco. O encerramento está programado para 20 de abril, na Escola Classe 104, também com interpretação em Libras.

A montagem foi escrita para público de 5 a 12 anos, com intenção de auxiliar a evitar o bullying na adolescência. ;O espetáculo é uma forma de prevenção para danos futuros, mostrando que é importante o respeito às diferenças e o bom convívio com os colegas;, afirma a diretora da peça e responsável pela adaptação do texto, Kelly Costty.

Na fábula, a tartaruga se cansa de ser chamada de lerda pela lebre e a desafia para uma corrida. Durante a competição, a lebre se vê distante na liderança e resolve tirar um cochilo. Quando acorda, ela volta a correr, mas vê a adversária cruzando a linha de chegada.

A montagem de Kelly envolve quatro personagens no palco. Tartaruga e lebre dividem espaço com uma joaninha, que sempre repreende as atitudes ofensivas da lebre, e o Corujão, que narra a história. No papel do animal vagaroso, a atriz Thais Amorim, 24, ressalta que ;é importante dizer que a tartaruga não se faz de vítima, não fica chateada. Ela quer mostrar que é esperta, determinada e que vai cumprir sua meta;.

A responsável pelo trabalho diz que a intenção é levar a montagem para todo o DF. Como é moradora de São Sebastião, Kelly decidiu iniciar o projeto em sua cidade e também porque professores sinalizaram sobre a necessidade de trabalhar o tema nas escolas da região.

;Muito se fala sobre o tema, mas às vezes as crianças não sabem do que se trata. No nosso espetáculo, tentamos mostrar que ;brincadeiras de mau gosto; ou ;apelidos maldosos; feitos de forma repetitiva são bullying. Temos a intenção de fazer o espectador refletir sobre o tema e de conscientizar os alunos sobre os malefícios causados pela intimidação;, explica a diretora da peça.

Por lidar com temas que estimulam a reflexão, Kelly buscou na fábula uma moral que pudesse ser divertida, educativa e que orientasse as crianças. ;Percebi que a história dava abertura para trabalhar temas além da lição principal resumida pelo ditado ;devagar se vai ao longe;;, comenta.

A adaptação foi construída após conversas com o próprio grupo. Os membros falaram sobre experiências pessoais e discutiram como a pressão pode influenciar na formação das crianças, produzindo medo e vergonha do ambiente escolar ou minando a autoafirmação. ;Cada integrante do elenco teve contato, de alguma forma, com exemplos de bullying durante a infância e a adolescência, alguns inclusive como vítimas;, expõe Kelly.

;É ótimo usar o teatro para tratar do tema, é um elemento lúdico, que auxilia a criança a compreender o assunto;, observa a doutora em psicologia pela UnB e especialista em bullying infantil Raquel Manzini. ;É bom que isso ocorra na escola, onde podem ser promovidos grupos de debate para ver se o ambiente está em harmonia, para o estímulo da cooperação e do incentivo a trabalhos em grupo. É preciso mostrar que há regras, que não é engraçado fazer alguém chorar;, reforça a psicóloga.

Interação


Antes de passar pelas escolas públicas, a peça foi levada a shoppings e teatros privados. Segundo a companhia, o público participa dialogando com os personagens e se identificando com as situações em cena. ;No começo eles falam ;vai, tartaruga;, ficam mais agitados com o ritmo da lebre e com raiva pelas ofensas ditas. Se tem alguém torcendo pela lebre, eles questionam. A peça atinge em cheio o público. Eles entendem como é se sentir magoado, como magoam quando se põem no lugar da lebre;, avalia a atriz Thais Amorim.

Após a encenação, os atores participam de um bate-papo com as crianças. A conversa gira em torno de trechos da peça e a relação com o bullying. ;Muitos dividem casos com os artistas, associando partes da encenação com fatos que acontecem no cotidiano;, relata Kelly.


Qualquer um pode ser vÍtima


Apesar do comportamento da lebre durante a fábula, é importante lembrar que ela também não pode ser vítima de comentários maldosos, nem ser ;odiada; como a vilã da história só por ser mais rápida do que a tartaruga. Gerar essa divisão pode ser tão ruim para o desenvolvimento da criança quanto um caso de intimidação, diz a psicóloga e especialista em bullying infantil Raquel Manzini.

Ela ressalta que criar um estigma é sempre nocivo por oferecer uma visão limitada sobre determinado assunto. A psicóloga reforça que a intimidação não ocorre apenas por causa de características consideradas defeitos.

;É preciso ter muito cuidado com isso, para que as crianças não pensem que alguém ágil, por exemplo, é do mal. É necessário mostrar que qualquer um pode ser vítima. Uma criança considerada linda, dentro dos padrões, pode ser alvo, justamente por se destacar das demais;, exemplifica. A diretora Kelly Costty enfatiza que a peça trabalha isso. No fim do espetáculo, a lebre pede perdão por ter magoado a tartaruga.

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