O Distrito Federal vive, nesta terça-feira (10/4), desde cedo, uma grave deficiência nos prontos-socorros pediátricos. Depois de ser informado por usuários do sistema, o Correio entrou em contato com nove hospitais públicos em diferentes regiões administrativas e contatou que, de fato, o atendimento foi interrompido ou não está ocorrendo plenamente em diversas unidades.
Em Ceilândia, a informação é que não há médicos pediatras. Em Taguatinga e Brazlândia, só estão sendo atendidas crianças internadas ou os casos em que há risco de morte. Já o atendimento no Hospital Materno Infantil (Hmib) está lento, já que está recebendo boa parte dos pacientes.
Veja como está a situação caso a caso
Em Taguatinga, pacientes são dispensados na triagem. Somente os classificados com a cor vermelha, com risco de morte, e os que estão internados têm o atendimento pediátrico garantido.
No Hospital do Gama, os pediatras foram deslocados para Taguatinga há oito meses. E, desde então, o atendimento infantil está interrompido.
No Hospital Regional de Ceilândia (HRC), o serviço está suspenso. A unidade está sem pediatras hoje e sem previsão para receber médicos dessa especialidade.
A situação se repete em Brazlândia, onde os pediatras só estão atendendo os pacientes internados e não há previsão para o atendimento de pronto-socorro pediátrico, a não ser em casos emergenciais.
No Hospital Regional da Asa Norte, os pediatras dedicaram parte da manhã aos pacientes internados. Somente a partir de 9h40 começaram a atender os pais que chegavam com os filhos ao pronto-socorro.
No Guará, o hospital regional está superlotado. Médicos estão avaliando pacientes internados na tentativa de dar alta e garantir atendimento aos pais que aguardam no pronto-socorro da unidade.
Já no Hospital Regional do Paranoá, apenas dois pediatras atendem a população. À tarde, há o risco de o pronto-socorro pediátrico ficar sem médico.
O Correio procurou a assessoria de imprensa da Secretaria de Saúde e informou sobre o cenário encontrado. A pasta respondeu que vai apurar o caso e esclarecer a situação assim que possível.
Demora e insatisfação
No Hmib, cerca de 20 famílias esperavam atendimento às 10 horas da manhã. Contudo, essa quantidade poderia ser bem maior. "Estou aqui desde às 8h, e o que mais vi foram pais desistindo de esperar e indo embora. Ninguém quer ficar aqui com os filhos doentes", contou a doméstica Rosilene Cardoso, 34 anos.
Desde ontem, a sua filha Lavínia Cardoso, 2, está sentindo fortes dores abdominais. Rosilene não conseguiu dorimir, pois a filha passou a noite inteira chorando. Desde às 7h de hoje ela está atrás de atendimento. "Fui no Hospital Regional do Guará e nos postos de saúde do Lúcio Costa e do Guará 1. Não consegui nada e vim para o Hmib. Mas até agora, minha filha passou apenas pela triagem. Pedi pelo menos um medicamento, mas nem isso me deram", desabafou.
Lavínia recebeu uma pulseira laranja (muito urgente). Entretanto, a menina não tem previsão de tempo para ser atendida, pois o Hmib está priorizando os pacientes com pulseira vermelha (emergência absoluta). Para Rosilene, a situação é humilhante.
"Estão mandando embora os pacientes que não recebem pulseira vermelha. Só quem é mãe sabe o que é passar por isso. Nós procuramos atendimento porque precisamos. Ninguém vem aqui porque quer. É a primeira vez que preciso dos serviços da saúde pública e já percebi que é um descaso", lamentou.
A recepcionista Renata Silva, 29, também chegou cedo ao hospital. Mas desde às 6h, seu filho Miguel Beserra, 3, passou apenas pela triagem. "Desde ontem ele está com febre, que chegou a marcar 40;. Por causa disso, ele teve duas convulsões. Quando cheguei, tinha pouca gente. Mas ainda não me atenderam. Mandaram eu esperar meu filho ter outra convulsão para ele ser medicado", comentou.
Ontem, Renata saiu de Samambaia e levou Miguel ao Hospital Regional de Taguatinga, mas não conseguiu atendimento. Nem a tentativa de chamar uma ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) ajudou. Não é a primeira vez que o seu filho tem convulsões por causa da febre, e ela teme que Miguel tenha sequelas. "Quando aconteceu antes, ele foi internado e ficou em observação. Mas agora, eu tenho que ficar aguardando, sem saber quando vão atender o meu filho. Isso é desumano", disse.