Cidades

Polícia prende acusados de agredir mulher transexual em Taguatinga

Esta é a primeira vez que a Delegacia Especial de Repressão aos Crimes de Intolerância do DF vai tratar agressão contra uma transexual da mesma forma que um crime que tem uma mulher como vítima. Policiais prenderam três suspeitos

Hellen Leite, Walder Galvão - Especial para o Correio
postado em 17/04/2018 09:05
A agressão contra Jéssica Oliveira da Silva, 28 anos, aconteceu na madrugada do Domingo de Páscoa, em uma lanchonete de Taguatinga Norte
Agentes da Polícia Civil do Distrito Federal prenderam três acusados de agredir uma mulher transexual em uma lanchonete de Taguatinga. O crime aconteceu em 1; de março e passou a ser investigado como tentativa de feminicídio pela Delegacia Especial de Repressão aos crimes de Intolerância (Decrin). Essa foi a primeira vez que um caso de agressão contra uma mulher trans recebeu esse tipo de inquérito no Distrito Federal.

Dois homens foram presos em Taguatinga Norte e uma mulher foi encontrada em Sobradinho. Eles foram levados à carceragem da Delegacia de Policia Especializada (DPE) e devem ficar no local até o encerramento do inquérito pela Polícia Civil. Depois, o processo será encaminhado ao Ministério Público.

Segundo a delegada responsável pela apuração do crime, Gláucia Cristina, da Delegacia Especial de Repressão aos crimes de Intolerância (Decrin), os três confessaram participação na agressão durante o depoimento. Um quarto agressor, um adolescente, também foi indiciado e deve cumprir medida socioeducativa. Essa é a primeira vez que um caso de agressão contra uma mulher trans será enquadrado como tentativa de feminicídio pela Decrin no DF.

;Eles pensavam que estava fazendo uma brincadeira, mas assumiram o risco de morte. Que essas prisões sirvam de exemplo para inibir crimes de intolerância;, comentou a delegada.
A agressão contra Jéssica Oliveira da Silva, 28 anos, aconteceu na madrugada do Domingo de Páscoa, em uma lanchonete de Taguatinga Norte. Nas imagens das câmeras de segurança, é possível ver quatro homens perseguindo a vítima. Nas primeiras cenas, ela aparece entrando na lanchonete, caminha para trás e dá a impressão de querer fugir dos agressores, que entram em seguida. Primeiro, o grupo atinge Jéssica com socos e pontapés. Um dos homens parece ter uma pedra na mão, outro carrega um pedaço de pau. O grupo sai da loja, mas volta em seguida e as agressões continuam com cadeiradas.
A Polícia Civil aponta que a vítima foi agredida com pedradas, pedaços de ferro e cadeiradas. Um cliente, que chegava ao comércio, socorreu Jéssica ao hospital em razão da gravidade dos ferimentos. Ela foi encontrada do lado de fora da lanchonete, onde também foi alvo dos criminosos.

Ao Correio, Jéssica contou como foi ameaçada pelos agressores. ;Um deles disse que ia me bater até me matar. Depois eles foram para fora, mas dois voltaram e me acertaram cadeiradas;, lembra a vítima. Este não foi o primeiro episódio de violência sofrido pela estudante. Ela tem outros três registros por injúria e discriminação. Assustada com a agressão, Jéssica está com medo de sair de casa. ;A violência está ao nosso redor, ainda mais para transexuais e travestis. Estou aterrorizada. Pensei até na possibilidade de não sair mais de casa.;

A prisão dos suspeitos foi comemorada pela estudante. ;Agora estou me sentindo mais segura. Se você é LGBT e tiver seus direitos violados, procure a Decrin, crimes não passaram impunes;, escreveu.

Registrado originalmente na 12; Delegacia de Polícia (Taguatinga Centro), o caso foi repassado à Decrin pelo caráter delicado do tema. Desde então, a equipe de investigadores da unidade especializada identificou e ouviu os quatro suspeitos da agressão. Um deles tem menos de 18 anos. Os três adultos acusados, dois homens e uma mulher, podem ser condenados a até 15 anos de prisão. O adolescente será autuado por ato infracional análogo a tentativa de feminicídio e terá o caso encaminhado à Vara da Infância e Juventude.
Os agentes chegaram aos suspeitos após análise das imagens de segurança da lanchonete. Eles eram conhecidos na região por frequentar uma praça e ingerir bebida alcoólica. Em depoimento à polícia, eles afirmaram que a Jessica teria ameaçado a mulher acusada com uma faca e por isso teriam feito as agressões.
No entanto, a delegada à frente do caso, Gláucia Cristina da Silva, diz que os depoimentos foram marcados por contradições e, por isso, descartou a hipótese. ;Eles deram mais de uma versão sobre o ocorrido. Eles ainda tentaram coagir as testemunhas e responderão por isso;, informa. Os acusados foram presos temporariamente e devem ficar reclusos por 10 dias. Período em que o inquérito deve ser concluído e encaminhado à Justiça.

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