Flávia Maia
postado em 17/04/2018 22:23
Entendimentos diferentes dentro do próprio Ministério Público de Goiás sobre a prisão preventiva dos padres envolvidos em fraudes com dízimos em Formosa podem ter contribuído para o habeas corpus concedido na tarde desta terça-feira (17) ao bispo José Ronaldo. O parecer em segunda instância do Ministério Público de Goiás foi peça crucial para a concessão do benefício ao clérigo.
O documento, assinado pelo procurador Abreu e Silva, sugeriu a soltura, entendimento contrário dos promotores de Formosa (GO), Douglas Chegury e Fernanda Balbinot, que iniciaram a Operação Caifás, responsável por investigar um desvio de R$ 2 milhões envolvendo o dízimo de fiéis da Igreja Católica. Os promotores que alegam que, soltos, os padres podem atrapalhar o andamento da investigação.
O parecer em segunda instância foi pedido pela desembargadora Carmecy Rosa de Oliveira para auxiliar no julgamento do recurso impetrado pela defesa do bispo. Entre os argumentos oferecidos pelo procurador Abreu e Silva para o fim da prisão preventiva estão a falta de provas sobre o crime de associação criminosa e o fato de o suposto crime praticado não ter emprego de violência, como o uso de arma de fogo.
;Constata-se que ele foi denunciado pela prática dos crimes de apropriação indébita e associação criminosa, os quais não são cometidos com violência ou grave ameaça, não existindo gravidade concreta, portanto sem poder ser considerado como ameaça à garantia da ordem da pública.
O procurador salienta ainda que o bispo está constrangido por não estar em cela especial pelo cargo eclesiástico. ;Paciente sofre constrangimento ilegal consubstanciado no fato de que foi determinada a sua transferência para a ala comum do estabelecimento prisional, embora ele tenha direito à cela especial por ser ele ministro de confissão religiosa;.
O entendimento do procurador Abreu e Silva surpreendeu os investigadores de Formosa pelo fato dos últimos pareceres escritos por ele para crimes de colarinho branco serem pela manutenção da prisão, como ocorreu no caso de um falsificador de roupas de Jaraguá (GO) e fraude um processo licitatório na cidade de Acreúna (GO).
Agentes saem em defesa dos padres
Dias antes da decisão da Justiça pela soltura do bispo, diferentes personalidades começaram a questionar a prisão do clérigo e dos outros padres. O arcebispo de Uberaba, dom Paulo Mendes Peixoto, nomeado administrador apostólico da Diocese de Formosa (GO) após a prisão do bispo, afirmou que ;as denúncias parecem não ter fundamento;. Disse ainda que teve uma crise de choro ao visitar dom Ronaldo no presídio, em Formosa, porque o bispo estaria debilitado moralmente, por causa das acusações que afirma serem falsas. O arcebispo de Goiânia, Dom Washington Cruz, e o cardeal João Braz de Aviz, também visitaram o bispo José Ronaldo.
Em entrevista ao jornalista goiano Paulo Beringhs, em um programa televisivo, o senador cassado Demóstenes Torres afirmou que houve exagero ao decretar as prisões dos clérigos. ;Isso fica parecendo um ódio contra os religiosos;, reforçou.
Em entrevista ao jornalista goiano Paulo Beringhs, em um programa televisivo, o senador cassado Demóstenes Torres afirmou que houve exagero ao decretar as prisões dos clérigos. ;Isso fica parecendo um ódio contra os religiosos;, reforçou.
Questionado sobre as declarações contra as prisões da Operação Caifás, o promotor Chegury afirmou que as falas são irresponsáveis, de quem ;desconhece o trabalho sério e judicialmente respaldado;. O promotor atacou ainda o ex-senador, cassado pelo envolvimento com a organização criminosa chefiada pelo bicheiro Carlos Cachoeira. ;É lamentável que a busca por holofotes do auto declarado candidato a senador nas eleições que se aproximam tenha atingido níveis tão baixos". Sobre o parecer do Ministério Público de Goiás em segunda instância, o promotor preferiu não se manifestar.