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Athos Bulcão é celebrado também em Belo Horizonte, no ano do seu centenário

Conhecido em Brasília pelos painéis de azulejo que ornamentam edifícios tradicionais da cidade, o multiartista é celebrado também em Belo Horizonte no ano do seu centenário, em exposição e outras obras

Gustavo Werneck/Estado de Minas
postado em 23/04/2018 06:09
Valéria Cabral, da Fundação Athos Bulcão, diante de cubo que faz referência à obra do artista na capital mineira
O legado do artista plástico Athos Bulcão, mestre na arte da azulejaria, ultrapassa as obras deixadas nos edifícios de Brasília. Em Belo Horizonte, por exemplo, esse registro se reforça no ano em que é celebrado o centenário do multiartista. Quem se dispuser a conhecer mais sobre o trabalho dele na cidade vai se surpreender ao encontrar duas obras no prédio da Secretaria Regional Oeste, no Bairro Salgado Filho. No site da Fundação Athos Bulcão, que registra as obras do artista plástico, a informação era de que duas peças dele, com função acústica, estão no prédio do Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais, na capital mineira. Contudo, a assessoria do TCE informou que não guardava as peças, tampouco o Tribunal de Contas da União (TCU) em Minas.

É na ex-sede do TCU, hoje cedida à Prefeitura de Belo Horizonte para funcionamento da Regional Oeste, que se encontram os trabalhos. No local do antigo plenário, estão as obras em verde e azul. Em BH, há obras também no acervo da Rede Sarah de Hospitais de Reabilitação, no Bairro Gameleira, na Região Oeste. Na capital mineira, conforme explicou a secretária executiva da Fundação Athos Bulcão, Valéria Cabral, o então jovem artista foi assistente de Cândido Portinari (1903-1962) no painel sobre a vida de São Francisco. Ela diz que Athos apenas pintou os azulejos, ficando toda a criação a cargo de Portinari.

Inspiração

A ligação do artista com Belo Horizonte passa pelas mãos de Oscar Niemeyer (1907-2012), com quem trabalhou em Brasília. Os dois se conheceram na casa do paisagista Burle Marx (1909-1994). Jovem, Athos estava fazendo um desenho que agradou Niemeyer.

A vida do artista tem sabor de descoberta para todos os públicos. Basta observar e acompanhar um grupo de professores na Praça da Liberdade, na cidade mineira. Os olhos deles brilharam diante do Edifício Niemeyer e, no semblante de alguns, veio a interrogação ao ouvir o nome de Athos Bulcão, o carioca de múltiplos talentos que deixou vasto legado mundo afora. Durante visita ao espaço público, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, a turma da rede municipal viu o prédio de 1954 projetado por Niemeyer e dono, na fachada, das peças azuis e brancas assinadas por Bulcão.

Fábio Júnior Oliveira Rodrigues, da Umei Jardim Guanabara, na Região Norte, se mostrava surpreso ao aliar o nome do artista plástico à obra. ;Sei da importância de Oscar Niemeyer para BH, conhecia este prédio, mas não tinha ideia de quem era Athos Bulcão. Esse tipo de informação, sobre o patrimônio cultural, é de grande valor;, afirmou.

À frente do grupo, estava a coordenadora do curso de formação de professores de educação infantil da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), a pedagoga Ana Cláudia Figueiredo, e a professora da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG) Marília Ávila, que dava as explicações sobre o conjunto. ;Depois, eles vão visitar a exposição e trazer os alunos, pois os conhecimentos adquiridos aqui serão repassados às crianças;, disse.

A exposição citada pela educadora está a apenas 43 passos do Edifício Niemeyer e celebra os 100 anos de nascimento de Athos Bulcão, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) em Belo Horizonte. São apresentadas as diferentes atuações do carioca, a exemplo de cenografia, figurino, fotografia, pintura, desenho, escultura e um segmento dedicado a artistas mais jovens. A mesma mostra esteve em cartaz no CCBB Brasília, até 1; de abril.


Convívio com artistas


Athos Bulcão nasceu no Rio de Janeiro, em 2 de julho de 1918, e passou a infância em Teresópolis (RJ). Na juventude, foi amigo de alguns dos mais importantes artistas brasileiros modernos, os maiores responsáveis por sua formação: Carlos Scliar, Jorge Amado, Pancetti, Enrico Bianco, que o apresentou a Burle Marx, Milton Dacosta, Vinicius de Moraes, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos, Ceschiatti, Manuel Bandeira e outros. Quem viaja pelo mundo, pode ver os trabalhos dele na França, Argélia, Índia, Nigéria, Cabo Verde e Itália. Em Brasília, há azulejos dele espalhadas por vários edifícios tradicionais da cidade, inclusive na Igrejinha Nossa Senhora de Fátima, um dos murais mais famosos do multiartista. Morreu após uma parada cardiorrespiratória, em dia 31 de julho de 2008, aos 90 anos.

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