Isa Stacciarini
postado em 25/04/2018 06:00 / atualizado em 14/10/2020 12:05
A tentativa de presos do Complexo Penitenciário da Papuda em se associar a um dos maiores grupos criminosos do país fez com que policiais civis deflagrassem ontem a primeira fase da Operação Prólogo. Investigadores identificaram 13 homens que agiam de forma estruturada para ordenar crimes coordenados de dentro da cadeia. Os bandidos estavam alojados nas Penitenciárias I e II (PDF I e PDF II), no Centro de Detenção Provisória (CDP) e no Centro de Internação e Reeducação (CIR). Mesmo encarcerados, os detentos tiveram a prisão preventiva decretada pela 4ª Vara Criminal de Brasília. Agora, eles ficarão isolados e perderão benefícios, como saídas temporárias e progressão de regime.
Nas celas, os agentes encontraram cartas com orientações para execução de delitos, além de cadernos com nomes dos presidiários e de comparsas, além de apelidos e função na organização paulista. Com esse material, os investigadores fizeram o mapeamento inicial de quem participa da facção. A investigação demonstrou que o objetivo dos criminosos era expandir a atividade, ter acesso a drogas e armas e ampliar o lucro do grupo criminoso.
Saiba Mais
Agora, equipes investigam a participação de visitantes dos presos no organograma da quadrilha. Segundo o diretor da Divisão de Repressão a Facções Criminosas — vinculada à Cecor —, delegado Jonas Bessa, em operações passadas, policiais comprovaram o envolvimento de advogados e familiares de detentos. “Sem acesso a celular, as mensagens por cartas se tornam o meio de comunicação com o mundo de fora. Mas alguém transmite esses recados, e vamos investigar quem são essas pessoas”, detalhou.
Maurílio Coelho, um dos delegados da operação, explicou que um dos encarcerados progrediria para o regime semiaberto, ou seja, trabalharia durante o dia e retornaria para a cadeia à noite. “Novos integrantes da organização em São Paulo indicaram aos seguidores que fossem embora de Brasília, porque aqui a Polícia Civil age de forma a coibir a entrada dessas organizações criminosas”, ressaltou.
Na primeira fase da Prólogo, os envolvidos foram autuados por participação em organização criminosa. Eles permanecerão na penitenciária até o fim das investigações. A pena varia de 3 a 8 anos de detenção. No entanto, o delegado Fernando César cogita outras fases da operação. “Essa é uma investigação que dura há 18 anos”, reforçou.
Monitoramento
Desde 2000, a Polícia Civil monitora diversas tentativas de líderes desses grupos em estabelecer vínculo no Distrito Federal (leia Memória). “Nenhuma delas prosperou graças ao trabalho de investigação da Polícia Civil, com apoio da inteligência do sistema penitenciário. Não há um dia em que não trabalhamos contra facções criminosas com várias operações realizadas no Distrito Federal. Qualquer nova tentativa será reprimida pela Cecor”, garantiu o chefe da unidade, delegado Fernando Cesar.
Memória
Investidas de facções
A primeira identificação de uma das maiores facções criminosas no Distrito Federal remonta a 2001, quando, em março, o maior líder do grupo paulista chegou à capital do país para cumprir pena. Ele escolheu aliados de confiança e criou um braço da organização. Em 18 de outubro daquele ano, explodiu a última revolta registrada no sistema carcerário brasiliense. Desde então, há 18 anos a facção tenta se fortalecer na região. Mas foi entre 2011 e 2012 que os criminosos estabeleceram como meta entrar no DF, com sucessivas investidas, sempre fracassadas. A organização rival, originária do Rio de Janeiro, também se articula para invadir a capital. Apontada como o terceiro maior grupo do país, os líderes responsáveis pela matança de 56 detentos no presídio de Manaus, ocorrido em janeiro de 2017, nunca conseguiu espaço em Brasília.