Cidades

O caminho para a liberdade: conheça o projeto que leva livros para presas

Projeto recolhe obras literárias para serem doadas a detentas. O primeiro acervo será distribuído esta semana. O objetivo, agora, é ampliar a proposta e criar mecanismos para que essas mulheres tenham novas perspectivas ao sair da prisão

Walder Galvão - Especial para o Correio
postado em 01/05/2018 08:00

O bibliotecário Cristian Brayner é o idealizador da iniciativa: literatura tem vocação universal e transita livremente

A liberdade e a distância dos julgamentos são algumas das características do ambiente que a literatura pode proporcionar. É por meio da criação desse clima que um projeto pretende ajudar as detentas do Presídio Feminino de Brasília, a Colmeia ; com um olhar desprendido de princípios, mas focado na educação. De várias regiões de Brasília e até mesmo de Recife e da Bahia vieram mais de 172 obras literárias doadas para a iniciativa. O acervo, previsto para chegar à unidade de detenção esta semana, tem como objetivo contribuir para muito mais do que apenas a remição de pena das presidiárias.

Idealizador do projeto, o bibliotecário e doutor em literatura Cristian Brayner, 40 anos, conta que a ideia surgiu a partir da publicação em uma rede social de duas pessoas que arrecadavam livros para serem distribuídos às detentas. O objetivo, agora, é ampliar a proposta e criar mecanismos para que essas mulheres tenham novas perspectivas ao sair da prisão e retornar ao ambiente familiar. ;As obras servirão de pontapé inicial para uma política pública séria. Sei que lá (no presídio) existe uma biblioteca, mas precisamos entender a necessidade da comunidade e dar circulação para esses textos;, explica.

O livro, segundo o bibliotecário, é um instrumento cultural de fácil circulação no sistema prisional, o que deve impulsionar o projeto. O objetivo no longo prazo é vinculá-lo às secretarias de Educação e de Segurança Pública e buscar o apoio de instituições de ensino superior públicas e privadas. Na avaliação de Bayner, a literatura tem vocação universal e, por isso, transita livremente. ;Temos uma limitação de produtos culturais em presídios, até mesmo por questões de segurança. Mas, com uma obra literária, podemos tocar essas mulheres para sempre.;


Mudança

Inserir a literatura no cotidiano das detentas pode representar uma quebra de paradigma. O sentimento de culpa pelas pessoas que as esperam do lado de fora, como filhos e outros familiares, acaba inibindo a vontade de estudar. ;A leitura pode ajudar a amenizar o sentimento de solidão, pode ampliar perspectivas e mostrar outras vidas e mundos possíveis, uma vez que permite a quem lê a oportunidade de, a partir de diferentes gêneros literários, conhecer e imaginar experiências diferentes das suas;, comenta a professora de língua portuguesa Gina Vieira Ponte de Albuquerque, especialista em educação a distância e em desenvolvimento humano, educação e inclusão escolar.

;Ler liberta a imaginação e estimula a criatividade. Quando lemos, aprofundamos o nosso nível de autoconhecimento e fortalecemos a nossa consciência crítica, porque, a partir da leitura, conseguimos elaborar emoções e sentimentos que, normalmente, temos dificuldades para nomear;, detalha a professora.

A diretora executiva da Fundação de Amparo ao Trabalhador Preso (Funap), Dilma Imai, considera que a literatura dentro do cárcere funciona para impulsionar as detentas. ;Esse tipo de ação trabalha até mesmo a autoestima. Temos muitos depoimentos de pessoas que foram presas e passaram a reconhecer a importância da leitura;, destaca. A Funap é responsável pela ressocialização, qualificação profissional e empregabilidade de presas no Distrito Federal, onde há cerca de 700 mulheres encarceradas e aproximadamente 16 mil homens, segundo a Secretaria de Segurança Pública e da Paz Social (SSP-DF).

Para saber mais

Redução de pena
Ler pode reduzir o tempo de pena dos detentos dos regimes fechado e semiaberto. A decisão está em vigor desde 2016, autorizada pela Vara de Execuções Penais do Distrito Federal. De acordo com a portaria, a cada livro lido, o detento poderá ter remição de quatro dias. É preciso apresentar uma resenha sobre o assunto abordado no texto perante uma banca. As normas preveem que o preso terá o prazo de 21 a 30 dias para terminar de ler a obra. A cada ano, o infrator pode reduzir até 48 dias da condenação.

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