Cidades

Projeto de produção de almofadas emancipa mulheres financeiramente

Elas integram associação que alia moda com inclusão social. Idealizadora do projeto planeja abertura de escola para capacitar jovens do Recanto das Emas

Ester Cezar* , Renata Nagashima*
postado em 07/05/2018 06:06
Elas integram associação que alia moda com inclusão social. Idealizadora do projeto planeja abertura de escola para capacitar jovens do Recanto das Emas
Entre falar em fazer uma boa ação e concretizar a intenção, a diferença está no agir. E foi dando o primeiro passo que Kátia Ferreira combinou moda com inclusão para fundar a organização social Apoena. Agora, ela quer abrir uma escola no Recanto das Emas e promover projetos voltados para a educação das jovens que moram na comunidade. A fim de bancar a construção, a empreendedora social teve a ideia de juntar as bordadeiras com as costureiras da associação para produzirem e venderem 19 mil almofadas feitas de chita. Essa era a quantidade necessária a ser comercializada para arrecadarem o dinheiro da obra.

;A partir daí, procuramos um shopping center de Brasília para oferecer as almofadas, e eles compraram todas para dar de brinde no Dia das Mães;, conta Kátia. Ela explica que a chita foi escolhida por ser um tecido barato e fácil de trabalhar. Com isso, caso as bordadeiras iniciantes tivessem dificuldades, o pano não estragaria se o trabalho precisasse ser refeito. ;Foi tudo um acaso. A chita só aconteceu na nossa vida porque, no começo da Apoena, fomos convidadas a participar de uma feira de artesanato e. para nos diferenciar, queríamos algo novo, então, pensamos em fazer uma coleção de roupas de chita. Não tínhamos ideia do quão longe esse projeto chegaria;, comemora.

Para a confecção das almofadas, a equipe composta por 46 mulheres, entre bordadeiras e costureiras, contou com o apoio da desenhista de chitas Luísa Chioddi e da Fabril Mascarenhas, empresa que produz o tecido. Luisa, que fez um desenho exclusivo para a confecção das almofadas, emocionada, diz que a maior recompensa que pode receber é a satisfação no olhar nas mulheres beneficiadas pela ação. ;Olhar para elas é saber que nosso trabalho agrega muita alegria para elas. Essa energia é o que me dá força para acreditar no meu trabalho;, afirma a desenhista.

Katia classifica o projeto como ;uma corrente de amor;, por gerar emprego e alegria para as mulheres. ;Eu falo que isso não é almofada. As pessoas perguntam, ;vocês estão fazendo almofadas?; Eu falo, ;não;. Nós estamos fazendo escola, nós estamos fazendo mulheres terem trabalho;, ressalta Kátia.

Para ela, o sucesso da organização vem da simplicidade e da originalidade ;O futuro depende de a gente olhar mais para o outro. Fazemos a moda assim. Acho que é desse jeito que funciona e que dá certo. As coisas mais maravilhosas da vida são as mais simples;, conclui.

Mudando vidas

A convite de uma vizinha. Maria Ivaneide da Silva, 43 anos, entrou para a Apoena para aprender a bordar, já que sempre teve vontade, mas não tinha oportunidade de aprender. Neide, como é conhecida pelas costureiras, conta que, na época, a organização funcionava na garagem de uma colega e que os encontros eram semanais. ;Com o tempo a iniciativa cresceu, conseguimos parcerias que arrumaram espaços maiores e várias mulheres começaram a participar porque os filhos delas também são beneficiados. Enquanto as mães costuravam, as crianças participavam de atividades. Assim, as mães e as crianças estavam sempre juntas;, conta.

Foi assim que Zenaide Soares, 61, entrou para a Apoena. A neta dela queria frequentar as aulas de balé oferecidas pela associação. Porém, para ela participar, precisaria que um responsável estivesse nas aulas de costura. Hoje, ela se orgulha de fazer parte da equipe. ;A gente vê o que uma almofada faz. É um produto que proporcionou renda para várias mulheres que estavam desempregadas. Algumas entraram para aprender, mas a maioria entrou porque tinha problemas financeiros e emocionais. O bordado é uma terapia e tirou muitas delas da depressão;, ressalta.

Ana Paula Ferreira da Silva, 38, sofreu um acidente doméstico e teve 22% do corpo queimado, entrando em depressão. Sem emprego, ela procurou ajuda no Centro de Referência de Assistência Social (Cras), que indicou o projeto. Há um mês ela passou a bordar com as apoenas e não pretende mais sair do grupo. ;Para mim, foi muito bom. Até a autoestima ficou melhor;, afirma. Além de auxiliar na recuperação emocional de Ana Paula, o bordado ainda serve como fisioterapia porque melhora seus movimentos ajudando na cicatrização das queimaduras.

Feliz com os resultados, Ana Paula convidou a mãe, Valdeci Ferreira da Silva, 63, que estava desempregada e também com depressão. Mesmo sem saber bordar, dona Maria, como gosta de ser chamada, aceitou o convite da filha e hoje é uma das bordadeiras oficiais do grupo.

Emocionada, ela conta como o projeto lhe faz bem. ;Eu ficava no sofá o dia inteiro. Agradeço muito por terem me tirado de lá. Eu procurava trabalho e ninguém me dava, pela idade avançada. Aqui, achei minha renda e minha alegria;, fala, com entusiasmo.

* Estagiárias sob supervisão de Margareth Lourenço (especial para o Correio)

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