Hellen Leite
postado em 20/05/2018 08:00
Foi durante a leitura do jornal, em 2001, que um anúncio no caderno de Classificados do Correio Braziliense chamou a atenção de Bernadete Strasser. ;Suíço, fiel, viril, 1,78m, 65 anos, procura uma mulher não fumante para casar e viajar;. No meio de tantas letrinhas pequenas diagramadas na página, essas duas linhas despertaram a curiosidade da camareira. Durante seis meses, ela abriu o jornal todos os dias e encontrou o mesmo anúncio curioso. ;Quem deve ser esse homem?;, pensava. Era 4 de março, uma quinta-feira, quando tomou uma pequena atitude que mudaria a vida dela para sempre.
;Eu recortei o anúncio e guardei. Alguma coisa me dizia: liga para essa pessoa;, conta. Tomou coragem e ligou. E antes que ele dissesse a primeira palavra, ela perguntou em tom de ironia. ;Já achou a princesa que você tanto procura?;. Do outro lado da linha estava Willy Strasser, que não hesitou em responder. ;Ainda não, mas pode ser você.; De lá até aqui, já são 17 anos juntos, e, em 20 de julho deste ano, o casal completa 18 anos de casamento.
A história de amor de Bernadete e Willy tem um toque de antigamente. Nos seis meses em que anunciou seu interesse por um amor nos jornais brasileiros, ele chegou a se corresponder com mais de 200 mulheres, até conhecer o amor da sua vida. Nenhuma delas foi como Bernadete. ;Quando ele me viu, disse que era eu. Para ele, foi amor à primeira vista;, orgulha-se.
O primeiro encontro foi em um shopping da cidade. Sentaram-se em um banco e ali conversaram durante uma hora. ;Nós conversamos, ele me contou que era divorciado, aposentado e que tinha dois filhos. Eu disse que era solteira e que não tinha filhos;, conta. Nesse mesmo dia, ele perguntou se ela queria se casar com ele e ir morar na Suíça. ;Eu disse que sim;, conta, Bernadete, rindo do momento que ela mesma diz ser uma loucura. ;Eu não sei o que aconteceu comigo, eu não fiquei com medo. Parece que tinha perdido minha consciência normal, foi algo místico;, comenta.
O relacionamento só foi revelado à família, quando Bernadete já estava na Suíça. ;Minha mãe me achou uma louca. Ficou muito preocupada, mas depois aceitou;, relembra. Comentários preconceituosos também são escutados com frequência. ;Achavam que eu estava com ele por ele ser rico, mas não é nada disso;, comenta.
Orgulho
Ela conta que tudo o que ela pensava para a vida dela caiu por terra ao descobrir em Willy um companheiro, mesmo 37 anos mais velho. ;A idade para mim não foi nenhuma dificuldade. Eu vi nele confiança, ele me transmitia segurança. Nunca o vi como um idoso ou meu pai, acabou o meu preconceito e eu me sentia orgulhosa de estar ao lado dele, de sair com ele na rua;, declara.
Os olhares preconceituosos, inclusive, não incomodam mais. Ela relembra situações com leveza. ;Uma vez, na academia, tinha duas senhoras que o paqueravam descaradamente e tinha um senhor que sempre queria fazer exercícios comigo. Um dia ele disse que me admirava por ser cuidadora do Willy. Eu disse que ele era meu esposo e demos risadas juntos;, relata. ;Depois disso, uma das senhoras veio me perguntar se podia dar um beijo no rosto do meu marido, porque o achava muito lindo. Eu permiti e achei graça. Levei tudo numa boa;, relembra sorrindo.
Mas nem tudo foi um conto de fadas durante os quase 18 anos de relacionamento. O casal enfrentou junto os cinco Acidentes Vasculares Cerebrais (AVC) de Willy. ;Ele teve um derrame que o fez perder a consciência, não reconhecia ninguém, não me reconhecia, eu fiquei desesperada;, relembra. Mas ela conta que o amor superou todas as questões, de vida e morte, saúde e doença.
Atualmente, ainda morando na Suíça, eles levam uma vida boa, mas muito simples no bairro de Oftringen, com idas frequentes à academia, caminhadas no fim da tarde e passeios por jardins. ;Nunca vou encontrar alguém como ele. Com o tempo, veio a cumplicidade, o amor, e eu o amo de verdade. Superamos todas as dificuldades financeiras e de doença, e isso nos basta;, finaliza.