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Brasiliense deve ficar atento a fraudes ao comprar açúcar mascavo

Um dos ingredientes mais saudáveis para compor a alimentação, o mascavo impulsiona as vendas nesse segmento. Mas o consumidor precisa ficar de olho em fraudes nas gôndolas. Fazenda em Alexânia produz para o DF, RJ e Goiás



A agricultura orgânica vem ganhando os campos em ritmo crescente. A atividade se expande no Brasil para acompanhar consumidores ávidos por produtos mais saudáveis e, ao mesmo tempo, que causem menos impacto ao meio ambiente. Por enquanto, os produtores não conseguem atender a demanda do mercado e perdem no item quantidade, mas oferecem, a cada dia, mais opções de alimentos orgânicos. O cultivo da cana-de-açúcar orgânica abriu o leque para o consumo, em todo o país, de seus subprodutos naturais, como o açúcar mascavo, o melado e a rapadura.

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O açúcar mascavo é o principal produto da cana-de-açúcar orgânica. É também um dos ingredientes mais saudáveis para compor a alimentação. Quanto mais o produto é escuro, mais vitaminas e sais minerais contém. O consumidor do Distrito Federal, no entanto, tem que prestar muita atenção para não cair em uma cilada, na hora de comprar o produto, segundo o produtor Luís Clemente. ;Cerca de 50% do açúcar comercializado em Brasília não é mascavo, é açúcar cristal batizado. O açúcar mascavo puro tem diferentes tonalidades de cor, devido à época de colheita e a variedade de cana colhida, mas não forma cristais;, alerta.

Luís fala com propriedade. Há uma década ele produz açúcar mascavo que abastece o mercado do DF, além de Goiânia e Rio de Janeiro. A produção é feita na Mano Velho, uma fazenda de 600 hectares em Olhos D;Água, distrito de Alexânia, a 100 quilômetros de Brasília. A produção média anual de açúcar mascavo é de 150 toneladas. A cana-de-açúcar orgânica é a base, também, para a produção de melado e rapadura. Os produtos são embalados no engenho com a marca própria Mano Velho, mas também são vendidos com outros selos, com o rótulo oficial, que garante a rastreabilidade da origem.

O produtor ressalta que a cor branca do açúcar comum não significa um produto de qualidade. Ao contrário. Em se tratando de açúcar cristal, quanto mais branco, mais aditivos químicos possui. A adição dessas substâncias é feita no processo de refinamento, última etapa da fabricação do produto. Nesse processo, o açúcar cristal também perde muitos nutrientes. Nutricionista da consultoria Saúde Ativa, Joana Lucyk explica que, entre as duas opções de açúcar, o ideal é o consumo do mascavo. ;Ele é o açúcar bruto, escuro e úmido. Como não passa por refinamento, suas vitaminas e minerais são conservados. Já o açúcar cristal, por conta do processamento, perde até 90% de seus minerais e vitaminas;, afirma.


Método faz diferença


Há dezenas de variedades de cana-de-açúcar. O que define se elas e seus subprodutos, serão orgânicos é o método de cultivo. No tipo convencional, as plantas retiram os nutrientes diretamente do solo. São usados defensivos químicos ou biológicos, e até orgânicos, para combater os fungos e bactérias. No cultivo orgânico, não existe a adição de produtos químicos. São observados, também, outros princípios, como a obrigatoriedade de adubação do solo com matéria orgânica e o revolvimento do solo. ;O que diferencia mesmo o cultivo é o manejo, mas qualquer que seja o caso, não pode faltar sol e água;, resume Luis Clemente.

Em um sistema de produção agropecuário, o manejo é fundamental. Em se tratando de cultivo orgânico, a preparação do solo, colheita e o manuseio do produto são etapas primordiais para garantir o sucesso do empreendimento. Na fazenda Mano Velho, a adubação é feita pelo sistema de compostagem, uma técnica que transforma restos orgânicos, como sobras de alimentos, em geral, em um composto orgânico rico em nutrientes. ;Produzimos todo o adubo que utilizamos aqui. Fazemos a compostagem com esterco de galinhas e produtos biológicos para ajudar na correção do solo, que é mais fraco no cerrado;, explica o dono da propriedade.

O diferencial para uma produção orgânica de qualidade inclui, também, o uso de recipientes de aço inoxidável, material mais resistente às altas temperaturas e à corrosão, e que pode ser higienizado com mais facilidade. Visando à proteção da população, em geral, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) normatiza o uso de materiais para a fabricação e embalagem dos alimentos. Resolução do órgão proibiu o uso de utensílios de cobre na produção alimentícia. ;Para produzir alimentos orgânicos, a consciência tem que ser total. O cobre solta muitos resíduos que provocam doenças, ao ser submetido a temperaturas acima de 90;C. Por isso, o aço inoxidável é a melhor opção;, enfatiza Luis.