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Especialista em mobilidade defende formas sustentáveis de locomoção no DF

Pela primeira vez em Brasília, o PhD do MIT, estranhou os vazios da capital, as avenidas largas sem pedestres e as ciclovias desconectadas

Para o brasiliense que enfrenta ônibus lotados, sofre com a limitação do metrô, não consegue utilizar bicicleta para se locomover e sente insegurança ao usar o transporte público, o problema da mobilidade urbana se mostra evidente. Mas, e para um especialista em transporte de outro país que acaba de chegar à capital? Como a locomoção é vista e quais são as sugestões para resolver os problemas de forma sustentável? O Correio acompanhou Peter Furth, professor de engenharia civil e meio ambiente da Northeastern University de Boston, em Massachussets, nos Estados Unidos, para saber o que uma das maiores autoridades em assuntos relacionados a trânsito e transportes pensa sobre a estrutura da cidade.

PhD pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), Peter foi convidado a participar de um seminário na Universidade de Brasília (UnB), na manhã de ontem, com objetivo de debater a segurança nas vias. O professor desembarcou na cidade, pela primeira vez, na terça-feira. Do Aeroporto Internacional de Brasília Juscelino Kubitschek, logo quis conhecer a capital, mas não de carro. Em um passeio de bicicleta, ficou encantado com a quantidade de áreas verdes, mas estranhou o vazio.

Além disso, surpreendeu-se com as avenidas largas, mas com poucos pedestres e com ciclovias desconectadas. ;Toda grande cidade no mundo tem um centro cheio de pessoas. É um conceito firmado tê-las no centro e, lá, vê-las caminharem. Mas parece que, aqui em Brasília, as pessoas não caminham mais do que 200 metros;, analisou Peter. O especialista trabalha com dois eixos parecidos, mas com significados diferentes: a segurança no trânsito sustentável e o transporte sustentável.

O primeiro se refere, basicamente, a como as pessoas podem se mover de forma prudente, o que, segundo o professor, é dificultado pelos veículos. Muitos dos projetos de pesquisa de Furth tratam do uso das bicicletas, que incluem o estudo da segurança de ciclovias, o planejamento e a avaliação de uma potencial rede de vias verdes. Quanto aos meios de transporte sustentáveis, ou a mobilidade sustentável, concretizam-se a partir da escolha dos meios, como as bicicletas, as linhas expressas de ônibus, os metrôs e os trens.

O que o especialista reforça é a exclusão dos carros da vivência cotidiana. Para ele, os meios de transportes em grandes cidades devem utilizar o Método ABC, que se resume a ;tudo menos carro; (ABC Transportation ; All But Car). ;Carros deixam a ruas perigosas, exigem muito espaço para estacionar e poluem. É definitivamente a pior opção;, avalia Peter. O professor menciona a gestão do ex-prefeito de Bogotá, na Colômbia, Enrique Peñalosa. Economista e urbanista, Peñalosa construiu um sistema de transporte com foco em ciclovias, sistema de transporte coletivo e manutenção de estradas. E ficou famoso pela frase relembrada por Furth: ;Uma cidade desenvolvida não é aquela onde as pessoas pobres dirigem carro, mas onde as pessoas ricas usam sistema de transporte;.

Mais pedestres


O Correio levou o Peter Furth para conhecer o eixo central de Brasília, as linhas de metrô e algumas quadras idealizadas no projeto original da cidade. No passeio, com olhar e atento, o especialista pontuou diversas sugestões, que, para ele, podem funcionar para melhorar a mobilidade urbana na capital (leia Em avaliação). Para ele, o pedestre deveria ter mais incentivo a fim de aproveitar ;os muitos espaços de Brasília;. ;Para tornar os lugares mais seguros, as pessoas têm de começar a ter o hábito de andar. Os lugares sem iluminação e as ;esquinas cegas; não podem existir. As casas, os prédios e as ruas precisam ter olhos. Na Holanda, 40% das pessoas que pegam trem vão de bicicleta para a estação. Aqui em Brasília, isso pode acontecer também;, conclui.

* Estagiário sob supervisão de Guilherme Goulart



Em avaliação

Sugestões de Peter para a mobilidade de Brasília:


;Se a cidade está crescendo, e as pessoas continuam comprando carros,
os estacionamentos devem cobrar mais caro;


;As ciclovias precisam ser mais conectadas. Algumas parecem inúteis, porque
não há continuidade, e elas param no meio das ruas largas, feitas somente
para veículos;


;Não tem muita lógica
(a distribuição de semáforos e faixas de pedestres na W3,
na altura da 712 Sul).
O pedestre precisa sair da rota dele para
atravessar as faixas e acaba atravessando no
meio da rua;


;O centro da cidade deve ser ;caminhável;. Os brasilienses precisam se
sentir seguros para andar e acessar as estações de metrô, por exemplo;


;As ciclovias devem ser seguras e agradáveis. Brasília precisa ter ciclovias para que as
crianças possam aproveitar, principalmente para que,
no futuro, elas tenham outro tipo de pensamento;


;Enquanto não tem verba para a construção de metrô, linhas expressas
de ônibus podem ser construídas para lugares mais afastados;


;Poderiam ser cobradas taxas de congestionamento, isto é, os motoristas poderiam ser taxados pelo tempo em que ficam presos nos engarrafamentos;