Cidades

Greve de caminhoneiros afeta serviços básicos e alimentação de brasilienses

Mesmo que manifestantes suspendam o movimento ou ações dos governos para desobstruir consigam desmobilizar os caminhoneiros, produtos não serão repostos nem preços cairão de imediato no DF

Renato Alves, Isa Stacciarini
postado em 26/05/2018 08:00
Policiais militares fazem escoltam para saída de um caminhão carregado de combustível da distribuidora do SIA: álcool e gasolina para veículos de segurança pública e saúde
Não há querosene para abastecer os aviões. Voos foram atrasados e cancelados, sem previsão de retomada da normalidade. Os combustíveis acabaram nos postos. Operando com frota reduzida desde ontem, os ônibus do transporte público circulam com 40% neste fim de semana. O estoque de gás de cozinha também se esgotou. Mercadorias perecíveis, como arroz e ovo, estão em falta nos supermercados. Os produtos que restam nas gôndolas são poucos, caros e, às vezes, de qualidade duvidosa, como o tomate, que subiu 160%. Se nada mudar, não haverá água potável a partir de terça-feira. Os efeitos da greve dos caminhoneiros na capital do país vão muito além dos transtornos no trânsito devido ao bloqueio de vias.

Diferentemente do anunciado pelo Governo Federal na noite de quinta-feira, o movimento não só continuou como ganhou adeptos. Em Brasília, taxistas, motoboys, motoristas de van escolar e motoristas de aplicativos se juntaram aos caminhoneiros em piquetes. Também houve apoio de moradores, como mulheres de Sobradinho, que fizeram cachorro-quente para grevistas parados em dois pontos da DF-150. ;Queremos ver se o Brasil acorda. As coisas não estão indo bem e só pioram a cada dia. O aumento no preço do diesel e da gasolina é grande. A gente não esperava que os caminhoneiros parassem o Brasil. Eles estão mostrando que são mesmo o sangue que corre na veia do povo brasileiro;, destacou Eliane Silva, 34 anos, que liderou o mutirão familiar de 10 pessoas. Dona de uma agência de turismo, Eliane suspendeu as atividades da empresa por conta da falta de combustível.

Atendimentos suspensos

Mesmo que chegue a um acordo para encerrar a manifestação ou as medidas tomadas ontem pelo Palácio do Planalto, como a intervenção das Forças Armadas para liberar rodovias e caminhões com combustíveis em distribuidoras, a reposição dos itens no DF, assim como no restante do país, se darão de forma lenta, segundo representantes dos governos e de todos os setores da economia. Antevendo este cenário, a Secretaria de Saúde do DF entrou em plano de contingência para evitar colapso nos atendimentos de urgência e emergência. Os 300 carros administrativos da pasta pararam ontem para evitar o consumo de combustível. Ambulâncias do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) só têm combustível para circular até hoje. As caldeiras dos hospitais têm óleo para fazê-las funcionar até entre segunda e terça-feira.

Além da possibilidade de paralisação do Samu, a Secretaria de Saúde suspendeu, até segunda-feira, o atendimento na atenção primária, as cirurgias e consultas marcadas para o período. Todos os servidores da pasta serão realocados para as emergências de hospitais e das UPAs. O secretário de Saúde, Humberto Fonseca, está preocupado com as 70 ambulâncias do Samu e as 85 dos hospitais que fazem a transferência de pacientes. ;As medidas permanecem até segunda-feira, quando voltaremos a analisar o cenário;, explicou. A partir da noite de hoje, as ambulâncias também entrarão em contingência. Segundo Fonseca, o governo articula o abastecimento desses carros prioritários.

Água sob ameaça

O abastecimento de água potável da capital está ameaçado porque os estoques de produtos químicos usados no tratamento de água nas unidades da Caesb devem durar até terça-feira. O caminhão que traria mais materiais estava retido em Cristalina (GO), a 116km de Brasília, até a noite de ontem. A falta de gasolina também afeta as atividades da companhia. A Caesb determinou o uso prioritário de veículos para serviços considerados emergenciais e essenciais destinados à manutenção e à operação dos sistemas de saneamento básico. De acordo com a empresa, está mantido o rodízio do racionamento de água, em função da crise hídrica.
"Nós não vamos recuar. A nossa luta é para abaixar o preço. Quando fizerem uma lei para abaixar, aí saímos;
Eudenice Nascimento, presidente da Cooperativa dos Transportadores Escolares e Turismo do DF

Coleta de lixo também é afetada

Devido à falta de combustível, o SLU vai alternar os dias da coleta de lixo nas regiões em que o serviço hoje é diário. Só o Plano Piloto manterá o recolhimento todos os dias. Será interrompida a transferência de rejeito das áreas de transbordo do Gama, de Sobradinho e de Brazlândia. A intenção é diminuir o número de viagens ao aterro sanitário. A empresa pública é importante a população colaborar, nesse período, para evitar que as ruas fiquem sujas. A orientação é só entregar o lixo para coleta duas horas antes da passagem dos caminhões.

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