Cidades

Greve dos caminhoneiros entra no 9º dia e ainda afeta a vida do brasiliense

Gabinete de crise criado pelo Executivo local determina a volta às aulas da rede pública e a reabertura das unidades médicas básicas. O abastecimento de alimentos e a circulação de coletivos, porém, podem ser afetados nos próximos dias

Walder Galvão - Especial para o Correio, Isa Stacciarini, Marlene Gomes - Especial para o Correio
postado em 29/05/2018 06:00
Alexsandra não conseguiu imunizar a filha Yasmin, no Centro de Saúde nº1, de Sobradinho:

Mesmo com a retomada das aulas, a reabertura de postos de saúde e a volta do atendimento nas farmácias de alto custo a partir de hoje, a rotina do brasiliense não deve voltar ao normal tão cedo. Botijões de gás são vendidos até 110% mais caros, como em pontos de distribuição da Asa Norte. Além disso, supermercados registram falta de itens básicos, como hortifruti e ovos. Nos postos de combustíveis, as longas filas registradas desde quarta-feira ; por disputa de gasolina a até R$ 9 o litro ; devem se repetir hoje. Os ônibus do transporte público só têm combustível para rodar até amanhã. E, na área de saúde, as ambulâncias do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) só atenderão casos de urgência. Cirurgias de pacientes menos graves seguem interrompidas.

O reflexo nos serviços públicos e no abastecimento do DF é resultado do nono dia de greve nacional dos caminhoneiros. Até o início da noite de ontem, policiais liberaram 221 caminhões-tanque para postos de gasolina, mas a quantidade não foi suficiente para minimizar o tempo de espera nas filas ; algumas chegaram a 6km. Escolas públicas ficaram fechadas. E quem tentou se consultar em postos de saúde ou retirar remédios voltou para casa sem atendimento.

Teresinha de Jesus Ramos, 54 anos, levou a mãe, Maria do Socorro Ramos, 78, ao Centro de Saúde n;1, de São Sebastião, para buscar medicamentos de diabetes e pressão alta que acabaram na sexta-feira, mas encontrou o posto fechado. ;As coisas estão muito difíceis sem combustível;, desabafou Teresinha.

Alexsandra Viana Teixeira, 20, levou a filha Yasmin Viana Santos, 3 meses, para se vacinar. Ela andou com a menina no braço por quase uma hora. Saiu de casa, no Morro da Cruz, em Sobradinho, e só chegou ao Centro de Saúde mais próximo 50 minutos depois. Acompanhada da mãe, Cristiane Assunção Vieira, 43, Alexsandra voltou para casa sem conseguir imunizar o bebê.;O remédio de asma que eu uso nunca tem aqui, só na farmácia popular, mas, para a vacina, não tem jeito, tem de ser aqui;, lamentou a jovem.

No Paranoá, quem procurou um posto de saúde também se deparou com os portões fechados e nenhuma informação sobre a normalização dos atendimentos. Moradora de Sobradinho dos Melos, na área rural de Sobradinho, Maria Lúcia Bispo dos Anjos, 59 anos, voltou para casa sem os remédios que toma para controlar diabetes e pressão alta. ;Todo mês tenho que vir aqui buscar os remédios, mas agora só Deus sabe quando o posto vai reabrir;, lamentou. Moradora da quadra 11 do Paranoá, Maria Matias da Silva, 74 anos, andou quase uma hora, de casa até o centro de saúde. ;Agora vou ter que esperar a minha aposentadoria para poder comprar todos os remédios. O problema é que eu só recebo todo dia 6 de cada mês, ou seja, são mais 10 dias sem os remédios que preciso tomar;, lamentou.

No Centro de Saúde n; 1, de Sobradinho, dos 10 medicamentos receitados pelo dermatologista para um problema crônico na pele, Maria da Conceição Farias da Silva, 37, só pegou um. ;Agora, é outra luta. Os postos não têm os medicamentos e está difícil conseguir a gasolina;, queixou-se.


Transporte


Outra preocupação é com o transporte público. Até agora, os ônibus estão em circulação, porque, no fim de semana, policiais militares fizeram a escolta de caminhões para abastecer a frota. Mas o combustível acaba amanhã, segundo o governo. No entanto, o Executivo local anunciou que, caso seja necessário, o Metrô-DF vai operar com capacidade ampliada nos horários de pico para atender a todos os usuários.

O Serviço de Limpeza Urbana (SLU) informou que a prestação de serviço de coleta e limpeza do DF é feita normalmente, pois os veículos utilizados para o cumprimento das atividades têm prioridade de abastecimento, assim como outros serviços públicos essenciais. Mas a transferência desses resíduos para o Aterro Sanitário de Brasília está suspensa temporariamente.

O gabinete de crise, criado pelo Governo do Distrito Federal (GDF) para acompanhar a crise de abastecimento no país, ainda não calculou os impactos provocados pela paralisação dos caminhoneiros. ;São informações de diversas áreas e ainda estamos vivendo a crise. Então, o nosso foco é trabalhar fortemente para minorar os impactos em Brasília, mas a crise é nacional, e a solução dela está em âmbito federal;, afirmou o governador Rodrigo Rollemberg (PSB).
De sexta-feira a domingo, a Rodoviária Interestadual de Brasília registrou redução de 17 % no número de partidas de ônibus em comparação a um dia normal, segundo o consórcio que administra o terminal.


Ministério Público


Desde o início da crise dos combustíveis na capital, o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) acompanha o caso. O Executivo local repassa a situação por meio de relatórios à Promotoria de Defesa do Consumidor. ;Uma das nossas principais tarefas é monitorar eventuais abusos em relação ao consumo. Essa fiscalização é realizada pelo Programa de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon) e repassada para nós;, esclareceu o promotor Trajano Melo.

As análises dos dados devem ficar prontas com o fim das manifestações, período em que o MPDFT deve levantar os estabelecimentos que tenham funcionado de forma irregular. ;Estamos atentos para evitar que o mercado seja afetado por uma conduta ilegal e de empresas que queiram se prevalecer;, reforçou Trajano.

Entenda o caso


Adesão espontânea
A greve dos caminhoneiros deu início às paralisações em 17 unidades da Federação com 500 pontos de bloqueio. Uma das principais reivindicações da categoria é a redução a zero da carga tributária sobre o diesel, que apresentou aumento constante nos últimos meses por causa da política de preços que a Petrobras passou a praticar, de acordo com as oscilações de preços do mercado internacional. A paralisação no transporte de cargas por todo o Brasil começou em 21 de maio, três dias depois que os caminhoneiros anunciaram o movimento. A princípio, a Associação Brasileira de Caminhoneiros chamou para si a liderança da iniciativa, mas o movimento teve a adesão espontânea, também, de centenas de caminhoneiros autônomos, ocasionando, assim, a maior paralisação na entrega de cargas do Brasil. Centrais de abastecimento de alimentos, postos de combustíveis, hospitais, granjas, escolas e diversos serviços estão prejudicados.


Atenção


Veja o cenário do DF no décimo dia de greve nacional dos caminhoneiros:

; Aulas da rede pública retomadas

; Unidades Básicas de Saúde e farmácias de alto custo reabertas

; Retomada dos atendimentos ambulatoriais nas unidades de saúde

; Cirurgias eletivas (sem gravidades) suspensas

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação