Luiz Calcagno, Sarah Peres - Especial para o Correio
postado em 31/05/2018 06:00
;A preocupação da população é com pão, carne e gasolina.; A fala do presidente do Sindicato do Comércio Varejista do Distrito Federal, Edson de Castro, ilustra o cenário que vários setores do comércio enfrentam. Ele explica que o clima de pânico fez com que o brasiliense parasse de gastar. E isso às vésperas do Dia dos Namorados e do início da Copa do Mundo, quando a expectativa era de um aumento de 12% no consumo. ;Está faltando cliente nas lojas. As pessoas estão voltadas a abastecer o carro e comprar alimentos. A expectativa, essa semana, é de uma queda de 50% nas vendas. Além disso, estoques de roupas de inverno, por exemplo, estão presos nas rodovias;, detalha Edson.
Ainda de acordo com o representante da categoria, há produtos nos shoppings justamente porque a população não está comprando. O presidente da Federação de Bens, Serviços e Turismo do Distrito Federal (Fecomércio), Adelmir Santana, também demonstra pessimismo. ;A greve pegou todo mundo de surpresa. Quando acabar, levaremos duas semanas para normalizar os estoques. Tudo leva a crer que não alcançaremos o aumento de 12% esperado para as vendas do período;, avisa.
O cenário se repete no setor de bares e restaurantes. Rodrigo Freire, presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes e vice-presidente do Sindicato dos Hotéis Bares e Restaurantes (Sindhobar), define a situação como ;desastrosa;. ;O maior problema é que a população está alarmada;, avalia. ;As franquias, que recebem 80% a 90% dos produtos de outras unidades da Federação, estão com dificuldades maiores, pois não podem substituir o que vem de fora pela produção local, mas os restaurantes voltaram a funcionar e as cervejarias locais estão suprindo a demanda que viria de outros estados;, elenca.
Em um restaurante da rede Habib;s no Sudoeste, produtos estão em falta e uma das únicas refeições que saem da cozinha são as esfirras. Perfumarias, lojas de lingerie e de roupas também estão com o movimento afetado. O que resta para a data comemorativa do Dia dos Namorados e para a Copa do Mundo é a insegurança dos comerciantes, que temem não vender.
Na loja do Habib;s da administradora Poliana Santos, 33, parte dos produtos do cardápio está no bloqueio da BR-060 desde 23 de maio. Consequentemente, as vendas estão prejudicadas e o prejuízo pode chegar a R$ 100 mil. Quando as refeições acabam, o jeito é fechar as portas, como ocorreu nos dias 25 e 26 deste mês. ;Estamos pagando um transporte particular do recheio das esfirras, que é uma opção que conseguimos vender, porque a massa é preparada na loja. Só que acaba sendo um gasto a mais, no fim das contas. Os outros produtos, que são congelados ou refrigerados, não conseguimos trazer;, diz.
Em outras lojas da região, o fluxo caiu até 50%, caso da perfumaria onde trabalha a gerente Maria da Conceição Santiago, 55. O prejuízo está próximo de R$ 5 mil. Agora, resta o medo para o Dia dos Namorados, comemorado em 12 de junho. ;Estamos todos assustados, porque ninguém consegue saber como as coisas ficarão até a data;, afirma.
Busca por clientes
Na comercial da 308/309 Sul, o clima da Copa do Mundo ainda não chegou. O que sobra é a esperança de emplacar as vendas na época que antecede os jogos. Para evitar perder mais clientes, uma faixa avisa: as lojas estarão abertas hoje, durante o feriado de Corpus Christi.
O gerente Márcio Macêdo afirma que artigos específicos da Copa estão presos nas estradas. Se o material não chegar a tempo, pode ser mais um prejuízo para a loja, que teve queda de 50% no movimento. ;Estamos tentando manter o ânimo de festa e vamos ornamentar a quadra, para ver se conseguimos trazer o movimento de volta, mesmo em meio a tanto problema na cidade.;
Reflexos na Saúde
A crise no abastecimento preocupa tanto a rede pública de saúde quanto os hospitais privados. A falta de importantes insumos como oxigênio e soro fisiológico levaram o governo e os donos de hospitais a correr contra o tempo para conseguir os produtos. O governo recebeu, na noite de ontem, 39 mil frascos de soro vindos de Goiânia (GO). Quantia que, segundo o secretário de Saúde, Humberto Fonseca, é suficiente para manter a rede pública por 15 dias. Há previsão de mais 39 mil frascos chegando amanhã e um terceiro lote, sem quantidade divulgada, prevista para a próxima semana.
Em relação ao oxigênio, a oferta do produto está desigual entre as unidades públicas. O Hospital Regional da Asa Norte (Hran), por exemplo, só tem o recurso até amanhã. Entretanto, o secretário garantiu que a empresa deve normalizar o abastecimento entre hoje e amanhã. O fornecimento de óleos para caldeiras ; responsáveis pela esterilização de roupas de cama ; também foi normalizado.
39 mil
Número de frascos de soro fisiológico que devem chegar aos hospitais públicos amanhã