Augusto Fernandes, Flávia Maia
postado em 31/05/2018 06:00
Os efeitos da crise de abastecimento gerada pela greve dos caminhoneiros estão distantes do fim. Embora o governo local afirme que não há mais rodovias obstruídas por manifestantes no Distrito Federal, as incertezas pairam sobre os consumidores e fornecedores. O Executivo optou por dar ponto facultativo aos funcionários. Apenas serviços de emergência, como hospitais e delegacias, funcionarão amanhã. A ideia é diminuir o fluxo de carros e evitar deslocamentos. ;Com isso, reduzimos consumo na cidade, dando melhores condições para que possamos voltar à normalidade na segunda-feira;, afirmou o governador Rodrigo Rollemberg.
Na Central de Abastecimento do DF (Ceasa), as repercussões podem durar até a próxima safra. Nos hospitais, adaptações foram feitas para economizar materiais e caminhões com produtos essenciais foram escoltados às pressas. No comércio, o dano estimado é de R$ 92 milhões. Nos postos, falta álcool anidro ; composto necessário para a mistura da gasolina. Na tarde de ontem, três carretas com 100 mil litros do produto chegaram vindas de usinas goianas. Rodrigo Rollemberg informou que, até o fim da semana, serão 2 milhões do ácool anidro entregues, o que vai ampliar a oferta de gasolina em 10 milhões de litros.
A situação mais sensível é a do gás de cozinha. O produto chegou a esgotar nas revendas e os preços foram às alturas. O botijão, que custava de R$ 65 a R$ 89, foi encontrado pelo Procon a R$ 150 e há relatos de consumidores de cobrança de R$ 200. Segundo Rollemberg. Nos próximos dias, chegarão 14,5 mil botijões ao DF. ;Estamos em contato com os fornecedores para não faltar o produto;, disse o governador.
Entretanto, segundo análise do Sindicato das Empresas Transportadoras e Revendedoras de Gás LP no DF (Sindvargas), a quantidade é insuficiente para o abastecimento, uma vez que a demanda diária no DF e no Entorno é de 20 mil botijões. ;Vai continuar caótico. Quatorze mil não supre um dia de demanda, quem dirá o atraso;, comenta Cyntia Moura Santo, diretora do Sindvargas. Ela ressalta ainda que, por falta de escolta, quatro das 13 carretas previstas para chegar nos últimos dias ficaram retidas.
Medo nas estradas
O gás que abastece Brasília vem de refinarias de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo. Segundo Sérgio Costa, presidente do Sindvargas, carretas estão nas estradas que ligam o Distrito Federal aos estados do Sudeste para trazer o produto. No entanto, alguns motoristas enfrentam problemas no trajeto. ;Nos últimos dois dias, três veículos foram apedrejados nos municípios mineiros de Esmeraldas e Paracatu, mesmo com o comboio do Exército. Isso criou pânico aos motoristas, que estão inseguros em continuar o trajeto;, contou.
O presidente pediu mais ajuda às forças federais. ;Nós contribuímos diretamente com a alimentação da sociedade. Além disso, hospitais, asilos, presídios e centros comerciais estão com o abastecimento comprometido. É preciso que seja montada uma estratégia para trazer essas carretas o mais rápido possível;, afirmou Costa.
Josimar Oliveira, 56 anos, é proprietário de uma revenda de gás na Candangolândia. Desde a semana passada, a loja recebeu estoques de botijões apenas duas vezes. Os produtos acabaram em menos de uma hora. ;Em cada um dos dias, entregaram apenas 10 botijões. Tive problemas para atender os clientes;, disse. Quando há estoque disponível, Josimar vende os botijões a R$ 75. Segundo ele, no último sábado, 171 pessoas ligaram atrás do produto. ;A procura está fora do normal. A cada cinco minutos, alguém liga aqui. Eu poderia ter faturado mais de R$ 12 mil se tivesse esse estoque;, contou.
Quem precisa do botijão lamenta a falta do produto. Carlos França, 28, teve que fechar a lanchonete na manhã de ontem, pois o gás havia acabado. ;Não está fácil, e o pior de tudo é que não sei quando vou conseguir comprar os botijões. O mês está no fim, e eu tenho que pagar os meus funcionários. Se o gás demorar a chegar, como vou conseguir dinheiro para isso?;, questionou.
O Procon-DF recomenda aos consumidores que não façam estoque de produtos para evitar alta dos preços e desabastecimento generalizado. Desde sábado, os fiscais dos órgão autuaram quatro revendedoras de gás de cozinha e seis postos de combustíveis. Um posto em Taguatinga foi multado em R$ 294 mil por estar com dupla precificação. Os demais devem explicar à autarquia o motivo dos preços praticados. No entendimento do instituto, valores de gasolina acima de R$ 5 por litro e botijões acima de R$ 100 devem ser justificados.
Para tentar amenizar os preços dos combustíveis, o GDF informou ainda que vai usar como referência de cálculo do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), pelos próximos 15 dias, o valor do litro dos combustíveis praticado pelos postos antes da crise de abastecimento. Um grupo da Secretaria de Fazenda faz o levantamento de preço e calcula 28% de imposto sobre essa referência encontrada no mercado.