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Gêmeos repentistas Laudio e Lauro França chamam atenção na capital

Os gêmeos repentistas chegaram recentemente na capital. Eles buscam apoio para se firmar profissionalmente na cidade

Murilo Fagundes*
postado em 03/06/2018 08:00
Os irmãos encaram o preconceito para mostrar a sua arte de música e literatura, repentes e cordéis
Conhecida por ser uma cidade acolhedora de várias culturas, Brasília recebeu, há cinco meses, dois repentistas que escolheram a capital para chamar de casa. Os gêmeos Laudio e Lauro França, 49 anos, deixaram a Caatinga e a pequena Irecê (BA) e vieram ao Distrito Federal para exaltar uma arte arraigada no sertão nordestino e enaltecedora da cultura brasileira. Longe da família e ainda desconhecidos, os dois se apresentam em transportes coletivos e contam com o apoio dos passageiros para continuar a entoar cordéis e repentes e recitar famosas poesias da literatura.

Todos os dias, os gêmeos repentistas acordam cedo, por volta das 6h. Laudio e Lauro fazem ritos tibetanos, uma série de exercícios também conhecida como rituais da eterna juventude, e preparam a própria alimentação, que inclui um suco de clorofila. Por volta das 7h30, os dois saem de casa, na zona rural de Planaltina, e se deslocam 5km até chegar ao terminal rodoviário da cidade, onde começam a cantar e encantar quem embarca na viagem até o Plano Piloto.

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Mas, antes de o show começar, olhares esquivos e desconfiados rodeiam os irmãos. Alguns pensam tratar-se de vendedores. Outros acham que os gêmeos são pedintes. Às vezes, os motoristas fecham as portas e impedem os cantores de entrar nos ônibus de transporte coletivo. Tudo muda quando o som da flauta reverbera, e quando o toque do pandeiro ressoa. Laudio é o flautista, e Lauro, o pandeirista. Ambos são cantores, mas não escrevem cordéis.

Ligação cultural

A coletânea escolhida pelos gêmeos é vasta e, de forma singular, exalta a cultura brasileira em todas as obras. Os dois percorrem do modernismo, com obras de Carlos Drummond de Andrade, Rubem Braga, Vinícius de Moraes, Manuel Bandeira, Cecília Meireles, e Mário de Andrade, até o romantismo e o parnasianismo, com textos de Castro Alves e Augusto dos Anjos, por exemplo. O regionalismo também é marca registrada dos baianos. Entre as inspirações, Vital Farias, Ivanildo Vila Nova, José Laurentino e Zé Vicente da Paraíba. ;Nascemos na Caatinga, em um pequeno povoado. Quando fomos para Salvador, conhecemos alguns compositores que trabalhavam com a temática da natureza, o que muito nos influenciou. Um deles foi Augusto Jatobá, autor da obra Xangai;, lembra Lauro.

Os cordéis de Lauro e Laudio geralmente tratam da Mata Atlântica e da Floresta Amazônica. Agora, os dois buscam uma obra que honre o Cerrado, bioma que os recebeu há cinco meses. ;A recepção do público brasiliense tem sido muito boa, tanto nos ônibus, quanto dentro das salas de aula, principalmente na Universidade de Brasília, nosso reduto. A capital nos recebe sem censura, então sou muito grato por isso;, conta Laudio. Ele e o irmão têm batido à porta de escolas públicas e particulares da cidade para oferecerem apresentações. Nos coletivos, também divulgam o trabalho artístico e pedem para serem chamados para performances em aniversários.

Os baianos moram de favor na casa de um amigo que os acolheu em Planaltina. Eles se mudaram sem a companhia de familiares, então contam com alguns entraves. ;O desafio de nos afirmarmos como artistas em um lugar onde somos pouco conhecidos é nossa maior dificuldade. Mas encontramos apoio de amigos e isso foi essencial;, diz Lauro. Por se apresentarem em ônibus, Laudio e Lauro também enfrentam a barreira do tempo, inimigo de muitos trabalhadores e estudantes na correria cotidiana. Os passageiros, muitas vezes exaustos, não dão a devida atenção à manifestação artística e, algumas vezes, desmerecem o trabalho. Lauro conta que os dois já escutaram palavras ofensivas. ;Uma vez, um homem mandou a gente ir trabalhar. E a nossa melhor resposta foi o silêncio;.

Mas nada disso ofusca o talento dos irmãos artistas, já que os dois são movidos pelo apoio de quem não deixa o pandeiro e a flauta pararem de tocar. ;Precisamos nos adequar a esse ritmo de capital. Brasília é uma cidade que, por si só, tem um estilo muito formal. Mas a capital não rejeita quem veio de outra cultura. Então, ficamos honrados;, completa Laudio.

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