Jornal Correio Braziliense

Cidades

Oito pré-candidatos ao Buriti respondem questionamentos de jovens eleitores

Temas como educação, cultura e segurança concentram os questionamentos dessa parcela de eleitores


Em um cenário ainda sem favoritos, conquistar o público jovem pode ser um diferencial para os candidatos a governador. Cerca de 359 mil pessoas entre 16 e 25 anos devem ir às urnas em 7 de outubro, segundo o Tribunal Regional Eleitoral do Distrito Federal (TRE/DF). Esse público corresponde a 17,4% do eleitorado da capital federal e forma um grupo com visões e expectativas diferentes sobre como deve ser o próximo chefe do Palácio do Buriti. Para especialistas, os concorrentes precisam melhorar o diálogo com os jovens, tendo em vista a descrença na política.

Educação, cultura, mobilidade, direitos humanos e mercado de trabalho estão entre os receios dos eleitores mais novos ouvidos pelo Correio. A reportagem reuniu seis deles em uma roda de conversa. Os principais anseios levantados durante o debate foram encaminhados aos pré-candidatos ao Buriti.

Alguns pontos discutidos foram a descentralização das políticas públicas e o direito à cidade. Os jovens cobraram ações efetivas voltadas à segurança, à cultura e à educação, mas não só no Plano Piloto. ;O próximo governante deve entender que o DF não é só o centro. A mudança do título de ;Governo do Distrito Federal; para ;Governo de Brasília; já evidencia essa desvalorização da periferia;, acredita o produtor cultural João Paulo Maciel, 25 anos, morador do Gama.

Os jovens divergem sobre o modo de resolver os problemas sociais do DF. Para a estudante de história da UnB Isabela Ramos, 18, é preciso investir em ações a médio e longo prazo. ;Vou esperar um candidato que tenha um projeto de ensino e atenda à demanda dos professores. Todas as outras questões são influenciadas a partir do investimento em educação;, avalia. O auxiliar administrativo Leandro Fernandes, 22, tem um pensamento imediatista. ;Precisamos mudar o necessário e urgente, que é, principalmente, a segurança. Se não estivermos seguros, o comércio será abalado e, assim, todos os campos econômicos;, alega.

Os oito pré-candidatos ao Buriti ainda não conseguiram convencer os eleitores ouvidos pelo Correio. O professor de educação popular Breno Lobo, 21, quer um concorrente que exalte a democracia. ;Só há 26 anos podemos eleger governador. Então, quero que os candidatos enxerguem o povo não como eleitor, mas como ator de políticas públicas. O que vai me atrair é aquele que, de forma efetiva, chame o povo a decidir;, explica.

O professor David Fleischer, do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB), acredita que a descrença surge a partir de diversos escândalos de corrupção nos cenários nacional e local. ;O eleitor está descrente de ver diversos candidatos que respondem a acusações (na Justiça) tentando se reeleger. Até o momento, os pré-candidatos não souberam articular a melhor plataforma para dialogar com o público juvenil;, analisa.

* Estagiário sob supervisão de Guilherme Goulart

A partir da roda de conversa com os jovens, foram levantados cinco temas a serem comentados pelos pré-candidatos ao Palácio do Buriti. Todos responderam às seguintes perguntas:

1. Muitas gestões direcionam o foco ao Plano Piloto. Qual é a importância de descentralizar as políticas e investir também nas demais regiões administrativas?
2. Qual é o seu posicionamento em relação a projetos relacionados ao campo da educação, como o Escola Sem Partido e a reforma do ensino médio?
3. Qual é a importância em manter diálogo efetivo entre o governo e as minorias sociais, como negros, indígenas e o público LGBTTT?
4. A cultura pode ser uma das prioridades do governo?
5. Após a conclusão dos ensinos médio e superior, o jovem enfrenta dificuldades em conseguir o primeiro emprego. Como resolver o problema?


Alexandre Guerra (Novo)
1. Percebemos que há uma necessidade de maior atuação nas satélites. Se comparamos, por exemplo, a média de homicídios no Plano Piloto com o resto do DF, vemos uma diferença absurda.
2. O aluno está na escola para aprender. Acho que temos de incluir princípios e valores de cidadania, mas não com viés partidário. Sobre a reforma do ensino médio, sugiro a possibilidade de se escolher as matérias e a inclusão de áreas técnicas, para preparar os nossos jovens para o mercado de trabalho.
3. É um tema importante e precisa estar na pauta de discussão da democracia no Brasil. Somos um partido liberal e defendemos a liberdade das pessoas.
4. Cultura é um fator fundamental para o desenvolvimento e tem de estar inserida dentro da educação, como parte do aprendizado. Não podemos deixá-la tão dependente do Estado. É importante que a cultura venha também da iniciativa privada e que seja vista como um negócio.
5. Precisa ser feito um plano de desenvolvimento econômico para o DF aumentar a oferta de emprego. A iniciativa privada tem de ser incentivada, temos de atrair empresas e investimentos para cá, para gerar renda e emprego.


Alírio Neto (PTB)
1. A nossa proposta é transformar cada prédio de administração regional em um grande prestador de serviços para a população, como se fosse um Na Hora. Queremos transformar as cidades-satélites em mais cidades, e menos satélites
2. Acho que o papel da educação não deve ser ideológico ou tendencioso, mas informativo. Sobre a reforma, eu sou totalmente favorável ao ensino profissionalizante nas escolas.
3. Não só com as minorias, mas com toda a sociedade. Acho que o governador tem de sair de dentro do Palácio (do Buriti), onde ele acha que está tudo bem com a sociedade, e ir dialogar com o público.
4. É primordial, principalmente quando se fala em investir em cultura nas satélites, pois temos o costume de valorizar apenas o feito no Plano Piloto. 5. Vamos acabar com isso, democratizando e socializando o acesso a recursos para a cultura.
Precisamos valorizar o setor produtivo para gerar mais empregos. Quero transformar Brasília na capital da energia solar, abrindo oportunidades para os jovens trabalharem nessa área mais tecnológica.


Eliana Pedrosa (Pros)
1. Percebemos que quem está mais distante está menos assistido. Quero trabalhar descentralizando e priorizando os investimentos de ações nas áreas mais periféricas.
2. Apoio integralmente o Escola sem Partido, pois o espaço escolar é para desenvolver a criticidade, a capacidade de o aluno enxergar o mundo e fazer análise. Não é permitido empurrar só uma ideologia. A reforma do ensino médio retoma os cursos técnicos e dá oportunidade de os jovens se prepararem para uma profissão.
3. É muito fácil você ser estimulado a conversar com aquilo que representa a maioria, mas não podemos desconhecer nunca as minorias, que também são cidadãos, pagam seus impostos e, acima de tudo, são seres humanos.
4. Muito importante. Vim de uma família pobre e lembro quando um maestro foi convidado pelo diretor para nos mostrar o som de cada instrumento. Aquilo abriu os meus horizontes, e é isso que a cultura faz: quebra fronteiras.
5. Precisamos colocar profissionais de diversas áreas palestrando nas escolas para abrir possibilidades. Muitos querem ser médicos, advogados ou engenheiros, mas há uma infinidade de profissões que eles não conhecem e que há muito emprego, como as voltadas ao agronegócio, por exemplo.


Fátima de Sousa (PSol)
1. Temos de proporcionar o direito à cidade e cuidar de todas as 31 regiões do DF, cada uma na sua potencialidade. Faremos rodas de diálogo nessas cidades para ouvir quais são os reais problemas de cada um.
2. Escola sem partido não existe, é uma tese incivilizada. Nós seguiremos na defesa de uma escola que problematize a vida real. Como professora, acredito que a reforma do ensino médio foi conduzida de forma autoritária sem a presença da comunidade estudantil. Precisa ser revista.
3. Importantíssimo. São grupos que ficaram de fora das políticas públicas por séculos. Queremos cuidar das pessoas. A agenda dos direitos humanos será prioritária na nossa gestão.
4. Cultura tem de ser o ar que a cidade respira. Saúde e cultura são relacionadas. Queremos investir nas mais diferentes expressões culturais, desde a abertura do Teatro Nacional até o investimento na periferia, um celeiro de talentos.
5. A questão do primeiro emprego é prioritária. Podemos transformar o Centro Administrativo, em Taguatinga, em uma universidade profissionalizante do povo. O Estado tem de se colocar como mediador no crescimento das empresas pequenas e médias, não como dificultador.


Izalci Lucas (PSDB)
1. A nossa proposta é descentralizar a gestão. Cada região administrativa terá a maior autonomia possível, que vai desde o aspecto econômico, com pessoas tendo emprego nas cidades onde moram, até a possibilidade de trabalhar e ter lazer.
2. Há uma distorção sobre o entendimento do Escola Sem Partido. O objetivo é que não haja só um partido, mas o pluralismo de ideias. Temos de discutir política na escola de forma ampla. A reforma do ensino médio é fundamental. Precisamos transformar o conhecimento em geração de emprego.
3. Acho que temos de dialogar sempre, mas essas cotas existem por falta de uma educação de qualidade. O meu pai era vigia e a minha mãe, merendeira. Eu estudei e consegui, porque tinha escola pública de qualidade. Cota é importante, porque estamos há anos sem dar igualdade de oportunidades.
4. É importantíssimo. Não tem nada mais barato para o governo do que investir em cultura, esporte e lazer. Na prática, isso é falta de planejamento. Precisamos de união para fazer uma política de Estado.
5. As nossas empresas foram embora e não atraímos novas. Estamos fazendo algumas oficinas e chamando as universidades, pois não adianta formar jovens para mercados que não existem. Temos de preparar o aluno para aquilo de que o mercado precisa.


Jofran Frejat (PR)
1. O Distrito Federal não pode ser dividido em municípios. As administrações precisam ter mais autonomia, e as pessoas que moram naquela região devem estar dentro delas. As mudanças têm de surgir a partir da Câmara Legislativa.
2. Não vejo por que colocar partido em escola, mas é preciso discutir política. Quanto à reforma, da maneira que está, muitos jovens terminam o ensino médio e acabam se tornando praticamente pessoas analfabetas em determinados assuntos.
3. Eu não vejo dificuldade em ouvir as minorias. Sou médico. A minha função é cuidar de gente, ouvir as queixas para, depois, dar diagnóstico e tratamento. A mesma coisa com relação à política. Preciso saber quais são as necessidades para, depois, dar um treinamento.
4. Qual é o país que vive sem ter definição cultural? Quando não se tem cultura, há um desrespeito ao legado histórico. Teatro Nacional fechado há anos. Com isso, deixamos de trazer escritores, personalidades.
5. Pelo tombamento, não podemos ter indústrias, mas podemos investir em tecnologia. Os impostos altos estão fazendo as empresas saírem de Brasília e se instalarem em Minas, Goiás. Com isso, há menos empregos. Os bancos oficiais não estão funcionando como banco de fomento e, daí, há o desemprego.


General Paulo Chagas (PRP)
1. O papel do governo é fiscalizar a liberdade dada aos administradores regionais e cobrar deles o resultado almejado pelos cidadãos. O governador não pode ser omisso, deve agir com planejamento centralizado e execução descentralizada.
2. Concordo com o Escola Sem Partido, que é simplesmente uma coletânea de leis que existem. Tem de existir uma orientação geral e não ideológica do professor. A reforma do ensino médio padroniza e equaliza o nível dos alunos para que eles tenham oportunidades iguais.
3. Eu não entendo que deva haver privilégios para ninguém. O governo deve estar aberto aos segmentos da sociedade. Não é possível fazer uma seleção dos grupos. Vivemos em uma democracia e todos são iguais perante a lei.
4. É importante o investimento no sentido popular do que é cultura. Não concordo com o incentivo a novas manifestações que ainda não viraram cultura. Algumas delas são nefastas. Os valores cristãos estão nas raízes do Brasil, mas vêm mudando ao longo dos 500 anos e sofrendo uma degradação que visa a destruí-los.
5. Eu encaro com muita preocupação a falta de oportunidades no mercado de trabalho para os recém-formados. O DF não tem indústria. Não é o Estado que deve ofertar empregos, mas as empresas. Quanto menor o Estado for, menos tira da sociedade.


Rodrigo Rollemberg (PSB)
1. A Lei Orgânica da Cultura que aprovamos traz um Plano de Cultura em que se estabelece a meta de ações descentralizadas. Demos continuidade a obras que haviam sido interrompidas.
2. Entendemos que a escola não pode ser instrumentalizada para a imposição de qualquer posicionamento ideológico único, mas plural, permitindo abordagens amplas. Quanto à reforma do ensino médio, trabalhamos na proposição de um currículo que contemple os anseios dos nossos jovens.
3. Nos últimos anos, desenvolvemos um conjunto de ações e políticas afirmativas voltadas para grupos historicamente excluídos e em situação de vulnerabilidade. O diálogo e a criação de políticas específicas para esses grupos são fundamentais.
4. Investimos esforços na aprovação de leis que garantem o correto investimento na cultura por qualquer governo. Investimos em políticas estruturantes e não apenas em eventos, ou seja, na possibilidade de que as pessoas criem trabalhos, projetos e empresas e de que dependam cada vez menos de verba governamental.
5. Além do estímulo à autonomia proporcionada por outros cursos, por meio do #BoraVencer Profissionalizante, a Secretaria da Criança tem conseguido inserir vários jovens no mercado de trabalho por meio de qualificação de qualidade.