Isa Stacciarini
postado em 05/06/2018 06:00
A poucos dias para o início da Copa do Mundo na Rússia e a comemoração do Dia dos Namorados, o comércio local sofre com a falta de entusiasmo da clientela. A situação não parece melhor mesmo com o fim da greve nacional dos caminhoneiros, que afetou o abastecimento de combustíveis e alimentos em todo o Distrito Federal. A reposição de mercadorias e produtos deve demorar 15 dias. Antes do reflexo da paralisação nos serviços básicos, a expectativa de vendas dos comerciantes e a previsão de movimento em bares e restaurantes era de crescimento em torno de 11% a 12% para junho, em razão da coincidência das duas datas. Mas, agora, lojistas relutam e fazer previsões.
Há quem diga que a expectativa de vendas é animadora. Outros, porém, estão preocupados com a baixa no movimento. Nos shoppings, a opção é atrair os consumidores com promoções e atrativos, como sorteio em compras e preço único do estacionamento aos fins de semana. Mas as lojas estão com prateleiras cheias de produtos e pouca clientela. No clima do mundial, os centros comerciais também investem na decoração em verde e amarelo, na tentativa de animar torcedores.
Para o Dia dos Namorados, muitos casais não esperam trocar presentes. Alguns, mais otimistas, só vão festejar a data com a troca de lembrancinhas. É o caso dos militares Douglas Brasil, 25 anos, e Irene Dayane Rodrigues, 23. Oficialmente juntos há seis meses, eles pretendem comemorar. ;Independentemente do valor, o que vale é o simbolismo e a lembrança;, ressalta Douglas. Para Irene, a intenção é celebrar o amor. ;Tem que ter um jantar, algo assim. Não é legal passar em branco;, reforça.
Quem também faz questão de não passar a data em branco são os recém-casados Rai Negreiros, 40 anos, e o marido, Junior dos Santos, 46. Como o aniversário do educador físico é em 12 de junho, eles unem a data para também fazer uma comemoração a dois. ;Dei um tênis e uma camiseta para ele de aniversário. O presidente do Dia dos Namorados é segredo;, brinca a recepcionista. Para Junior, o que vale é a lembrança. ;Esses momentos fazem a diferença, mas o que importa mesmo é o carinho, o respeito e a companhia do dia a dia;, acrescenta.
Mas, diferentemente deles, a advogada Maria Angélica de Oliveira, 37 anos, e o marido João Vitorino de Farias, 53, não vão trocar presentes no Dia dos Namorados. Em datas como aniversários, eles também limitaram o valor a R$ 50. ;Com essa insegurança que a gente vive no país, o momento é de economia;, pondera João.
Mundial de futebol
Para a Copa, a opção dos mais jovens e de famílias é reunir a turma na casa de amigos e parentes para economizar. Colegas de trabalho, Diego Pereira, 27 anos, Djaniel Araújo, 32, e Patrick Macedo, 31, não pretendem gastar. Eles trabalham nos dias de jogos durante a semana e aos sábados e domingos devem assistir as partidas em casa. ;Como não bebo, em casa dá para economizar. Diminui os gastos na ida até o restaurante, na permanência e no próprio consumo, porque em alguns locais uma água custa R$ 6;, detalha Djaniel.
Além de querer poupar, Diego não está entusiasmado com o desempenho da Seleção. ;Para mim, a Copa deixou de ser algo ligado ao patriotismo e virou muito mais marketing. É um evento, hoje, voltado para o dinheiro;, acredita. Com a crise política e econômica que o país atravessa, Patrick também não pretende comemorar. ;Vou fazer o mínimo possível, porque a grana está curta;, afirma
As amigas Patrícia Silva, 25 anos, e Andreza Oliveira, 21, também estão desanimadas. Para Patrícia, com a crise que o país atravessa não há clima de comemoração. ;Tantas outras coisas mais sérias estão acontecendo que não tenho ânimo para a Copa. Em 2014, a empresa até fez uma camiseta e tinha todo aquele espírito esportivo, talvez pelo fato de o evento ter sido no Brasil. Mas, esse ano, é diferente;, destaca. Andreza também não espera fazer compras em razão do mundial. ;Não gasto dinheiro com isso. Para mim, não faz diferença;, reforça.
Desânimo
Presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Distrito Federal (Fecomércio), Adelmir Santana não tem dúvidas do impacto da greve dos caminhoneiros no comércio. ;Antes disso, as pessoas e os empresários estavam entusiasmados, porque a Copa coincidia com o Dia dos Namorados, mas, agora, vemos desânimo, parcimônia e preocupação dos comerciantes;, desabafa.
Em meados de maio, uma pesquisa feita pela Fecomércio demonstrava que enquanto os empresários esperavam vender produtos com preço em torno de R$ 120, os consumidores estimavam gastar até R$ 150 por mercadoria. ;O valor informado pelos clientes era até maior do que a expectativa de gasto. Mas, como o brasiliense deixa tudo para a última hora, ainda esperamos alguém se animar, festejar e comprar. Contudo, sem dúvida, houve um forte impacto. Com o resultado do Brasil no jogo de amistoso domingo, esperamos que possa influenciar as pessoas na compra de eletroeletrônicos, artigos esportivos e enfeites;, analisa.
Sócio proprietário de uma loja de perfumaria, Alan Madeira conta que por causa da diminuição de clientes, a cota diária de vendas diminuiu. ;Já não estávamos com uma boa expectativa para o Dia dos Namorados por causa da própria crise econômica e política que o Brasil atravessa, mas, no ano passado, tivemos uma boa reação. Contudo o cenário da greve dos caminhoneiros reduziu muito o movimento do shopping. Acredito que houve uma queda em torno de 30%. A própria praça de alimentação está mais vazia;, observa.
Gerente de uma loja de acessórios femininos, Janiele Cristina da Silva, 32 anos, estima um prejuízo em torno de 50% para o Dia dos Namorados. Antes da greve dos caminhoneiros, a previsão de bater a meta para o mês de junho era de aproximadamente 90%. Agora, ela estima que as vendas devem atingir até 40% da projeção. ;Ano passado, nesse período, a procura já estava bem maior. Se continuar assim, o prejuízo vai ser grande;, lamenta.
Prejuízo elevado
Saiba mais
Prejuízo elevado
Com a greve dos caminhoneiros, bares e restaurantes tiveram um prejuízo de pelo menos R$ 80 milhões desde o início da paralisação, em 19 de maio. Segundo a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), a redução do movimento representa de 20% a 30% do faturamento previsto para o mês de maio. O principal problema foi a falta de gás de cozinha, mas os estabelecimentos franqueados tiveram um problema maior porque 80% a 90% dos produtos vêm de fora do DF e em alguns locais não tinha nem mesmo pão para fazer o sanduíche.
A previsão da Abrasel é que, considerado o setor de entretenimento, que inclui hotelaria, transporte e eventos, o prejuízo tenha chegado a R$ 220 milhões.