Cidades

Agefis mira mais quatro painéis irregulares na área central de Brasília

Depois da remoção de dois anúncios publicitários, um deles no Setor Bancário Sul, a Agefis dará continuidade à operação de retirada de publicidade na área central de Brasília. Donos das estruturas terão de cobrir os gastos com mão de obra e equipamentos

Augusto Fernandes, Isa Stacciarini
postado em 06/06/2018 06:00
Ate a tarde de ontem, restavam 72 das 171 peças de painel de LED no SBS
Depois da retirada de dois anúncios de publicidade em fachadas de edifícios do Setor Bancário Sul (SBS), o cronograma do GDF segue para a remoção de outras quatro estruturas. A Agência de Fiscalização do Distrito Federal (Agefis) informou que a ação segue no SBS e no Setor Comercial Sul. Agora, técnicos calculam os gastos da operação que começou sábado e tinha expectativa de acabar ontem (leia Entenda o caso). Até as 16h, das 171 peças do painel de LED pertencente ao site Metrópoles, 99 haviam sido retiradas. Cada placa pesa 40kg e mede 1,2m de largura por 1,2m de altura.

Os custos de mão de obra e de uso de equipamentos, como guinchos, serão repassados aos donos dos painéis publicitários. Ao fim da ação, a Agefis faz um levantamento do que foi usado e das horas gastas. Depois, a agência envia um ofício ao Departamento de Trânsito (Detran) e ao Corpo de Bombeiros para que cada órgão também faça cálculos sobre a estrutura empregada na operação. Depois, todos os custos são somados e cobrados dos responsáveis.

[SAIBAMAIS]Além da remoção do portal de LED do site Metrópoles, de propriedade do senador cassado e empresário Luiz Estevão, que cumpre pena de 26 anos no Complexo Penitenciário da Papuda, técnicos retiraram uma estrutura de lona da Embratel. A empresa de telecomunicações não tinha licença para instalar o anúncio no local e descumpriu notificação anterior. A publicidade ainda obstruía janelas.

A remoção do painel segue a Lei n; 3.035/2002. Promotora de Justiça da Promotoria de Defesa da Ordem Urbanística (Prourb), Marilda Fontinele disse que a publicidade no Plano Piloto pode ser feita, ;desde que os meios de propaganda não comprometam as quatro escalas-objeto de tombamento de Brasília: monumental, residencial, gregária e bucólica;. ;A ideia do tombamento é preservar a cidade na concepção original. Quando qualquer um desses instrumentos é violado, a cidade é prejudicada;, comentou.

Preservação

Professor de psicologia da Universidade de Brasília (UnB) e pesquisador de trânsito, Harmut Gunther acredita que as publicidades feitas para atrair a atenção do público podem desviar o foco do motorista. ;Se o condutor está a 60km/h e, por um segundo, ele desvia o olhar e avança 20m, corre o risco de não ver um pedestre, um animal que passa à sua frente ou qualquer outro obstáculo que ele perceberia se estivesse em atenção total ao trânsito;, explica.

Presidente do Conselho Comunitário da Asa Sul, José Daldegan reforçou a importância da retirada das publicidades. E comentou que ;Brasília tem muita coisa fora dos planos diretores e também do plano original de Lucio Costa;. ;Aspectos como outdoors despadronizados, publicidades em áreas residenciais e quiosques em qualquer endereço minam a harmonia da cidade;, alertou.

Para ele, os traços urbanísticos da capital federal precisam ser mantidos. ;Brasília necessita de preservação. É uma cidade única no mundo. Não dá para transformá-la em uma cidade qualquer. Temos uma capital com 58 anos e que, aos poucos, está sendo estragada;, destacou. ;Vejo a situação com preocupação e tristeza. Preocupação, porque tende a piorar, e tristeza, porque está difícil de reverter;, lamentou.

A União Internacional dos Arquitetos (UIA, sigla em inglês) emitiu nota sobre o assunto. No texto, a entidade destaca que o problema não é ;a existência da propaganda, mas o seu descontrole;. A UIA se juntou ao Instituto dos Arquitetos do Brasil no DF (IAB/DF) e ao Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil no DF (CAU/DF), que também se posicionaram a respeito do tema. Segundo a UIA, o excesso de comunicação visual promove o desconforto ;espacial e visual daqueles que transitam por esses locais; e ;enfeia as cidades modernas, desvalorizando-as e tornando-as um espaço de promoção do fetiche e de trocas comerciais;.

Entenda o caso

Ameça ao patrimônio

A retirada de painéis publicitários instalados na fachada de edifícios do Setor Bancário Sul começou no sábado. A Agefis identificou a presença de cinco engenhos de propaganda em lona e um painel digital proibidos pela Lei n; 3.035/2002, do Plano Diretor de Publicidade. A norma estabelece que as propagandas fixadas em edifícios só podem conter informações sobre o prédio, empresas, entidades ou órgãos nele instalados. Para especialistas, a publicidade visual ameaça o título de Patrimônio Cultural da Humanidade, concedido pela Unesco. No sábado, a empresa Metrópoles interpôs pedido de liminar para suspender a retirada do painel sob a alegação de que tem licença da Administração Regional de Brasília e de que é locatário do 16; andar do referido edifício. A desembargadora Ana Maria Duarte Amarante Brito negou o pedido.



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