A anemia falciforme levou Elvis Magalhães a precisar de transfusão sanguínea por 38 anos. Recebeu sangue a cada 40 dias durante sete anos. Hoje, aos 51 anos, não passa pelo procedimento, graças a um transplante de medula óssea. Mas, mesmo curado, participa de projetos e campanhas que incentivem a doação. ;Tenho gratidão total em relação às pessoas que me ajudaram, certeza que se não fossem essas doações, não teria chegado à fase adulta. Infelizmente, muita gente ainda passa por isso;, ressalta Elvis, coordenador-geral da Associação Brasiliense de Pessoas com Doença Falciforme (Abradfal).
Uma doação sanguínea pode ajudar até quatro pessoas. Para celebrar o ato, é comemorado em 14 de junho o Dia Mundial do Doador de Sangue. Em Brasília, o ponto de coleta vinculado à Secretaria de Saúde é a Fundação Hemocentro de Brasília (FHB). A rede hospitalar da capital faz, em média, 192 transfusões por dia. A maior parte das pessoas que precisa do procedimento tem câncer, é paciente de cirurgia de grande porte ; como as cardiológicas e os transplantes ; ou vítima de trauma, como ferido em acidente de trânsito. No DF, o período de seca e de férias escolares, que vai de julho a setembro, é o que mais demanda doadores.
Para preservar a saúde do doador e garantir a qualidade do sangue coletado, o Hemocentro de Brasília segue uma série de requisitos definidos pelo Ministério da Saúde (leia quadro). Em 2017, algumas restrições impediram 24% dos candidatos de doar temporariamente. Entre os motivos mais comuns estava a anemia (10,6 %), causada pela deficiência de ferro no organismo. Para identificar outros fatores que interferem na doação de sangue, o Hemocentro submete o pretenso doador a um questionário com 43 perguntas.
Eficácia
A hematologista Margarete Barbosa Daldegan explica que a doação e a transfusão de sangue são cada vez mais eficazes e seguras, devido ao avanço dos estudos e da tecnologia. ;A doação de sangue permite tratar doenças diversas. Pessoas com doenças hereditárias podem alcançar uma boa sobrevida e ter qualidade de vida que permitem evoluções nos estudos e atuação no mercado de trabalho;, ressalta.
As transfusões surgiram a partir de experimentos com animais. Entre seres humanos, foram realizadas na tentativa de salvar mulheres que tinham hemorragia no pós-parto. Professor de biomedicina do UniCeub, Milton Rego de Paula Junior lembra que, até chegar ao cenário atual, houve inúmeras experiências. Em uma delas, considerada a principal, descobriram-se as incompatibilidades sanguíneas. ;Apesar de ainda ter mitos e conceitos equivocados em relação à doação, é um procedimento rápido e seguro;, garante o especialista.
Manuella Alves, 9 anos, teve leucemia e precisou de doação para transfusão porque as plaquetas e hemácias dela estavam baixas, devido a um câncer. ;É importante que quem é saudável faça doação de sangue e medula, porque isso ajuda as pessoas e salva vidas;, destaca a menina. Após a cura da doença, Manu, como gosta de ser chamada, conta, para quem quer ouvir, a sua história, para incentivar outras pessoas que têm o mesmo problema a não desistir de lutar contra a doença.
Jovens
Uma das tarefas de uma gincana realizada pelo Centro Educacional (CED) 2 do Guará esta semana envolvia a doação de sangue. Ganhava mais ponto a equipe que conseguisse mais doadores. A estudante Eduarda Santos, 19 anos, sempre teve vontade de ser doadora, assim como o pai e o avô. ;É a primeira vez que venho ao Hemocentro para doação e pretendo vir outras vezes. É um ato de amor. A iniciativa da escola é um incentivo;, comentou a jovem, que ajudou a marcar pontos para o time da escola. Outra que cumpriu a missão é Rafaela Silveira, 16 anos. Ela lembou do avô, que precisou de transfusão. ;Os meus pais autorizaram (a doação) sem pensar duas vezes. Sempre tem gente precisando e eu pretendo ser doadora frequente;, afirmou a adolescente.
Em 2017, menos de 1% dos doadores que compareceram ao Hemocentro de Brasília tinha entre 16 e 17 anos. Por isso, a instituição criou um projeto para incentivar a doação de sangue de jovens a partir dos 16 anos. Ele leva a centros de ensino público e particular informações sobre as etapas da doação de sangue, as condições básicas exigidas do doador, os motivos mais comuns de impedimento e até como os componentes do sangue são usados. O Núcleo de Captação do Hemocentro visitou 33 escolas desde o início do ano. Na reunião com professores e coordenadores pedagógicos, também são discutidas formas de abordagem do tema da doação de sangue em sala de aula e apresentadas sugestões de dinâmicas entre os alunos.
O bancário Wilard Familiar Júnior, 43, doou sangue quatro vezes no Hemocentro. ;O meu pai vai passar por uma cirurgia e vai precisar de transfusão. É um ato de amor, não só pelo meu pai. Vim outras vezes por querer ajudar alguém, seja quem for. Estou um pouco ansioso, não gosto de agulha, mas, mesmo assim, vim doar;, observou Wilard, que, apesar do medo, promete voltar muitas outras vezes ao Hemocentro.
Faça uma boa ação
Quem pode doar
Confira as condições básicas para doar a sangue
- Ter idade entre 16 e 69 anos (que tem menos de 18 anos deve apresentar o formulário de autorização e cópia do documento de identidade com foto do pai, mãe ou tutor/guardião);
- Pesar mais de 50 quilos e ter IMC maior ou igual a 18,5 (descontar o vestuário);
- Não estar em uso de medicamentos;
- Dormir ao menos seis horas, com qualidade, na noite anterior à doação;
- Não praticar exercícios físicos nas 12 horas anteriores à doação;
- Não ingerir bebida alcoólica nas 12 horas anteriores à doação;
- Não fumar duas horas antes da doação.
Onde e quando
O Hemocentro fica no Setor Médico Hospitalar Norte, Quadra 3, Conjunto A, Bloco 3, na Asa Norte e funciona de segunda-feira a sábado, das 7h às 18h. O Hemocentro oferece serviço gratuito de transporte para grupos de no mínimo 10 pessoas e que esteja em qualquer localidade do Distrito Federal. Basta entrar em contato pelos telefones (61) 3327-4413, 3327-4447, 99136-2495 ou pelo e-mail servicosocial@fhb.df.gov.br.* Estagiária sob a supervisão de Renato Alves